Ex-líder são-tomense detido pede transferência para hospital
Lusa
28 de novembro de 2022
Delfim Neves, detido em São Tomé após um assalto ao quartel do exército, pediu a transferência para um hospital, por motivos de saúde. O ex-líder do Parlamento está sob condições precárias, diz a sua defesa.
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A informação foi avançada esta segunda-feira (28.11) pela defesa de Delfim Neves. O advogado do ex-presidente do parlamento são-tomense disse ter solicitado no sábado que o seu cliente fosse levado a instalações hospitalares, mas sem resposta 48 horas depois.
"Mandaram-nos aguardar", disse o advogado, que criticou as "condições deploráveis" em que Delfim Neves está detidonas instalações da Polícia Judiciária, para onde foi transferido ao final da tarde de sexta-feira, depois de ter passado todo o dia no quartel militar.
"Durante todos estes dias, desde dia 25, Delfim Neves está a dormir numa cadeira. Não há colchão, esteira, nada", descreveu Hamilton Vaz.
Delfim Neves, que foi submetido há uns meses a uma cirurgia nas costas e sofre de hipertensão, recebeu assistência médica porque tinha "os pés a inchar e a glicemia e tensão com alterações fortes", afirmou, indicando existir um relatório médico que "recomenda que ele não se pode manter" naquelas condições.
Detenção
Delfim Neves, que terminou no início do mês o seu mandato como presidente da Assembleia Nacional de São Tomé e Príncipe na sequência das eleições legislativas de 25 de setembro, foi detido às primeiras horas da manhã de sexta-feira (25.11), na sua casa, após ter sido alegadamente identificado como mandante do assalto ao quartel das Forças Armadas, que decorreu na madrugada de sexta-feira e em que morreram três dos quatro assaltantes e um outro alegado mandante, Arlécio Costa.
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O tribunal de Instrução Criminal já começou a ouvir os detidos na sequência do ataque - 12 militares e quatro civis, segundo o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, brigadeiro Olinto Paquete.
A equipa de advogados fez, no sábado, um pedido para que Delfim Neves pudesse ser "assistido numa instalação hospitalar, onde uma equipa médica poderia fazer o seguimento" da situação clínica.
"Esse pedido foi encaminhado para os procuradores, que indicaram que seria remetido à juíza" que está a conduzir os interrogatórios, mas até à tarde de segunda-feira, o requerimento não tinha tido resposta, indicou Hamilton Vaz.
Sociedade civil pede investigação
O ataque foi classificado pelas autoridades são-tomenses como "uma tentativa de golpe de Estado" e o exército já prometeu uma investigação às condições em que morreram os detidos. Portugal está a colaborar com a justiça são-tomense, tendo enviado uma equipa com elementos da Polícia Judiciária e do Instituto de Medicina Legal.
A sociedade civil são-tomense pediu hoje aos parceiros de cooperação uma "investigação internacional urgente" sobre o "triste episódio" do ataque ao quartel militar, na sexta-feira, em que morreram quatro pessoas, alegadamente após "agressão e tortura".
Num comunicado, a Federação das Organizações Não-Governamentais (FONG) em São Tomé e Príncipe condena de modo "veemente" "esta e todas as tentativas forjadas com vista à subversão da ordem pública por via da violência".
As organizações destacam que São Tomé e Príncipe "deu uma vez mais" um "exemplo de democracia em África" nas eleições legislativas de 25 de setembro, em que a Ação Democrática Independente (ADI), de Patrice Trovoada, venceu com maioria absoluta, formando um governo que está em funções há duas semanas.
Golpes de Estado em África: Um mal endémico
Em menos de um ano, o continente africano viveu oito golpes e tentativas de golpe de Estado. A maior parte aconteceu na África Ocidental, região do continente mais fértil para as intentonas. Não há fator surpresa.
Foto: Radio Television Guineenne/AP Photo/picture alliance
Níger: Tentativa de golpe fracassada
A tentativa de golpe de Estado aconteceu a 31 de março de 2021, dois dias antes da tomada de posse do Presidente Mohamed Bazoum. Na capital, Niamey, foram detidos alguns membros do Exército por detrás da tentativa. O suposto líder do golpe é um oficial da Força Aérea encarregado da segurança na base aérea de Niamey. O Níger já sofreu 4 golpes de Estado: o último, em 2010, derrubou Mamadou Tandja.
Foto: Bernd von Jutrczenka/dpa/picture alliance
Chade: Uma sucessão com sabor a golpe de Estado
Pouco depois do marechal Idriss Déby ter vencido as presidenciais, morreu em combate contra rebeldes. A 21 de abril de 2021, o seu filho, o general Mahamat Déby, assumiu a liderança do país, sem eleições, nomeando 15 generais para o Conselho Militar de Transição, entre eles familiares seus. Idriss governou o Chade por mais de 30 anos com mão de ferro e o filho dá sinais de lhe seguir os passos.
Foto: Christophe Petit Tesson/REUTERS
Mali: Um golpe entre promessas de eleições
O coronel Assimi Goita foi quem derrubou Bah Ndaw da Presidência do Mali a 24 de maio de 2021. Justifica que assim procedeu porque tentava "sabotar" a transição no país. Mas Goita prometeu eleições para 2022 e falou em "compromisso infalível" das Forças Armadas na defesa da segurança do país. Pouco depois, o Tribunal Constitucional declarou o coronel Presidente da transição.
Foto: Xinhua/imago images
Tunísia: Um golpe de Estado sem recurso a armas
No dia 25 de julho de 2021, Kais Saied demitiu o primeiro ministro, seu rival, Hichem Mechichi, e suspendeu o Parlamento por 30 dias, o que foi considerado golpe de Estado pela oposição, que convocou manifestações em nome da democracia. Saied também levantou a imunidade dos parlamentares e garantiu que as decisões foram tomadas dentro da lei. Nas ruas de Tunes, teve o apoio da população.
Foto: Fethi Belaid/AFP/Getty Images
Guiné-Conacri: Um golpista da confiança do Presidente
O dia 5 de setembro de 2021 começou com tiros em Conacri, uma capital que foi dominada por militares. O Presidente Alpha Condé foi deposto e preso pelo coronel Mamady Doumbouya - que dissolveu a Constituição e as instituições. O golpista traiu Condé, que o tinha em grande estima e confiança. Doumboya tinha demasiado poder e não se entendia com a liderança da ala castrense.
Foto: Radio Television Guineenne via AP/picture alliance
Sudão: Golpe compromete transição governativa
A 25 de outubro de 2021, os golpistas começaram por prender o primeiro ministro, Abdalla Hamdok, e outros altos quadros do Governo para depois fazerem a clássica tomada da principal emissora. No comando estava o general Abdel Fattah al-Burhan, que dissolveu o Conselho Soberano. Desde então, o Sudão vive manifestações violentas, com a polícia a ser acusada de uso excessivo de força.
Foto: Mahmoud Hjaj/AA/picture alliance
Burkina Faso: Golpe de Estado festejado
A turbulência marcou o começo do ano, mas a intentona foi celebrada em grande nas ruas da capital, Ouagadougou. A 23 de janeiro de 2022, o tenente-coronel Paul Damiba liderou o golpe de Estado ao lado do Exército. Ao Presidente Roch Kaboré não restou outra alternativa se não demitir-se. Tal como os golpistas de outros países, comprometem-se a voltar à ordem constitucional após consultas.
Foto: Facebook/Präsidentschaft von Burkina Faso
Guiné-Bissau: Intentona ou "inventona"?
Tiros, alvoroço, mortos e feridos no Palácio do Governo marcaram o dia 1 de fevereiro de 2022 em Bissau. O Presidente Umaro Sissoco Embaló diz que os golpistas queriam matá-lo e ao primeiro ministro, Nuno Nabiam. Houve algumas detenções, mas até hoje não se conhece o líder golpista. No país, acredita-se que tudo não passou de um "teatro" orquestrado pelo próprio Presidente, amplamente contestado.