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Ex-membro da Al Shabaab explica como funcionam grupos terroristas

Adrian Kriesch / Jan-Philipp Scholz / MS17 de dezembro de 2014

A DW África viajou até à Somália para uma entrevista exclusiva com um antigo membro da milícia islâmica Al Shabaab. Ali Hassan, que trabalhou nos serviços administrativos do grupo, fala sobre o intercâmbio no terrorismo.

Foto: DW/A. Kriesch

Mogadíscio é um dos lugares mais perigosos do mundo. A capital da Somália, um dos redutos da milícia islâmica Al Shabaab, é neste momento controlada pelo Governo. No entanto, os ataques do grupo radical continuam.

Ali Hassan nem sempre foi barbeiro. Até há poucos meses, ele era um membro influente do grupo terrorista. Agora, Hassan está a tentar construir uma nova vida, apesar das ameaças dos antigos companheiros de luta. "É claro que agora corro risco de vida, mas valeu a pena", contou à DW África.

Ali Hassan prefere conversar num local mais calmo fora do centro da cidade. A área à volta do complexo da ONU, uma das zonas mais vigiadas, é considerada relativamente segura, de acordo com os padrões somalis.

Aqui, cercado por forças de segurança fortemente armadas, o antigo membro da Al Shabaab está disposto a falar sobre a milícia islâmica e sobre a rede terrorista que se está a espalhar pelo continente africano:

Intercâmbio entre terroristas

Ex-terrorista explica como funcionam milícias

02:40

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“Há ligações estreitas entre os diversos grupos terroristas. E não apenas por causa das crenças comuns”, conta Ali Hassan.

O antigo combatente dá um exemplo concreto: “Muitas pessoas importantes do Boko Haram na Nigéria foram treinadas aqui em campos na Somália. Combatentes da Al Shabaab também viajam sempre para treinos no Iémen e vice-versa. Há muitos ligações deste género.”

Hassan conta que inicialmente se juntou ao grupo por convicção religiosa. E como completou o ensino secundário, rapidamente fez carreira na Al Shabaab. Antes de deixar o grupo trabalhava no centro administrativo da milícia. Foi aí que ficou a saber sobre o intercâmbio de conhecimento e de combatentes entre os grupos terroristas.

“Não é fácil, mas eles encontraram os seus próprios métodos. Um método importante é disfarçar terroristas como imigrantes a caminho da Europa. Eles misturam-se entre grandes grupos de imigrantes que saem da Somália.” Desta forma, explica, “conseguem passar todas as fronteiras até à Líbia. Mas quando chegam à Líbia não seguem para a Europa. Vão antes para o sul e desaparecem no deserto.”

Transformar a Somália num Estado islâmico

A Al Shabaab – que significa “A juventude em árabe – é uma ramificação da rede terrorista Al-Qaeda e tem atualmente entre sete mil a dez mil membros. É responsável por inúmeros raptos e assassinatos de políticos, trabalhadores humanitários e jornalistas. Além da Somália, o grupo perpetra regularmente ataques terroristas em países vizinhos como o Uganda e o Quénia.

Combatentes da Al Shabaab na SomáliaFoto: picture alliance/AP Photo/Sheikh Nor

Os terroristas aproveitaram-se do caos surgido da guerra civil que durou mais de 20 anos. O Governo somali tem lutado para afirmar a sua autoridade ao longo do país. A maior parte de Mogadíscio continua em ruínas. Condições ideais para recrutar terroristas.

“Eles querem transformar a Somália num Estado islâmico”, confirma Ali Hassan. E isso não é tudo. “Também têm ambições pan-africanas e até mesmo internacionais”, acrescenta o antigo terrorista. “O ex-ministro da Informação da Al Shabaab sempre disse: Temos de continuar a lutar até conseguirmos içar a bandeira islâmica no Alasca.”

Ali Hassan não quer lutar mais. Para ele, o Islão ainda é uma parte importante da sua vida. Mas, segundo o ex-combatente, os terroristas nada têm a ver com a religião. Para ele, a Al Shabaab não passa de um grupo de criminosos.

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