Jacob Zuma regressa a tribunal para julgamento de corrupção
Lusa
8 de dezembro de 2020
Ex-Presidente sul-africano Jacob Zuma deverá começar hoje a ser julgado no âmbito do processo em que é acusado de receber subornos milionários. Julgamento estava previsto para maio, mas foi adiado sucessivas vezes.
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Jacob Zuma, de 78 anos e que liderou o país entre 2009 e 2018, é acusado de ter recebido quatro milhões de rands (cerca de 200.000 euros, ao câmbio atual) em comissões da empresa Thales, à margem de um contrato de armamento adjudicado em 1999, numa altura em que era vice-presidente da República.
A audiência do caso foi adiada em 8 de setembro para esta terça-feira (08.12), pelo juiz responsável pelo processo. Inicialmente previsto para maio, o julgamento foi, numa primeira fase, adiado para junho devido à pandemia de Covid-19, tendo sido posteriormente alterado para setembro por razões administrativas.
No processo penal a decorrer em Pietermaritzburg, litoral do país, Jacob Zuma enfrenta várias acusações por envolvimento em operações, supostamente fraudulentas, a favor de um contrato público de aquisição de armamento com o grupo francês Thales de mais dois mil milhões de dólares, em 1999.
Além de 16 crimes de associação ilícita, fraude, corrupção e lavagem de dinheiro, Jacob Zuma é também acusado de ter alegadamente recebido 783 transações financeiras ilícitas.
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Acusado formalmente em 2005
Zuma foi acusado formalmente pela primeira vez em 2005, mas o julgamento nunca se concretizou por diversos motivos, incluindo aspetos técnicos do processo e o apoio de uma forte fação dentro da direção do Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), o partido no poder na África do Sul desde 1994.
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Jacob Zuma negou sempre todas as acusações, que foram retiradas ao ser nomeado chefe de Estado em 2009, afirmando ser uma "caça às bruxas" política do partido no poder, na altura liderado pelo presidente Thabo Mbeki, que governou entre 1999 e 2008.
Todavia, as acusações contra o antigo chefe de Estado sul-africano foram reinstituídas em março de 2018, pelo atual Presidente, Cyril Ramaphosa, um mês depois de Zuma ter sido forçado a renunciar ao cargo pela direção do ANC.
Neste processo de corrupção, apenas houve duas condenações - a de Schabir Shaik, ex-consultor financeiro e amigo pessoal de Zuma, que foi preso por 15 anos em 2005 por solicitar um suborno em nome do ex-chefe de Estado à Thint, a subsidiária local da empresa francesa de armas Thales, mas que foi libertado em liberdade condicional em 2009.
O segundo condenado, Tony Yengeni, destacado membro da direção do ANC, foi preso em 2006 por receber uma viatura de luxo de uma das firmas participantes no concurso público, mas apenas cumpriu cinco meses da pena de prisão de quatro anos. Em 2011, a firma sueca Saab admitiu ter pagado 24 milhões de rands (1,3 milhões de euros) através da britânica BAE Systems para garantir o contrato de fornecimento de aviões de combate à África do Sul, segundo a BBC de Londres.
O programa de aquisição militar sul-africano no final da década de 1990 envolveu a compra de armamento e equipamento militar pelo Governo do Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela, em 1999, no valor de 30 mil milhões de rands (cinco mil milhões de dólares em 1999, cerca de 1,5 mil milhões de euros ao câmbio atual). A aquisição de armamento envolveu várias empresas europeias da Alemanha, Itália, Suécia, Reino Unido, França e África do Sul.
Famílias influentes em África
Para muitos, a política continua a ser um negócio de família: o filho recebe a Presidência de herança, a filha dirige a empresa estatal, a esposa torna-se ministra. Há vários exemplos.
Foto: picture-alliance/dpa
Filha milionária
Isabel dos Santos, a filha mais velha do Presidente angolano, é uma das dez pessoas mais ricas de África. Do império da empresária constam a maior empresa de telecomunicações do país e uma cadeia de hipermercados. Além disso, dos Santos lidera a petrolífera angolana Sonangol. O irmão José Filomeno dirige o Fundo Soberano de Angola, que gere mais de cinco mil milhões de dólares.
Foto: picture-alliance/dpa
O meu pai decide…
Teodoro Nguema Obiang Mangue é vice-Presidente da Guiné Equatorial – e o filho do chefe de Estado. O pai, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, dirige o país desde 1979. O seu enteado, Gabriel Mbaga Obiang, é ministro das Minas e Hidrocarbonetos. A petrolífera estatal GEPetrol é controlada pelo cunhado do Presidente, Nsue Okomo.
Foto: Picture-alliance/AP Photo/F. Franklin II
O meu filho, o guarda-costas
Muhoozi Kainerugaba é o filho mais velho do Presidente do Uganda, Yoweri Museveni, que está desde 1986 no poder. Ele é um oficial superior no Exército ugandês e comanda a unidade especial responsável pela proteção do chefe de Estado. A mulher de Museveni, Janet, é ministra da Educação e do Desporto. O cunhado, Sam Kutesa, é ministro dos Negócios Estrangeiros.
Foto: DW/E. Lubega
Uma irmã gémea influente
Jaynet Désirée Kabila Kyungu é filha do ex-Presidente congolês, Laurent Kabila. Agora, é o seu irmão gémeo, Joseph Kabila, que governa o país. Jaynet está no Parlamento; além disso, tem uma empresa de comunicação. Os "Panama Papers" revelaram que ela foi co-presidente de uma empresa offshore que terá tido participações no maior operador móvel no Congo.
Foto: Getty Images/AFP/J. D. Kannah
De secretária a primeira-dama
Grace Mugabe é a segunda mulher do Presidente zimbabueano, Robert Mugabe. Começaram a namorar enquanto ela ainda era a sua secretária. Entretanto, Grace é presidente da "Liga das Mulheres" do partido no poder e tem bastante influência. Grace, de 51 anos, é vista como a sucessora do marido, de 92 anos, embora ela tenha afastado essa hipótese.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
A ex-mulher ambiciosa
Nkosazana Dlamini-Zuma foi a primeira mulher eleita como presidente da Comissão da União Africana. Antes, foi ministra dos Negócios Estrangeiros no Governo do Presidente sul-africano Thabo Mbeki. Foi também ministra do Interior no Executivo do ex-marido, Jacob Zuma. O casamento desfez-se antes de Dlamini-Zuma ocupar esses cargos ministeriais.
Foto: picture-alliance/dpa/J. Prinsloo
A empresa familiar, o Estado
Nas mãos da família do Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, estão numerosas empresas estratégicas e altos cargos na política. O irmão Maurice é dono de várias empresas, a filha Claudia (na foto) dirige o gabinete de comunicação do pai e pensa-se que o filho Denis Christel esteja já a ser preparado para assumir a Presidência.
Foto: Getty Images/AFP/G. Gervais
Autorizado: Presidente Bongo II
O autocrata Omar Bongo Ondimba governou o Gabão durante 41 anos até falecer, em 2009. Numas eleições polémicas, em que bastou uma maioria simples na primeira volta, o filho do ex-Presidente, Ali Bongo, derrotou 17 opositores. Ele foi reeleito em 2016. A família Bongo já governa o país há meio século.
Foto: Getty Images/AFP/M. Longari
Tal pai, tal filho
Dos cerca de 50 filhos do ex-Presidente do Togo Gnassingbé Eyadéma, Faure Gnassingbé foi o único a enveredar pela política. Entretanto, governa o país. Os pais dos atuais chefes de Estado do Quénia e do Botswana também já tinham estado na Presidência.