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Ex-Presidente de Angola chamado a depor na Lava Jato

Luciano Nagel (Rio de Janeiro)
17 de setembro de 2020

José Eduardo dos Santos foi convocado a prestar depoimento nas investigações da Operação Lava Jato, a maior iniciativa do Ministério Público Federal de combate a corrupção e lavagem de dinheiro da história do Brasil.

Angola Jose Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos, ex-Presidente de AngolaFoto: Getty Images/AFP/A. Jocard

O pedido foi realizado em outubro de 2019 pelo advogado de defesa do ex-Presidente do Brasil Luis Inácio Lula da Silva, do Partido Trabalhista (PT.) O depoimento de José Eduardo dos Santos ainda não foi confirmado e tão pouco tem data definida.

Em entrevista à DW, o advogado de Lula da Silva, Cristiano Zanin, explica o objetivo desta carta rogatória, que é uma forma de comunicação entre o poder judiciário de diferentes países, enviada ao ex-chefe do Executivo de Angola. 

‘'Seria para reforçar o facto de que a [construtora] Odebrecht prestava serviços em Angola desde o final da década de 70 e que ela (a empresa) já havia obtido, muito antes do Governo do Presidente Lula, linhas de créditos brasileiras para exportar serviços para Angola'', explicou o advogado.

Odebrecht acusada de participar em subornos

O ex-Presidente Lula da Silva é acusado de ter influenciado contratos firmados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) e a Odebrecht com Angola. Em contrapartida, segundo a acusação, a Odebrecht faria uma doação em dinheiro para o Partido dos Trabalhadores (PT).

Foto: Getty Images/AFP/N. Almeida

Na época, José Eduardo dos Santos era o Presidente de Angola. No parecer do advogado de Lula da Silva, a acusação não tem matéria para a acusação e o objetivo principal é denegrir a imagem de seu cliente.

‘'Essa acusação, nós entendemos que ela está dentro de um fenómeno que nós apresentamos aqui no Brasil com táticas e estratégias que é o 'lawfare', porque você tem acusações sem nenhuma matéria a serem feitas com o objetivos ilegítimos, ou seja, com objetivos de macular a imagem e a reputação do Presidente Lula'', entende Cristiano Zanin.

A Odebrecht foi condenada pela justiça brasileira de participar de um esquema bilionário de corrupção e subornos envolvendo obras públicas. Agora, a empresa precisa explicar sobre os contatos que fez com Angola.

Segredo de justiça

O documento elaborado pelo advogado de Lula apresenta oito perguntas, entre elas se o ex-Presidente angolano se recorda desde quando o Grupo Odebrecht está presente em Angola realizando obras e se e outras empresas estrangeiras especializadas em engenharia prestam serviços no país africano.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública do Brasil afirmou em comunicado que o processo segue em segredo de justiça.

‘'O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional não fornece informações sobre processos específicos de cooperação jurídica internacional, haja vista a presença de informações pessoais (artigo 31, da Lei nº 12.527/2011) e outras eventualmente submetidas a hipóteses de sigilo previstas na legislação, inclusive segredo de justiça (artigo 6º, I, do Decreto nº 7.724/12)''.  

Lula da Silva, ex-Presidente do BrasilFoto: DW/C. Neher

Lula rejeita tudo

O defensor de Lula, Cristiano Zanin ressalta que recentemente o Tribunal de Justiça arquivou uma ação penal semelhante como a que está em andamento.

‘'Havia uma outra acusação muito similar que foi trancada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, recentemente por falta de elementos mínimos para que a acusação pudesse prosseguir. Eu acho que nesse caso, isto ainda poderá vir ocorrer'', concluiu.

O ex-Presidente Lula da Silva, que ficou preso por 580 dias, já foi condenado há dois processos por corrupção e é alvo de pelo menos outras sete investigações. O petista, por meio de seu advogado, nega todas as acusações.

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