Ex-Presidente Jacob Zuma vai mesmo ser julgado por corrupção
Lusa
11 de outubro de 2019
Jacob Zuma vai ser julgado por corrupção num caso de armas que envolve o grupo francês Thales, após um tribunal sul-africano ter hoje recusado unanimemente arquivamento das queixas contra ex-chefe de Estado.
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"O pedido de abandonar o processo foi rejeitado", declarou o juiz Willie Seriti, do Tribunal Superior de Pietermaritzburg. Como consequência desta decisão, o processo do antigo Presidente vai começar terça-feira nesta cidade da África do Sul.
Jacob Zuma, no poder entre 2009 e 2018, tinha pedido o abandono da acusação, afirmando-se vítima de uma "caça às bruxas" lançada há cerca de 20 anos num rocambolesco caso de venda de armas.
Contudo, o tribunal sul-africano defendeu a sua manutenção, tendo em conta o "pesado" caso contra o ex-chefe de Estado e em nome da igualdade perante a lei.
"O pedido do Ministério Público foi aceite", declarou na sexta-feira o juiz Seriti.
O antigo chefe de Estado é suspeito de ter recebido quatro milhões de rands (cerca de 260 mil euros em valores atuais) de suborno por parte do grupo de defesa Thales por favorecer um contrato de armamento de cerca de quatro mil milhões de euros, fechado em 1999.
Segundo a acusação, ele terá sido pago para evitar à Thales as acusações por corrupção, através do seu amigo e conselheiro financeiro Schabir Shaik, condenado pela sua participação neste caso a 15 anos de prisão desde 2005.
Jacob Zuma e Thales sempre negaram as acusações. Envolvido em vários escândalos, o Presidente Zuma demitiu-se em 2018, tendo sido substituído pelo vice-Presidente, Cyril Ramaphosa, que prometeu limpar o seu partido e o país da corrupção.
Perigos da ignorância: Os presidentes africanos e a negação da SIDA
Saber é poder. Por isso o lema do Dia Mundial da SIDA 2018 é "conhece o teu estado". Estar ciente da doença torna mais fácil combatê-la. Mas nem todos os presidentes africanos entenderam a ameaça que o vírus representa.
Foto: picture-alliance/dpa
Negação fatal
O ex-Presidente sul africano Thabo Mbeki (1999 - 2008) ficou para a história como o principal negacionista do HIV/SIDA. Contrariando a evidência científica, Mbeki insistiu que o HIV não causava SIDA e mandou que a doença fosse tratada com ervas. Analistas acreditam que isto custou a vida a 300.000 pessoas. Há quem exija que o ex-Presidente seja julgado por crimes contra a humanidade.
Foto: Getty Images/AFP/G. Khan
O Presidente curandeiro
Em 2007, o então Presidente da Gâmbia, Yayah Jammeh (1996 - 2017) obrigou pacientes da SIDA a submeter-se a uma cura que dizia ter pessoalmente desenvolvido. A cura consistia de uma mistura de ervas. Um número desconhecido de pessoas morreu. Jammeh, que dizia ter poderes místicos, é o primeiro Presidente africano a ser julgado por violação dos direitos de pessoas com HIV/SIDA.
Foto: picture alliance/AP Photo
Duche como prevenção
Outro Presidente famoso pelas suas declarações inconvencionais sobre o HIV/SIDA é Jacob Zuma da África do Sul (2009 - 2018). Durante o processo por violação de uma mulher HIV-positiva em 2006, Zuma disse que não correu perigo de contágio apesar de não ter usado preservativo, porque "tomou um duche a seguir".
Foto: Reuters/N. Bothma
Sem preservativo?
O Presidente do Uganda, Yoweri Museveni , também levou algum tempo a compreender a dimensão do problema. Ainda em 2004, numa conferência internacional na Tailândia dedicada ao combate da SIDA, Museveni minimizou a eficácia de preservativos alegando, entre outras coisas, que o seu uso contrariava algumas práticas sexuais africanas. Os seus comentários foram recebidos com risadas pela audiência.
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Um imposto para o tratamento
Algumas medidas tomadas por líderes africanos para combater a doença foram mal recebidas. Em 1999, o Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe (1987-2017) introduziu um imposto destinado a apoiar os órfãos e pacientes do HIV/SIDA, que provocou protestos. O imposto ainda existe. Mugabe admitiu que membros da sua família foram afetados e chamou à infeção "um dos maiores desafios da nação".
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Um grande exemplo
As possíveis consequências económicas, por exemplo, para o turismo, fizeram com que muitos líderes africanos mostrassem relutância em aceitar a dimensão da ameaça. Mas Kenneth Kaunda, o Presidente da Zâmbia (1964-1991), já em 1987 anunciou a morte de um filho com SIDA. Em 2002 foi o primeiro Presidente africano a fazer um teste de SIDA. Até hoje continua a lutar pela erradicação da doença.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Mwape
Testes compulsórios
A luta contra a SIDA do sucessor de Kaunda, Edgar Lungu, também causou consternação. Lungu quis introduzir testes compulsórios na Zâmbia em 2016. Mas protestos no país e no exterior obrigaram-no a recuar. Sobretudo quando a Organização Mundial de Saúde criticou o propósito e deixou claro que esses testes só servem para aumentar o estigma do HIV/SIDA.
Foto: Imago/Xinhua
Por uma África sem HIV
Depois de abandonar o cargo de Presidente do Botswana, Festus Mogae (1998-2008) lançou a organização "Campeões por uma geração sem SIDA", à qual se juntaram numerosos ex-chefes de Estado e outras personalidades influentes. Juntos tentam pressionar governos e parceiros a investir mais na prevenção da SIDA.