TAP favoreceu elite angolana em esquema de corrupção
Lusa | tms
22 de julho de 2017
Subsidiária da Sonangol realizou pagamentos de mais de 25 milhões de euros à TAP sem qualquer prestação de serviços por parte da empresa portuguesa, indica investigação do Ministério Público de Portugal.
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Três advogados e outras quatro pessoas que tiveram ligação à transportadora aérea portuguesa TAP, um deles como membro do Conselho de Administração, foram acusados pelo Ministério Público de Portugal (MP) de corrupção ativa com prejuízo no comércio internacional, branqueamento e falsificação de documentos.
Segundo informação divulgada pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), mediante um esquema de aparente prestação de serviços da TAP à Sonair, uma empresa subsidiária Sonangol, foi possível a colocação em Portugal, por parte da petrolífera angolana, de elevados montantes em dinheiro.
"A investigação apurou que a Sonair procedeu ao pagamento à TAP de um valor superior a 25 milhões de euros sem que tenha havido a prestação dos serviços aparentemente contratados", indica o DCIAP.
De acordo com reportagem veiculada pelo jornal português Público este sábado (22.07), "o enteado do vice-presidente de Angola e o gestor dos negócios privados do general Kopelipa estão entre os beneficiários últimos" deste esquema. "Nenhum deles é, porém, arguido neste processo", cita a reportagem do Público.
Esquema de corrupção
Segundo explica este departamento do MP, o dinheiro que circulava da Sonair para a TAP era, depois, branqueado com a mediação de outra empresa, a Worldair.
"Esta última, mediante o recebimento de comissões incompreensivelmente elevadas (cerca de 2/3 do valor do negócio), permitia girar o dinheiro para contas fora de Portugal. Os montantes circulavam ainda por 'offshores' antes de regressarem a contas portuguesas. Em alguns casos, o dinheiro acabava por ser usado para a aquisição de imóveis de luxo em Portugal", adianta o DCIAP.
Durante a investigação, o MP apreendeu nove imóveis, todos registados em nome de sociedades envolvidas no processo de branqueamento, pedindo a sua perda a favor do Estado.
Foram apreendidos os saldos de 21 contas bancárias, também em nome de empresas de fachada envolvidas, tendo, igualmente, pedido que as quantias aí depositadas fossem declaradas perdidas a favor do Estado. Foi também solicitada a intervenção do Gabinete de Recuperação de Ativos da Polícia Judiciária.
TAP não é arguida no processo
Por meio de comunicado, conforme divulgou o Público, a TAP esclareceu que ela própria informou o MP sobre "todos os elementos relativos às operações a que este processo diz respeito, logo que tomou conhecimento dos mesmos". A transportadora aérea afirmou ainda que realizou uma auditoria interna sobre a matéria, "cujas conclusões foram transmitidas às autoridades judiciárias".
Devido à investigação conduzida pela própria empresa, o MP português reconheceu não existirem indícios que responsabilizassem a TAP e, por isso, arquivou o inquérito quanto à empresa, refere o comunicado.
O Ministério Público foi coadjuvado neste inquérito pela Polícia Judiciária, tendo a acusação sido proferida no passado dia 14.
O que não é de Isabel dos Santos em Luanda?
Em Luanda, facilmente se percebe os investimentos de Isabel dos Santos. A filha do ex-Presidente angolano tem negócios na banca e nas telecomunicações. Também tem presença no comércio e nos setores petrolífero e mineiro.
Foto: DW/P. Borralho
Os negócios de Isabel dos Santos
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos é proprietária de muitas empresas que operam em Angola. E já há quem acredite que assumir o cargo da Presidência da República pode ser o próximo passo da empresária, que atualmente está na presidência da petrolífera Sonangol.
Foto: picture-alliance/dpa
Telecomunicações
No ramo das telecomunicações, a filha do ex-Presidente angolano e empresária Isabel dos Santos possui a UNITEL. Lançada em março de 2001, a empresa tem como principal atividade a prestação de serviços móveis de voz e de Internet. A UNITEL funciona com um total de 182 lojas próprias em todo o país, 81 das quais na capital, Luanda. A empresa tem mais de 5 milhões de clientes.
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TV por satélite
Ainda no ramo das telecomunicações, a ZAP iniciou a sua atividade no mercado angolano em abril de 2010 e é atualmente a maior operadora de TV por satélite em Angola, segundo informações da própria empresa. Desde 2011, a ZAP também está presente no mercado moçambicano. A TV por satélite de Isabel dos Santos acabou com o monopólio que a empresa sul-africana Multichoice teve em Angola.
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Banca
Há dez anos em operação, o Banco BIC tem mais de 200 unidades comerciais para atendimento, compostas por 195 agências e 17 centros de empresas em Angola. O banco serve de apoio para empresários que mantêm investimentos em Portugal, onde Isabel dos Santos também possui uma fatia do Banco português.
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Sonangol
Em junho de 2016, Isabel dos Santos assumiu a presidência da maior empresa estatal de Angola, a petrolífera Sonangol. Na altura, a tomada de posse da filha do então Presidente de Angola foi criticada por juristas, que afirmam que a nomeação da empresária é ilegal e inconstitucional. A petrolífera mantém uma rede de postos de abastecimento e estações de serviços em todo o país.
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Centro comercial
Embora Angola esteja mergulhada numa crise económica devido à queda do preço do barril de petróleo no mercado internacional, Isabel dos Santos iniciou este ano mais um novo empreendimento em Luanda. Trata-se do Shopping Avennida, inaugurado no primeiro semestre. O centro comercial abriga dezenas de empreendimentos, muitos deles da própria empresária, como o Banco BIC, a ZAP e a UNITEL.
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Hipermercado
A filha do ex-Presidente José Eduardo dos Santos também investiu no segmento de hipermercados através da rede Candando, situado no recém inaugurado Shopping Avennida. Segundo a Contidis, empresa que administra o hipermercado, a previsão é que mais dez lojas sejam inauguradas nos próximos cinco anos, num investimento total de 400 milhões de dólares.