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"A liderança da RENAMO não atende aos anseios da maioria"

16 de outubro de 2024

As palavras são de Manuel Bissopo, ex-secretário-geral da RENAMO, em entrevista à DW. Bissopo critica duramente a liderança de Ossufo Momade após a derrota nas eleições: "Foi uma punição clara, o partido falhou".

Ossufo Momade, líder da RENAMO
Ossufo Momade, líder da RENAMOFoto: DW/A. Sebastiao

Após as eleições gerais em Moçambique, crescem as vozes dentro da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) que responsabilizam a liderança de Ossufo Momade pelo fracasso nas urnas.

Em entrevista à DW África, o ex-secretário-geral do partido, Manuel Bissopo, classifica o desempenho da RENAMO nas eleições como "vergonhoso". Segundo Bissopo, os resultados refletem uma "punição clara a Ossufo Momade", que falhou em perceber os sinais de insatisfação que já estavam evidentes na opinião pública.

DW África: Como avalia a situação atual da RENAMO?

Manuel Bissopo (MB): A situação da RENAMO é péssima. Não há como minimizar ou tentar embelezar a realidade: os membros e a população, de modo geral, não estão satisfeitos com o desempenho do partido. Não faltaram avisos ao longo desses cinco anos.

A gestão da RENAMO não correspondeu às expetativas da maioria dos seus apoiantes. Durante todo esse período, ouvimos críticas constantes à liderança, e o partido foi incapaz de reagir. O resultado é o que vemos agora: uma situação dolorosa e dececionante. A RENAMO deixou de ter a confiança da maioria. É algo que lamento profundamente.

DW África: Em alguns círculos, comenta-se que a liderança da RENAMO agiu com arrogância diante dos sinais de insatisfação, insistindo em se manter como oposição.

MB: Sim, como eu mencionei, ao longo dos últimos cinco anos vimos uma RENAMO que não respondeu às expetativas das massas. E agora, está a colher as consequências. Infelizmente, estou a dizer estas palavras, mas tenho de ter coragem para o fazer. Não tenho mais idade para esconder a verdade. A RENAMO foi mal gerida. Não houve sentimento de que se "agarram" à gestão para ir ao poder.

Manuel Bissopo, antigo secretário-geral do partido de oposição RENAMOFoto: Nelson Carvalho

DW África: Que futuro projeta para a RENAMO?

MB: O futuro será muito difícil. A RENAMO enfrenta enormes dificuldades para superar essa crise, e se o partido não oferecer uma resposta adequada, será ainda mais difícil. É fundamental que a RENAMO se apresente com um "novo visual", que inspire novamente confiança em milhões de moçambicanos.

O partido tem uma grande tarefa nos próximos meses. É urgente que se dê uma resposta positiva, demonstrando que a RENAMO ainda pode merecer a confiança do povo, mas isso exigirá mudanças profundas. É como uma equipa de futebol, a RENAMO deve fazer alterações substanciais para atender às expetativas dos seus apoiantes.

DW África: Acha que ainda há tempo para essas mudanças?

MB: Sim, acredito que ainda há tempo. O recado foi dado de forma clara: as pessoas estão cansadas. Elas esperavam que o último congresso trouxesse uma mudança, mas, em vez disso, vimos a legitimação do presidente Ossufo Momade, mesmo após tantas contestações. Isso gerou uma grande "fúria". Agora, cabe à RENAMO refletir sobre a sua situação atual. O partido não está a ser rejeitado porque é a RENAMO, mas sim porque está sob uma liderança que não atende aos anseios da maioria. Na minha visão, é apenas por isso.

DW África: Seria, então, uma punição contra Ossufo Momade?

MB: Na prática, sim. Houve inúmeros sinais de insatisfação, mas não foram ouvidos nem considerados. Teria de ter sido apresentada uma alternativa. Dentro da RENAMO, com Ossufo, não se esperava mais nada.

Artigo atualizado às 19:56 (CET) de 16 de outubro de 2024.

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