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Moçambique: "Querem vender-nos como máquinas"

Jovenaldo Ngovene (Tete)
18 de maio de 2022

Os antigos colaboradores da multinacional brasileira Vale, em Tete, e que atualmente pertence à Vulcan Resources, paralisaram as atividades desde a semana passada. Exigem esclarecimentos sobre o seu futuro laboral.

Foto: Getty Images/AFP/G. Guercia

Os antigos trabalhadores da Vale dizem estar em greve por não terem sido avisados nem sobre o processo de venda da Vale, nem sobre a transferência da mina de carvão de Moatize para a Vulcan Resources.

Afirmam que não conhecem ninguém ligado ao novo patronato e também não há comunicação entre as duas partes, até porque a marca da Vale continua patente em todos os equipamentos de trabalho.

"Parece que nos querem vender"

Além disso, temem pelo futuro na empresa, uma vez que não conhecem o comportamento e as exigências dos novos donos de uma das maiores minas de carvão mineral a céu aberto a nível mundial, lembra o representante dos trabalhadores, que preferiu ocultar o nome alegando possíveis represálias da empresa.

O boom do carvão em Moçambique

05:11

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"Disseram que começou a trabalhar no dia 25, mas nós notámos a presença desta empresa desde o princípio deste ano, já estava aqui a operar, mas nunca essa empresa nova aproximou-nos para se apresentar sequer, para conhecer quem são os trabalhadores desta empresa", contou à DW.

O representante dos trabalhadores acrescentou ainda que "não podemos ser vendidos", numa alusão ao sucedido com a empresa.

"E mesmo a empresa Vale, que é dona desta mina, nunca nos despediu, nunca veio dizer nada com relação a esta venda. Então, nós como trabalhadores, achamos que não é correto. Parece que nos querem vender como venderam as máquinas, a terra e como venderam o carvão. Nós não somos carvão", sublinha.

A venda das minas da Vale em Tete, a linha férrea e a estrutura portuária em Nacala, no valor total de 257 milhões de euros, foi concluída em finais de abril, com o aval do Governo moçambicano, que vai receber mais-valias deste negócio.

A empresa passa e os trabalhadores ficam

Abordado pela DW, o jurista, Roberto Aleluia, destaca a falta de conhecimento por parte dos colaboradores e encarrega essa missão à ministra do Trabalho e Segurança Social, por se tratar de um caso que mexe com o país.

Exploração de minas de carvão em TeteFoto: Estacio Valoi/DW

"Era a altura certa para que a ministra de trabalho, sua excelência Margarida Talapa, viesse com máxima urgência e marcasse uma reunião com os trabalhadores", apela.

O advogado alerta ainda que a greve pode prejudicar os próprios trabalhadores."Transparece que os trabalhadores têm razão, mas na verdade, não tem razão e parece que o próprio Estado não deu a informação devida. Quanto à transação da empresa, o quadro pessoal também passa para a nova empresa. Ou seja, aqueles trabalhadores que estão lá vão permanecer com seus direitos, regalias e com os mesmos contratos", diz.

Até ao momento, nenhuma autoridade governamental se pronunciou sobre o caso. Já a Vulcan Resources num comunicado, mostrou a sua abertura em interagir com os trabalhadores, bem como em continuar a exploração do carvão de Moatize.

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