"Existe um conflito entre pessoas e natureza", diz Guterres
kg | Lusa
21 de setembro de 2019
Na abertura da Cimeira da Ação Climática para a Juventude, o secretário-geral das Nações Unidas alertou que o mundo precisa de um novo modelo de desenvolvimento baseado numa boa relação entre a humanidade e o planeta.
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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres, disse este sábado (21.09) na abertura da Cimeira da Ação Climática para a Juventude, em Nova York, que, pela primeira vez na história, existe um "conflito sério entre pessoas e natureza".
António Guterres afirmou também que o mundo precisa de um novo modelo de desenvolvimento, ligado às alterações climáticas, que garanta justiça e igualdade entre as pessoas, mas também uma relação boa entre as populações e o planeta.
Jovem zambiana luta contra as alterações climáticas
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O diplomata português mencionou que os conflitos políticos e geográficos acontecem há milhares de anos, mas a novidade é que as populações estão em conflito com o planeta e as consequências estão a atingir os mais vulneráveis. O conflito com a natureza "pode ser absolutamente destrutivo para o futuro das nossas comunidades e das nossas sociedades", sublinhou.
Para António Guterres, não faz sentido que existam, em várias partes do mundo, subsídios para a utilização de combustíveis fósseis, porque os subsídios são financiados com o dinheiro dos contribuintes. "Não faz sentido que o nosso dinheiro seja usado para provocar furacões ou para branquear os corais ou para destruir comunidades", disse.
Segundo o secretário-geral, o fim dos subsídios pode significar um alívio nas contas dos contribuintes, permitindo um maior movimento na economia verde e a criação de empregos decentes. António Guterres afirmou que é possível criar uma estratégia de duplo ganho ('win-win') ao combinar ação climática com uma globalização justa.
Novo impulso
Guterres lembrou que há uma grande diferença no diálogo sobre as alterações climáticas nos últimos anos e que a principal fonte de mudança foi a juventude. "Esta alteração no impulso foi em grande parte devido à vossa iniciativa e coragem com que começaram o movimento e transformaram, de um pequeno movimento em frente a um Parlamento [...] em milhões de todo o mundo a dizerem claramente que não querem só que os políticos mudem de comportamento, mas que também sejam responsabilizados", disse António Guterres a todos os jovens.
O secretário-geral falou depois da intervenção de quatro jovens ativistas, entre os quais Greta Thunberg, que iniciou o movimento de greve estudantil e ação pelo clima "Fridays for Future" (Sexta-feiras pelo futuro).
Guterres relembrou que há dois anos, quando começou os trabalhos para a Cimeira da Ação Climática, sentia-se muito negativo e pessimista sobre o estado do ambiente e o combate às alterações climáticas, porque "havia uma sensação de apatia e era muito difícil por todos a dialogar" a nível político.
A impressão negativa mudou "de repente" com o impulso pelos movimentos dos jovens. Apesar de o mundo estar em situação "dramática" e crítica em termos de ambiente, natureza e recursos naturais, o secretário-geral destaca o entusiasmo vindo por parte dos jovens.
Desta forma, o português incentivou os jovens a continuarem com o movimento pelo combate às alterações climáticas e as mobilizações em todo o mundo. "Cada vez mais, responsabilizem mais a minha geração. A minha geração tem fracassado até agora em preservar a justiça no mundo e em preservar o planeta", declarou.
O destino fatal dos glaciares no mundo
Não é só a Islândia que testemunha o desaparecimento de glaciares devido às alterações climáticas. Em vários continentes, glaciares icónicos estão a derreter por causa do aquecimento global.
Foto: picture-alliance/AP Photo/NASA
O gelo de África a desaparecer
Os glaciares do Monte Kilimanjaro estão em risco. Em 2012, cientistas da NASA estimaram que o que sobrou do gelo na montanha mais alta de África desapareceria em 2020. O Kilimanjaro é uma das principais atrações turísticas da Tanzânia e é um grande gerador de receitas num país onde a maioria da população vive abaixo da linha da pobreza.
Foto: Imago Images/robertharding/C. Kober
Islândia: A morte de um glaciar
A Islândia fez uma cerimónia fúnebre ao Okjökull, o primeiro glaciar a desaparecer no país devido às alterações climáticas. Conhecido como 'Ok', o Okjökull perdeu o estatuto de glaciar em 2014, por causa da redução da quantidade de gelo. Na cerimónia, as pessoas em luto ergueram cartazes alertando que os principais glaciares do país terão o mesmo destino nos próximos 200 anos.
Foto: Getty Images/AFP/J. Richard
Antártida: Enorme glaciar, grande risco
Acredita-se que o glaciar de Thwaites, que integra a camada de gelo da Antártida Ocidental, representa o maior risco para o aumento do nível dos oceanos no futuro. Se colapsar, poderá provocar uma elevação de 50 centímetros no nível do mar, segundo um estudo financiado pela NASA. A Antártida tem 50 vezes mais cobertura de gelo do que todos os glaciares de montanha do mundo juntos.
Foto: Imago Images/Zuma/NASA
Patagónia: Beleza a derreter
O glaciar Grey fica na Patagónia, no Chile, e é a maior extensão de gelo no hemisfério sul, fora da Antártida. Os pesquisadores monitorizam de perto o derretimento do gelo na região. Isso poderá ajudá-los a entender como outros glaciares, como os da Antártida e da Gronelândia, poderiam transformar-se em climas mais quentes.
Foto: picture alliance/dpa/blickwinkel/E. Hummel
Como proteger o gelo alpino?
O glaciar do Ródano, na Suíça, é a nascente do rio de mesmo nome. Durante vários anos, no verão, os cientistas cobriram o gelo com mantas brancas resistentes aos raios ultravioleta, para tentar atrasar o seu derretimento. Segundo os cientistas, o aumento das temperaturas pode derreter dois terços da cobertura dos glaciares alpinos até ao final do século.
Foto: Imago Images/S. Spiegl
Nova Zelândia: Acesso apenas de helicóptero
Na Nova Zelândia, o glaciar Franz Josef, na Ilha Sul, é um destino turístico popular. O glaciar costumava ter um padrão cíclico de avanço e recuo. Mas o glaciar está a diminuir rapidamente desde 2008. Os guias locais costumavam levar os turistas diretamente para o glaciar a pé. Agora, a única forma de acesso é de helicóptero.
Foto: DW/D. Killick
Alasca: Derretimento em tempo recorde
O estado norte-americano do Alasca tem milhares de glaciares. Um estudo mostra que alguns deles estão a derreter 100 vezes mais rápido do que os cientistas tinham previsto. Em agosto, dois alemães e um austríaco foram encontrados mortos depois de um passeio de caiaque no lago glaciar Valdez. As autoridades dizem que os turistas morreram provavelmente devido à queda de gelo glaciar.
Foto: imago/Westend61
Gronelândia: Aumento insuficiente
O glaciar Jakobshavn, o maior da Gronelândia, até está a aumentar. Mas, apesar de uma ponta do glaciar se ter tornado um pouco mais espessa desde 2016, o gelo está a derreter a uma velocidade maior do que o crescimento. Os cientistas acreditam que o aumento se deve a um influxo incomum de água fria do Atlântico, mas a expetativa é que águas mais quentes retornem em breve.