1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

A "dança das cadeiras" de Nyusi

3 de março de 2022

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, exonerou seis ministros de peso. Ativista entende que parte das mudanças acontece no contexto da "economia de corrupção".

Foto: privat

Segundo um comunicado publicado na quarta-feira (02.03) pela Presidência moçambicana, Filipe Nyusi exonerou seis ministros, incluindo Adriano Afonso Maleiane, ministro da Economia e Finanças, Ernesto Max Tonela, ministro dos Recursos Minerais e Energia, e Carlos Mesquita, ministro da Indústria e Comércio.

João Machatine deixa o Ministério das Obras Públicas, Habitação e Recursos Hídricos. Também foram afastados Augusta Maita, ministra do Mar, Águas Interiores e Pescas, e Carlos Siliya, ministro dos Combatentes.

As exonerações surpreendem não só pela quantidade, mas também por vários desses nomes serem as estrelas do Governo de Nyusi, que o acompanham desde o primeiro mandato.

Entre a proteção política e a exoneração

O comunicado da Presidência não explica as razões da remodelação governamental, mas Adriano Nuvunga, diretor do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) diz que suspeita dos motivos.

Segundo Nuvunga, "a economia política passa pela compreensão dos grandes esquemas de corrupção".

Cobrança de portagens na Circular de Maputo foi bastante contestadaFoto: Romeu da Silva/DW

"As posições se ocupam também em função da habilidade de cumprir funções importantes. Uma delas é gerar recursos para a corrupção, e esses recursos têm de ser partilhados com os que tomam a decisão de os nomear. É preciso ver os grandes contratos que os ministros assinaram e depois o que aconteceu em termos de 'economia da corrupção'", comenta o responsável da organização não-governamental.

Críticas a portagens

Quanto a Adriano Maleiane, um quadro que sempre ocupou cargos de relevo nos diversos governos do país, Nuvunga diz: "Sabe-se que já há muito tempo [ele] pedia para ir descansar".

Porém, no caso do ministro das Obras Públicas, João Machatine, o diretor do CDD acredita que a má condução do dossier das portagens da Circular de Maputo, que inclusive desencadearam protestos reprimidos pela polícia, pode ter originado a sua queda.

"O ministro das Obras Públicas esteve na boca do povo pelas piores razões", lembra Nuvunga. "As portagens são a pior agressão que a FRELIMO está a fazer à sociedade moçambicana, e o rosto público disso foi o ministro agora exonerado."

Carlos Mesquita é um dos políticos "da mais restrita confiança" do Presidente NyusiFoto: DW/R. da Silva

Quem assumirá a pasta dos Recursos Minerais e Energia?

Com a corrida para o gás, a maior esperança das autoridades para os seus problemas financeiros, questiona-se agora quem poderá substituir Max Tonela, considerado um dos homens de confiança do Presidente da República.

Adriano Nuvunga prevê o seguinte: "Suponho que vai ser [Carlos] Mesquita. Parecendo que não, ele é das pessoas da mais restrita confiança do Presidente. São amigos de infância, colegas de turma."

O diretor do CDD refere que Mesquita, até aqui ministro da Indústria e Comércio, não domina as pastas dos Recursos Minerais e Energia, mas goza de "proteção política em relação a esse setor vital para os grandes contratos e para a corrupção". Nuvunga menciona a "ligação com Cabo Delgado, por exemplo".

Seria, portanto, mais uma "dança das cadeiras" do que exatamente mudanças, pelo menos nos cargos relevantes do Governo, neste momento.

2022: O que esperar da luta contra a corrupção?

04:54

This browser does not support the video element.

Saltar a secção Mais sobre este tema