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Angola: O que significam as exonerações para a economia?

Maria João Pinto
28 de novembro de 2017

Economista angolano Francisco Miguel Paulo acredita que as exonerações levadas a cabo por João Lourenço nas empresas estatais dão "novo ânimo" às instituições para a implementação de reformas profundas na economia.

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Foto: Getty Images/AFP/S. de Sakutin

A onda de exonerações levada a cabo pelo Presidente João Lourenço continua a dar que falar dentro e fora de Angola. O afastamento de várias administrações de empresas estatais - nomeadas por José Eduardo dos Santos – já levaram mesmo a consultora Eurasia a elevar a previsão da evolução de Angola para "Positiva”. Mas se a consultora norte-americana elogia a rapidez do chefe de Estado angolano na implementação de reformas, já a BMI Research considera que a onda de exonerações em Angola significa apenas uma "dança das cadeiras”.

A DW África falou com Francisco Miguel Paulo, do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, que compreende os mais céticos, mas acredita na implementação de reformas profundas no país.

DW África: Na sua opinião, o que significam estas exonerações para a economia angolana? Estamos perante uma "dança das cadeiras”, como diz a BMI Research?

Francisco Miguel Paulo (FMP): É óbvio que entendo essa opinião. No tempo do Presidente dos Santos, boa parte das exonerações eram "dança das cadeiras”: as pessoas saíam de um sítio e iam para outro. Mas, até agora, nestas exonerações que estão a ser feitas, não estou a ver as pessoas que foram exoneradas serem colocadas noutro lugar ao nível do Governo ou do Estado. Não sou dessa opinião, de que se trata de uma "dança das cadeiras”. Há, de facto, uma intenção de reformar e dar um novo ânimo às instituições que vão levar a reformas profundas que o país precisa para alcançar o crescimento económico.

Francisco Miguel Paulo, economista do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de AngolaFoto: DW/Nelson Sul D'Angola

DW África: Por outro lado, a Eurasia já elevou a previsão da evolução de Angola para "Positiva”. Acha que esta onda de exonerações poderá ser realmente um sinal positivo?

FMP: O facto de haver exonerações não quer dizer que haverá crescimento. Mas vamos ver as políticas que irão ser implementadas, a forma como será implementado o plano intercalar que foi agora aprovado [pelo Governo, para melhorar a economia nacional]. Apesar de acharmos que é um plano muito ambicioso para um curto período de tempo, de seis meses, esperamos que as pessoas que estão a ser nomeadas estejam aí para implementar as orientações que o Governo como um todo decidiu. A situação económica e financeira do país é muito séria e precisa mesmo de reformas profundas.

DW África: Está optimista quanto à implementação dessas reformas?

FMP: Podemos vislumbrar um sinal. Para termos políticas económicas consistentes e bem implementadas, é importante que o Governo escolha pessoas que acha que vão implementar estas políticas. É uma nova era. Vamos dar o benefício da dúvida.

28.11 Entrevista Francisco Miguel Paulo - MP3-Mono

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DW África: Há também quem veja esta onda de exonerações como uma simples tentativa de João Lourenço estabelecer a sua rede de apoio e sair da sombra da família dos Santos. Concorda?

FMP: Não creio que seja esta a situação, mas, seja como for, acredito que em todo o mundo o Presidente da República ou o chefe do Executivo deve escolher pessoas em quem confia para trabalharem juntos na implementação do programa de Governo. É importante que haja essa confiança mútua e que, por sua vez, as pessoas que estão a ser nomeadas, mostrem que merecem essa confiança.

DW África: Está Angola perto do fim dos monopólios na economia?

FMP: Ainda é muito cedo. Vamos ver. O próprio Presidente da República, no discurso sobre o estado da Nação, manifestou esta vontade de acabar com os monopólios. E isto é mesmo necessário para garantir uma maior concorrência entre os agentes económicos no país e uma maior qualidade dos bens e serviços produzidos por esses monopólios. Pagamos preços exorbitantes pelo simples facto de termos apenas poucos provedores de serviços. O antigo Governo privilegiou isto, deu monopólios a uma elite da sua confiança. Agora, reconhece-se que os monopólios vão contra a competitividade na economia e contra o bem-estar dos cidadãos em si.

DW África: Além das exonerações, o que é que deve ser feito para melhorar o estado da economia angolana?

FMP:  As pessoas, hoje, estão muito expectantes quanto ao novo rumo que a política monetária deve tomar. O Banco Central deve adoptar medidas que permitam o aumento do crescimento por parte dos empresários e facilitar a obtenção de crédito a taxas de juro mais baixas. Só assim é que poderá fazer com que a economia não-petrolífera ganhe o dinamismo necessário. O Banco Central deve também facilitar o acesso das empresas nacionais às divisas. A produção nacional tem vindo a diminuir por falta de matérias-primas e equipamento, porque os agentes têm dificuldades na importação. O Banco Central tem um papel muito importante nesse sentido.

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