Expetativas sobre o novo governo na Guiné-Bissau
5 de junho de 2014Em Bissau discute-se a modalidade do novo executivo liderado por Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). Se por um lado a comunidade internacional defende um governo inclusivo, analistas guineenses acreditam que o modelo a ser aplicado será o oposto.
A poucos dias da investidura do novo governo, eleito nas últimas eleições gerais, a esperança de uma Guiné melhor é a palavra de ordem no quotidiano dos guineenses, que colocaram a fasquia alta em relação à formação de um governo que será liderado por um jovem com muita vontade de vencer: Domingos Simões Pereira.
Grandes expetativas
Abre-se uma grande expetativa quanto ao futuro do país. Para muitos chegou a hora de construir a Guiné-Bissau, garantindo a paz, a estabilidade e o progresso, mesmo que ainda não se saiba, quem fará parte do novo executivo.
A verdade é que o sigílo está a marcar a formação do novo elenco governamental. Até ao momento, ao contrário do que acontecia, a imprensa nacional não sabe dizer quem vai fazer parte do governo do engenheiro Simões Pereira. Fodé Mané, analista político e professor da faculdade de Direito de Bissau, diz que será um governo à imagem do Simões Pereira.
“Vamos fazer projeções a partir da sua figura, que sei que é um tecnocrata mas também com muita habilidade política. Nestas situações, nos primeiros momentos, quando um governo sair destas lutas muito renhidas… Portanto, quando o primeiro ministro e o partido vencedor entra em alianças é obrigado a refletir essas alianças no seu primeiro governo. Aí nem sempre tem as pessoas que gostaria de ter. Tem de respeitar aqueles acordos, aquelas alianças. E nesse sentido, temos, por vezes, nos primeiros governos saídos dessas eleições situações em que não vemos em todos os ministros aquilo que o país gostaria de ver.”
Oposição a governo de inclusão
No passado recente, a comunidade internacional defendia a formação de um governo de inclusão, que teria a participação dos partidos da oposição. Mané rejeita essa ideia claramente, alegando que assim ter-se-ía um governo incapaz de funcionar.
“Formar um governo conforme a percentagem eleitoral não é funcional porque vamos ter vários centros de comando. O segundo vencedor, se tiver pessoas no governo que ele indique, o centro de atenção, de obediência vai ser deste. E vamos ter um governo com vários centros como está a acontecer neste momento. Um governo cujo primeiro ministro ninguém ouve. Ninguém escuta. Gere apenas o seu dia a dia e não o do governo, nem do país. Dizemos cada ministro faz aquilo que pretende.”
Problemas por resolver
Espera-se que o novo executivo resolva os graves problemas sociais, principalmente, no sector da educação que corre o risco de ver o ano lectivo ser anulado. Outra área em dificuldades é a saúde, onde se regista a falta de assistência médica e medicamentosa nos hospitais, provocando um elevado índice de mortalidade infantil. Finalmente, destaque para a questão da instabilidade político-militar. Este último problema é particularmente premente, afirma Mané, sublinhando que a ferida ainda não está totalmente sarada com estas eleições.
“Quando houver vontade popular e vier alguém a impor a ordem. É esta força que eu acho que continua a não existir. Mas é preciso trabalhar porque cada vez mais o povo está a afastar-se daquelas forças paralelas que subvertem a ordem constitucional.
José Mário Vaz, eleito presidente da Guiné-Bissau, vai tomar posse a 23 de junho. Depois de assumir funções, o novo líder eleito nas legislativas, Domingos Simões Pereira vai nomear os membros do Governo que irá dirigir como primeiro-ministro. Quatro dias depois de tomar posse, ( 27 de junho), o presidente da Guiné-Bissau desloca-se a Malabo, Guiné Equatorial, para participar na cimeira de chefes de Estado da União Africana sobre Agricultura e Segurança Alimentar. A tomada de posse do Presidente vai acontecer 10 dias depois de empossados os novos deputados da Assembleia Nacional Popular (ANP). A Comissão Nacional de Eleições marcou para 13 de Junho a cerimónia da entrada em funções do novo parlamento guineense.