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ConflitosEstados Unidos

Exportações de armas dos EUA disparam, as da China diminuem

Christoph Hasselbach
13 de março de 2023

A invasão da Ucrânia beneficiou os EUA e levou a um grande aumento das importações de armas para a Europa, revela relatório do Instituto Internacional de Investigação sobre a Paz de Estocolmo (SIPRI).

Os aviões de combate de fabrico norte-americano são vendidos em todo o mundoFoto: picture alliance/dpa/dpa-Zentralbild

Enquanto o resto do mundo se desarma lentamente, a Europa está rapidamente a fazer o contrário, de acordo com o mais recente relatório do SIPRI. O instituto examina e compara o comércio global de armas em períodos de quatro anos, o que reflete melhor as tendências globais do que olhar para o negócio do armamento em apenas doze meses.

Entre as duas tendências mais importantes do último relatório, o investigador do SIPRI Pieter Wezeman diz, em declarações à DW, que as transferências de armas para os países europeus aumentaram "significativamente" e que "o papel dos EUA como fornecedor de armas no mundo também aumentou significativamente".

No período mais recente examinado, 2018-2022, o comércio internacional de armas diminuiu um pouco mais de 5% em comparação com 2013-2017. Em contraste, as importações de armas pelos países europeus - a grande maioria das quais veio dos Estados Unidos - aumentaram em 47%, e as dos países europeus integrantes da NATO em 65%. A razão por detrás disto é, sem surpresas, a invasão russa da Ucrânia.

Tanque Leopard 2, de fabrico alemão: A Ucrânia recebe gratuitamente a maioria dos sistemas de defesa ocidentaisFoto: Martin Meissner/AP Photo/picture alliance

Exportações dos EUA para a Ucrânia, Arábia Saudita e Japão

No passado, a Ucrânia não foi um dos principais atores no comércio internacional de armas. Fez grande parte do seu equipamento de defesa em solo nacional, e o resto sobrou da era soviética. No último relatório do SIPRI, porém, ocupa o 14º lugar na lista dos importadores mundiais de armas e, considerando apenas 2022, a Ucrânia ocupa o terceiro lugar.

No seu relatório, o SIPRI refere-se normalmente a "transferências de armas", o que significa tanto o comércio de armas como a assistência militar gratuita, sendo esta última o principal fornecimento bélico da Ucrânia. Este tipo de ajuda militar consiste geralmente em equipamento mais antigo ou reservas excedentes de nações doadoras.

O relatório mostra como, devido a isto, o que foi entregue à Ucrânia perde valor numa comparação com as vendas de novas armas. Por exemplo, apesar das entregas maciças de armas dos EUA à Ucrânia em 2022, Washington ainda enviou mercadorias de maior valor para o Kuwait, Arábia Saudita, Qatar e Japão. Estes quatro países compraram equipamento particularmente novo e sofisticado, como jatos de caça, algo que a Ucrânia tem vindo a solicitar urgentemente aos aliados ocidentais.

Os submarinos são uma das principais exportações da Alemanha no setor bélicoFoto: Joerg Waterstraat/SULUPRESS.DE/picture alliance

França ganha, Alemanha perde

Os cinco maiores exportadores de armas são, por ordem: os EUA, a Rússia, a França, a China e a Alemanha. Embora esta classificação não tenha mudado desde o último relatório, houve mudanças significativas em relação aos países individualmente.

Por exemplo, os EUA, já no topo da lista, aumentaram as exportações em mais 14% e são agora responsáveis por 40% das transferências globais de armas.

Um aumento muito maior de 44% foi registado pela França, que foi capaz de expandir a sua posição como número três. No entanto, de acordo com o SIPRI, tais mudanças bruscas não são incomuns, porque pode haver encomendas particularmente grandes e lucrativas dentro de um determinado período de tempo.

É também assim que Pieter Wezeman explica a queda acentuada no negócio da defesa alemã a 35% menos do que no relatório anterior. Mas, segundo Wezeman, desta vez, "a mudança nas exportações de armas pela França é talvez de natureza mais estrutural. A França pôs muita ênfase na tentativa de apoiar a sua indústria de armamento e conseguiu claramente fazê-lo na última década".

Isto esteve claramente na mente do chanceler alemão Olaf Scholz durante uma recente visita à Índia. As potências ocidentais estão a tentar encorajar Nova Deli a depender menos da Rússia para obter armamento. E embora a França tenha passado anos a estabelecer-se como o segundo maior fornecedor da Índia depois de Moscovo, a Alemanha não desempenha qualquer papel nas importações de armas para a Índia.

Chanceler Olaf Scholz (esq.) esteve em Nova Deli no final de fevereiro para uma reunião com o primeiro-ministro indiano, Narenda ModiFoto: SAJJAD HUSSAIN/AFP

China "surpreendentemente" em queda

Igualmente impressionante é a queda de 23% nas exportações de armas chinesas e, em geral, a baixa importância da China como exportador global de armas em comparação com a sua economia como um todo. Wezeman explica: "A China não conseguiu entrar em alguns dos principais mercados de armas, por vezes por razões claramente políticas". Por isso, diz o especialista, a China não vende armas à sua rival, a Índia, por exemplo.

"Surpreendentemente", acrescenta, a China também "não conseguiu realmente competir contra os fornecedores de armas europeus e americanos à maioria dos Estados do Médio Oriente, especialmente aos árabes".

A Rússia forte em África

À medida que a Europa começou a importar mais armas, a sua quota de transferências internacionais de armas também aumentou, de 11% em 2013-2017 para 16% em 2018-2022. Ao mesmo tempo, as transferências de armas diminuíram em todas as outras regiões do mundo.

Um dos casos mais extremos registou-se em África, onde as transferências recuaram 40%. Mas isso não tornou o continente mais pacífico, afirma Wezeman.

A influência da Rússia em África tem vindo a crescer após a retirada das tropas francesas em 2022 no SahelFoto: Florent Verges/AFP

Ainda existem numerosos conflitos armados em África. No entanto, acrescenta, esses "países não são capazes de adquirir um grande número de armas avançadas e, portanto, nesse sentido, o valor total da transferência de armas para a região não é tão alto quanto o número de conflitos pode sugerir".

Na África subsaariana, a Rússia ultrapassou agora a China como o maior fornecedor de armas. Um exemplo é o Mali. A nação do Sahel costumava comprar armas a uma série de países, incluindo a França e os Estados Unidos. Contudo, após os golpes de Estado no Mali em 2020 e 2021, estes dois países ocidentais começaram a reduzir significativamente os seus negócios no país, enquanto que a Rússia expandiu as suas vendas.

Outro exemplo das consequências das perturbações políticas para a cooperação em matéria de armamento - numa região diferente - é a Turquia. O membro da NATO foi o sétimo maior comprador de equipamento de defesa dos EUA em 2013-2017. Mas como a relação entre Ancara e Washington se tornou mais tensa, a Turquia ocupa agora apenas o 27º lugar.

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