A decisão sobre a extradição para Moçambique ou para os EUA do ex-ministro moçambicano das Finanças, Manuel Chang, poderá ser conhecida só depois das eleições gerais de maio na África do Sul, considera analista.
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A decisão sobre a extradição do ex-ministro das Finanças de Moçambique, Manuel Chang, poderá estar dependente do próximo xadrez governativo sul-africano a ser definido nas eleições de 9 de maio, entende André Thomashausen. O especialista em direito internacional lembra que a atual ministra das Relações Internacionais, próxima à facção do ex-Presidente Jacob Zuma, já mostrou que tende pela extradição para Moçambique.
Caso Lindiwe Sisulo fique fora do próximo Governo abre-se a possibilidade de os ventos soprarem para outra direção. Falamos sobre o caso Manuel Chang com André Thomashausen, especialista alemão em direito internacional e professor na Universidade da África do Sul (Unisa).
DW África: A defesa de Manuel Chang dá sinais de querer arrastar esta fase de audição. A que se deve esta estratégia?
André Thomashausen (AT): A outra estratégia é de tentar arrastar o processo aqui na África do Sul para evitar a todo o custo que o senhor Chang venha estar presente perante um juiz americano e que depois, muito provavelmente, teria que escolher entre uma longa sentença ou uma estratégia de cooperação e que iria entregar às autoridades americanas os segredos que sabe e que é o que na verdade interessa aos americanos. A pessoa do senhor Chang não deve interessar muito aos EUA, mas a verdade daquilo que aconteceu com o dinheiro, isso sim.
DW África: Dado ao esforço que a defesa está a fazer para que Chang não seja extraditado para os EUA a delação premiada ou o plea bargain seria uma carta fora do baralho caso o ministro sul-africano da Justiça decida que Manuel Chang deve ser extraditado para esse país?
AT : Para os EUA sim. Aliás serão os americanos que vão oferecer as condições favoráveis, inclusive de permanência nos EUA num hotel com os cuidados que irá necessitar do ponto de vista da saúde...tudo isso, é um bocado atrativo para o senhor Chang, porque aqui na África do Sul estamos no começo do inverno e as instalações prisionais no país normalmente não têm aquecimento, a comida não é boa e as condições não são favoráveis. Aliás vê-se que o senhor Chang cada vez que aparece no tribunal perdeu mais um bocado de peso e está mais deprimido e desgastado. É realmente uma escolha muito difícil que o senhor Chang terá de fazer, entre a sua lealdade para com a elite da FRELIMO e os seus próprios interesses, incluindo a sua saúde.
Extradição de Chang depende da política interna sul-africana?
DW Árica: Entretanto, o negociador da Privinvest já foi ouvido pela justiça norte-americana e prometeu cooperar. Caso Manuel Chang não queira cooperar chegaria numa posição de desvantagem?
AT: Sim, embora os gerentes da Privinvest tal como os responsáveis do Credit Suisse e convém lembrar que foi o vice-presidente do Credit Suisse quem assinou o empréstimo e no dia seguinte deixou o seu cargo naquela instituição bancária para precisamente assumir um outro na Privinvest, coisa muito incorreta e muito invulgar. Essa gente saberá uma parte da medalha, um parte da verdade, mas a outra também interessa muito, nomeadamente para se saber o que é que se fez ao dinheiro. Porque o dinheiro (dois mil milhões de dólares) desapareceu e evidentemente que a grande finança internacional, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o fisco americano não querem que isso se repita e que venha a ser um novo mau hábito em África. Portanto, aí naturalmente será o senhor Chang que poderá fornecer as informações, o que é que a elite moçambicana fez com todo esse dinheiro.
DW África: A decisão sobre a extradição está agora nas mãos do ministro sul-africano da Justiça. Há risco da decisão vir a ter um cunho político?
AT: Evidentemente que haverá pressões políticas e a ministra sul-africana das Relações Internacionais, a senhora Lindiwe Sisulo, indicou já há algumas semanas que para ela a preferência seria de dar prioridade à solidariedade entre países africanos e amigos, ou seja, resolver os assuntos africanos cá em África. E portanto, ela preferia que o senhor Manuel Chang regressasse a Moçambique e participasse nos possíveis processos. Agora, o ministro da Justiça tem a sua pasta e tem a sua própria carreira política. É um ministro que foi nomeado pelo antigo Presidente Zuma, na altura foi uma pessoa da máxima confiança do Presidente e é uma pessoa muito ligada àquela facção do ANC (Congresso Nacional Africano) aqui na África do Sul que está claramente oposta à antiga facção de Thabo Mbeki e atualmente do Presidente Cyril Ramaphosa. São realmente dois partidos dentro de um partido e desta forma não se sabe se esse ministro da Justiça continuará a ocupar a pasta depois das eleições de 9 de maio, tal como muito provavelmente será o caso da ministra Lindiwe Sisulo, também no passado muito próxima do ex-Presidente Zuma. E é muito duvidoso que este assunto possa ser decidido dentro das próximas três semanas porque ainda resta saber se a defesa do senhor Chang vai ou não interpor recurso, dentro de duas semana. A decisão não poderá vir a tempo antes dessas eleições. Depois o baralho de cartas é capaz de ser muito diferente, dependendo também do resultado eleitoral. Se a equipa do Presidente Ramaphosa sair com um bom resultado e com muita força política, penso que é bastante provável que irá dar prioridade às boas relações com os EUA em vez de tentar fazer um favor a uma elite moçambicana já bastante gasta.
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.