Fórum da Juventude marca segundo dia da Bienal de Luanda
Azevedo Pacheco
19 de setembro de 2019
Jovens foram o foco da Bienal de Luanda - Fórum Pan-Africano para a Cultura de Paz, esta quinta-feira (19.09). Evento decorre na capital angolana até ao dia 22, com destaque para a resolução de conflitos no continente.
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"Falar de paz é também falar de pão na mesa. E falar de pão na mesa é falar de emprego": as palavras do jovem Constantino Tchiaca, que veio da cidade do Namibe para participar na Bienal de Luanda, resumem bem o segundo dia do evento, dedicado à juventude, paz e segurança. No Fórum da Juventude, já se adivinhava que o desemprego, as condições sociais precárias e o estado da educação seriam obrigatoriamente temas em debate.
Jovens de várias partes de África não desperdiçaram esta oportunidade para trocar experiências e criar novas ideias. "É uma mais-valia estas atividades ocorrerem", diz Géssica Rodrigues, outra jovem que participou no Fórum, um espaço de intercâmbio e reflexão para falar também de criatividade, empreendedorismo e inovação.
"Em Angola existem muitos licenciados que não têm emprego, mas, com este fórum, podem criar ideias e até abrir o seu próprio negócio. Ajuda muito, porque saíram daqui muitas ideias brilhantes", garante a jovem angolana.
Constantino Tchiaca, por sua vez, defende a prática, mais do que a palavra: "Um fórum é sempre um fórum, desperta-nos para muitas coisas, mas, às vezes, mais do que falar, nós também temos que fazer".
"Existe uma boa parte da juventude que não está empregada e esta boa parte, por questões culturais, tem filhos muito cedo. Como é que vai sustentar os filhos, se não tem rendimento?", pergunta Constantino. "Uma pessoa com necessidades e sem valores é uma pessoa perigosa. Depois, temos também outros componentes, que é o próprio policiamento de proximidade que não é efetivo, a iluminação pública quase que não existe...tudo isto favorece situações não muito boas", considera.
Sem educação não há pazNa mesma direção, Badilé Sami, da Guiné-Bissau, entende que o desemprego é um dos grandes males de África e garante que "não podemos falar de paz, sem falar de educação".
"A paz não é simplesmente palavra, tem de ser comportamento. O problema do desemprego em África é muito complicado. Não podemos avançar sem que este problema seja resolvido", afirma o jovem guineense.
É possível falar-se de paz e segurança sem emprego? Filipe Zau, professor universitário, garante que não. "Nós vivemos um problema a que chamamos anomia social", afirma.
Para o académico, "o desemprego conduz realmente à perda de valores, porque as pessoas vão procurar formas de resolver os problemas que têm em casa e surgem problemas como a toxicodependência e a xenofobia". Como exemplo, aponta a onda de ataques contra estrangeiros na África do Sul, "o que o desemprego provocou".
"A instabilidade nunca concorreu para a paz em lado nenhum. Se não há paz em África por causa do desemprego, então temos que combater o desemprego", frisa.
Para isso, acrescenta Filipe Zau, é preciso repensar algumas questões: "Qual é o investimento que nós estamos a dar à educação? 6% do Orçamento Geral do Estado? Não vamos resolver o problema. Com que perfil do professor é que vamos resolver o problema? Temos de refletir sobre estas coisas".
Angola: Jovens desempregados marcham em Luanda
O elevado índice de desemprego levou os jovens angolanos novamente às ruas. Durante a caminhada de sábado (08.12) os "kunangas", nome atribuído aos desempregados, exigiram políticas para a criação de postos de trabalho.
Foto: DW/B. Ndomba
Caminhar por mais emprego
Onde estão os 500 mil empregos que o Presidente da República, João Lourenço, prometeu durante a campanha eleitoral de 2017? Foi uma das questões colocadas pelos jovens desempregados que marcharam nas ruas de Luanda. A marcha decorreu sob o lema "Emprego é um direito, desemprego marginaliza".
Foto: DW/B. Ndomba
Apoio popular
Populares e vendedores ambulantes apoiaram o protesto deste sábado, que foi também acompanhado pelas forças de segurança. Participaram na marcha algumas associações como o Movimento Estudantil de Angola (MEA) e a Associação Nova Aliança dos Taxistas. Os angolanos que exigem criação de mais postos de trabalho marcharam do Cemitério da Sant Ana até ao Largo das Heroínas, na Avenida Ho Chi Minh.
Foto: DW/B. Ndomba
Níveis alarmantes
O Governo angolano reconhece que o nível de desemprego é preocupante no país. 20% da população em idade ativa está desempregada, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgados no ano passado. Os jovens em Angola são os mais afetados - 46% não têm emprego.
Foto: DW/B. Ndomba
Palavras de ordem
Os manifestantes exibiram vários cartazes com mensagens dirigidas ao Presidente e ao Governo: "João Lourenço mentiroso, onde estão os 500 mil empregos?", "Ser cobrador de táxi não é minha vontade" e "Por kunangar perdi respeito em casa”, foram algumas das questões levantadas.
Foto: DW/B. Ndomba
Estágios, inclusão e subsídios
Além de empregos, os manifestantes exigem políticas de estágio - para que os recém formados tenham a experiência exigida pelas empresas – e programas que beneficiem pessoas com deficiência física. Este sábado, pediram também ao Governo que atribua subsídio de desemprego aos angolanos que não trabalham.
Foto: DW/B. Ndomba
Sem perspetivas de trabalho
O índice do desemprego piorou com a crise económica e financeira em Angola, desde 2015. O preço do crude caiu no mercado internacional, e, como o país está dependente das exportações de petróleo, entraram menos divisas. Muitas empresas foram obrigadas a fechar as portas e milhares de cidadãos ficaram desempregados.
Foto: DW/B. Ndomba
Formados e desempregados
Entre os manifestantes ouvidos pela DW África em Luanda, histórias como a de Joice Zau, técnica de refinação de petróleo, repetem-se. Concluiu a sua formação em 2015 e, desde então, não teve quaisquer oportunidades de emprego: "Já entreguei currículos em várias empresas no ramo petrolífero e nunca fui convocada", conta. Gostaria de continuar a estudar, mas, sem emprego, são muitas as dificuldades.
Foto: DW/B. Ndomba
É preciso fazer mais
Para a ativista Cecília Quitomebe, o Executivo está a "trabalhar pouco para aquilo que é o acesso ao emprego para os jovens". No final da marcha, a organização leu um "manifesto" lembrando que a contestação à política de João Lourenço começou a 21 de julho, quando o mesmo grupo de jovens exigiu mais políticas de emprego. Na altura, a marcha realizou-se em seis cidades. Este sábado, ocorreu em 12.