Fórum Macau: Encontro fecha com saldo positivo para os PALOP
Lusa | José Carlos Matias (Macau)
12 de outubro de 2016
China anuncia mais recursos e perdoa dívidas aos PALOP. Na reunião desta quarta-feira (12.10.), que encerrou o encontro, os países pediram maior envolvimento do setor privado na cooperação económica sino-lusófona.
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O Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre os Países de Língua Portuguesa, conhecido como Fórum Macau, ecerrou esta quarta-feria (12.10.), na China, com apelos a maior envolvimento do setor privado, em especial as médias empresas, e à criação de novos serviços financeiros, perdão de dívidas e anúncio de apoio à industrialização de alguns países, nomeadamente os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.
A reunião de hoje no Fórum de Macau reuniu na cidade empresários e quadros da área financeira, depois de na terça-feira (11.10.) ter decorrido o encontro dos governos dos países que o integram (China, Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Brasil e Timor-Leste), que assinaram o plano de ação para o triénio 2017-2019.
Este documento lança "novas diretrizes" para a cooperação comercial, destacou nesta quarta a vice-ministra do Comércio da China, Gao Yan, na abertura do encontro empresarial, sublinhando o novo foco no apoio ao desenvolvimento da capacidade produtiva dos PALOP e de Timor-Leste.
Investimentos
Segundo a vice-ministra chinesa, estes países estão numa "fase inicial da industrialização" e têm "muitas oportunidades de negócio na área das infraestruturas, da energia, da agricultura e das pescas”.
Na conferência ministerial de terça-feira (11.10.), o primeiro-ministro da China, Li Keqiang, anunciou linhas de crédito chinês para Timor-Leste e PALOP no valor de 2.000 milhões de yuan (cerca de 267 milhões de euros), destinadas a promover, como no passado, projetos de infraestruturas, mas também a sua industrialização nos próximos três anos.
No caso dos PALOP, os créditos serão destinados preferencialmente a Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo-Verde. De acordo com o Governo chinês, para além de infraestruturas e industrialização dos países, estes recursos visam ainda a prevenção e combate à malária, e a investigação em medicina tradicional.
A China vai ainda perdoar aos mesmos países, até 2019, dívidas já vencidas de empréstimos sem juros num valor equivalente 70 milhões de euros.
Involvimento do setor privado
12.10.16 Fórum Macau - MP3-Mono
Ainda na terça-feira, foi assinado um memorando de entendimento do Fórum Macau relativo à cooperação em capacidade produtiva que prevê a criação de um grupo de trabalho, que funcionará no âmbito do Secretariado Permanente do Fórum e que terá como função "coordenar o planeamento da cooperação, estabelecer ligações entre políticas de desenvolvimento e criar uma base de dados de projetos de cooperação em capacidade produtiva".
Durante o encontro desta quarta-feira (12.10.), repetiu-se também o outro apelo que foi transversal aos discursos dos últimos dias em torno do Fórum Macau: o do maior envolvimento dos privados na cooperação sino-lusófona. Com este objetivo, foi formalizada neste encontro a constituição da Confederação dos Empresários da China e dos Países de Língua Portuguesa.
O interesse de Cabo Verde
Nesta quarta, houve também um debate dedicado aos serviços financeiros que poderão facilitar os investimentos entre todos estes países, com destaque para o papel que Macau poderá ter, por ser uma região de língua oficial portuguesa onde é possível fazer transações em yuan.
A propósito deste tema, o administrador do banco de Cabo Verde Osvaldo Évora Lima disse que o yuan "pode constituir uma boa oportunidade de diversificação das reservas externas" do país e que este cenário está a ser "objeto de análise aprofundada".
Segundo afirmou, os bancos comerciais cabo-verdianos também "já começaram a questionar o banco central sobre a possibilidade da moeda chinesa passar a fazer parte do cabaz de cotação do Banco de Cabo Verde".
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.