O Presidente da Guiné-Bissau faleceu esta segunda-feira (09.01) no Hospital Val de Grace, em Paris, aos 64 anos, vítima de doença prolongada. Malam Bacai Sanhá foi eleito nas presidenciais antecipadas de 2009.
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Muçulmano de etnia mandinga beafada, Malam Bacai Sanhá, ainda adolescente, em 1962, juntou-se ao Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, PAIGC.
Devido às suas atividades de resistente durante o regime colonial português viu-se forçado a passar à clandestinidade. Como muitos outros quadros do PAIGC foi enviado para países do então Bloco de Leste, para receber formação política e académica. Estudou na Escola Superior Karl Marx, em Berlim Oriental, na então RDA, onde se licenciou em Ciência Políticas.
Logo após a independência da Guiné-Bissau, a 24 de setembro de 1973, Malam Bacai Sanhá iniciou a sua carreira como alto funcionário do Estado e quadro destacado do PAIGC, partido que sobre a liderança de Luís Cabral, estabeleceria um regime autoritário de partido único de orientação pró-soviética.
Malam Bacai Sanhá seria administrador da região de Biombo entre 1975 e 1976 e de 1981 a 1986 Governador da região de Gabú.
A experiência e os cargos
Coincidindo com a transição para a democracia multipartidária, entre 1990 e 1991, Sanhá assumiria o cargo de secretário-geral da União de Trabalhadores da Guiné-Bissau. Nos anos seguintes ocuparia as pastas ministeriais da Informação e posteriormente da Administração Pública e Trabalho.
Depois da realização das primeiras eleições democráticas na Guiné-Bissau, em 1994, que confirmaram João Bernardo “Nino” Vieira como Presidente da República e deram a maioria absoluta ao PAIGC, Malam Bacai Sanhá seria de 1994 a 1999 Presidente da Assembleia Nacional do país, convertendo-se assim na segunda pessoa na hierarquia do Estado guineense.
Na sequência da guerra civil que assolou a Guiné-Bissau em 1998, que levaria ao fim do regime de "Nino" Vieira, Malam Bacai Sanhá assumiria interinamente a Presidência da República entre 1999 e 2000.
Foi candidato às presidenciais em Janeiro de 2000, mas perderia o sufrágio para Kumba Yala do Partido para a Renovação Social. Voltaria a candidatar-se em 2005 e tornaria a perder para o então candidato independente "Nino" Vieira.
Presidência a muito custo
Os assassinatos políticos de 2009, que vitimaram o Presidente "Nino" Vieira e o chefe das Forças Armadas, tenente-general Baptista Tagme Na Waié, mergulharam a Guiné-Bissau num novo período de turbulência e levaram a convocação de eleições presidenciais antecipadas. Malam Bacai Sanhá venceria o escrutínio na segunda volta com mais de sessenta por cento dos votos.
Quando tomou posse como Presidente, propôs aos seus compatriotas "um contrato social que permita a unidade na diversidade". Na altura, Sanhá comprometeu-se a fazer algumas coisas pelo povo da Guiné-Bissau: “Vou tentar o possível para que as instituições do Estado funcionem normalmente de acordo com a Constituição da República e as leis. Vou criar um clima de colaboração, principalmente com o Governo, com a Assembléia e com os órgãos de soberania”.
Malam Bacai Sanhá também manifestou o desejo de exercer uma "magistratura de influência que passe pelo combate à corrupção, ao narcotráfico e a outras formas de crime organizado". Aproveitou ainda a ocasião para lançar uma mensagem às Forças Armadas, um grande elemento desestabilizador do país: “Não é o Governo que está ao serviço das Forças Armadas, mas as Forças Aramadas que estão ao serviço do Estado.”
Malam Bacai Sanhá é considerado o presidente que mais esforços fez para estabelecer melhores relações institucionais com os militares no país. Tal conquista excluiu qualquer possibilidade de golpe de Estado ou violação da ordem constitucional, situações frequentes na Guiné-Bissau.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.