A queda do Boeing 737 MAX da Ethiopian Airlines foi provocada por uma falha técnica do sistema de voo, aponta relatório preliminar. Acidente aconteceu no mês passado em Adis Abeba e resultou em 157 mortos.
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Uma falha no sistema de controlo de voo do Boeing 737 MAX 8 causou a queda do avião da Ethiopian Airlines, no mês passado, na Etiópia, segundo as investigações preliminares do acidente divulgadas nesta quinta-feira (04.04) pelo Governo etíope.
"Uma falha repetida no software de controlo automático de voo da aeronave fez com que o procedimento de parada fosse ativado, o que causou a queda da aeronave", revelou, em Adis Abeba, a ministra dos Transportes da Etiópia, Dagmawit Moges.
A tripulação do avião da Ethiopian Airlines seguiu repetidamente os procedimentos recomendados pela Boeing, mas não conseguiu recuperar o controlo do jato, de acordo com o relatório divulgado nesta quinta-feira.
Em uma conferência de imprensa, a ministra etíope explicou que tanto o piloto quanto toda a tripulação receberam o treinamento apropriado e seguiram todos os procedimentos detalhados no manual de operação da Boeing.
Recomendações
Portanto, o Governo etíope, com base nas principais conclusões da investigação preliminar que será divulgada no próximo mês, conforme determina as normas internacionais, recomendou que a empresa norte-americana verificasse seu software e o restante das tecnologias instaladas nesse tipo de aeronave.
Além disso, pediu para que as autoridades da segurança aérea que revisem cuidadosamente a tecnologia das aeronaves Boeing 737 Max 8, que estão paradas em todo o mundo como consequência da tragédia, antes que voltem a operar novamente.
Estas são as primeiras conclusões divulgadas após a investigação das caixas-negras do avião, que está a ser realizada em França. A divulgação do relatório veio depois que a Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) anunciou uma revisão da certificação do sistema de controlo de voo automatizado no 737 MAX. A Boeing está a verificar as recomendações.
O voo da Ethiopian Airlines seguiria de Adis Abeba para Nairobi, no Quénia, na manhã de 10 de março, quando mergulhou de nariz em um campo fora da capital etíope apenas alguns minutos após a descolagem. Entre os 157 mortos, passageiros de mais de 30 nacionalidades diferentes.
Um acidente semelhante já havia ocorrido em outubro do ano passado, na Indonésia. Um Boeing 737 MAX da Air Lion caiu com 189 pessoas a bordo.
O comboio chinês de Adis Abeba para o Djibuti
Desde o início de 2018, um comboio chinês está a levar pessoas e mercadorias da Etiópia para o porto do Mar Vermelho no Djibuti. A DW África fez esta viagem a partir de Adis Abeba.
Foto: DW/J. Jeffrey
O toque chinês
Nos arredores da capital etíope, a estação ferroviária marca o início da nova linha de Adis Abeba para o Djibuti, transportando passageiros desde janeiro de 2018. É uma joint venture entre a empresa Ethiopian Djibouti Railway (EDR) e os chineses, que construíram e financiaram em grande parte os 4 mil milhões de dólares do projeto.
Foto: DW/J. Jeffrey
Normas e regulamentação
Guardas de plataforma etíopes com coletes e chapéus vermelhos recebem passageiros para o comboio das 8 horas para o Djibuti. Os chineses estão a operar a linha durante os seus primeiros seis anos, daí o ambiente de regularidade e conformidade, pelo menos no início da jornada. O condutor do comboio é chinês, assim como os trabalhadores da manutenção.
Foto: DW/J. Jeffrey
Deixando a cidade para trás
Logo a cidade é substituída por campos verdes, pequenas cabanas em aldeias e gado caminhando ao lado da linha férrea. "A quantidade de gado ao longo da rota é a principal razão pela qual tivemos que desacelerar o comboio", disse Wang Hugue, gerente de operações da China. "No começo, havia alguns problemas com os agricultores". Os agricultores agora são compensados pelo gado atingido pelo comboio.
Foto: DW/J. Jeffrey
Viagem confortável
"Antes, era muito difícil viajar de autocarro e era preciso fazer trocas e passar a noite [no autocarro]. Demorou cerca de um dia e meio para ir de Adis Abeba ao Djibuti", diz Linda, uma professora de inglês djibutiana que retorna de Adis Abeba. A viagem de comboio leva 12 horas, mas pelo menos é confortável.
Foto: DW/J. Jeffrey
Henna para passar o tempo
Atualmente não são muitos os que viajam neste comboio e os passageiros têm muito espaço para atividades como a aplicação de tatuagens de henna. Mas a prioridade desta linha é o transporte de cargas. Quatro comboios circulam todos os dias - dois viajando para um sentido, dois para o outro - cada um leva 106 contentores de mercadorias.
Foto: DW/J. Jeffrey
"Nada como o passado"
A nova rota de comboio é paralela à antiga ferrovia imperial, construída no início do século XX. "Se houvesse uma escolha, eu pegaria o comboio antigo", diz Julius, um etíope que ia visitar uma tia no Djibuti. "Então víamos todas as cidades diferentes por onde parava, ouvia as diferentes línguas, culturas e povos desta região. Este comboio apenas passa direto por tudo."
Foto: DW/J. Jeffrey
O comboio ganha vida
Depois de parar na cidade de Dire Dawa, cerca de meio caminho ao longo da rota de 728 km, a carruagem encheu-se com passageiros tagarelando numa mistura de amárico, somali e francês (o Djibuti era uma colónia francesa), enquanto partilhavam a comida. Até a música que entra na carruagem parece tornar-se mais viva à medida que a jornada continua.
Foto: DW/J. Jeffrey
Hora de khat
"Nós tivemos que nos adaptar", diz a operadora de comboios Hugue. Os passageiros carregam khat, a planta levemente narcótica mastigada em todo o Corno de África como um estimulante, que é proibido e classificado como uma droga na China. "Inicialmente nós não permitimos, mas a empresa disse que faz parte da cultura, e nós percebemos que não podemos destruir tradições e precisamos respeitá-las."
Foto: DW/J. Jeffrey
No caminho certo
A 200 quilómetros do destino final, o sol começa a pôr-se no deserto e o silêncio começa nas carruagens. Observadores políticos acreditam que a linha férrea e a liberdade de movimento e comércio económico que a acompanha são evidência de uma crescente paz e cooperação no Corno de África.