Alguns postos de abastecimento de combustível fecharam, noutros há filas longas. Autoridades garantem que está tudo sob controlo, mas analistas temem que a situação se repita.
(Foto de arquivo)Foto: DW/J.Beck
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Há dias que falta combustível na capital moçambicana, Maputo, além de outras cidades.
"A situação é crítica. Passei em mais de dez bombas e não há combustível. Não sei como vão ser os próximos dias", diz Carlos Bernardo, um automobilista.
As autoridades garantem que não há "crise" de combustível, justificando a escassez apenas com uma "rotura" de stocks temporária.
"Houve alguma falha de logística em termos de recepção do combustível [importado], o que originou a quebra da cadeia de distribuição", disse o Director Nacional de Hidrocarbonetos e Combustíveis, Moisés Paulino. "Neste momento, o Governo está a fazer a reposição de stocks nos postos que tiveram essa rotura, em coordenação com as empresas distribuidoras de combustíveis e as gasolineiras."
Paulino adiantou que já chegou combustível aos terminais oceânicos de Maputo, Beira e Nacala, no sul, centro e norte do país respetivamente, esperando-se que a situação comece a voltar à normalidade ainda esta segunda-feira (30.01).
Automobilistas estão preocupados com os próximos dias, autoridades garantem que está tudo sob controloFoto: DW/Johannes Beck
E a crise económica?
Muitos associam, no entanto, a falta de combustível à atual crise económica e financeira no país, na sequência da retirada da ajuda dos parceiros internacionais ao Orçamento do Estado moçambicano desde o ano passado, após a descoberta de dívidas não declaradas pelo Governo. O Fundo Monetário Internacional também suspendeu um empréstimo que concedeu a Moçambique.
"Se o país enfrenta escassez de divisas, naturalmente que não está em condições de comprar combustível quando precisa dele", comenta o analista Fernando Gonçalves.
Gonçalves admite que o país possa registar crises cíclicas de combustível enquanto não resolver a atual situação: "Vamos ter estas quebras, apesar de o Governo ter vindo dizer que é apenas um problema logístico, que seria resolvido imediatamente", diz Gonçalves.
Falta combustível em Maputo
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Mas Moisés Paulino nega que haja qualquer ligação entre a falta de combustível e a atual situação económico-financeira.
"Não tem nada a ver com a crise financeira, porque o Governo faz questão de prover serviços básicos, apesar da existência desta crise ", afirmou o Director Nacional de Combustíveis. "O combustível é um serviço básico que tem que existir, à semelhança da água, energia e pão. É importante para sairmos da situação financeira não boa em que nos encontramos."
Moisés Paulino negou, igualmente, que a falta de combustível esteja relacionada com um eventual aumento dos preços.
Moçambique: centenas de pessoas marcham contra a situação política e económica
Centenas de moçambicanos marcharam no dia 18 de junho de 2016 em Maputo contra a situação política e económica do país. A manifestação foi convocada pela sociedade civil para exigir esclarecimentos ao Governo.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
Pela Avenida Eduardo Mondlane rumo à Praça da Independência
"Pelo direito à esperança" foi o mote da manifestação que reuniu centenas de pessoas no centro de Maputo, no sábado dia 18 de junho de 2016. Os manifestantes exigem o fim do conflito político-militar entre o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), o esclarecimento da dívida pública e mais liberdade de expressão.
Foto: picture alliance/dpa/A. Silva
"A intolerância política mata a democracia"
Em entrevista à DW África, Nzira de Deus, do Fórum Mulher, uma das organizações envolvidas, afirma que a liberdade dos moçambicanos tem sido muito limitada nos últimos meses. "É preciso deixar de intimidar as pessoas, deixarem as pessoas se expressarem de maneira diferente, porque eu acho que é isso que constrói o país. Não pode haver ameaças, não pode haver atentados", diz Nzira.
Foto: DW/L. Matias
De preto ou branco, manifestantes pedem paz
Com camisolas pretas e brancas e cartazes com mensagens de protesto, centenas de moçambicanos mostram o seu repúdio à guerra entre o Governo e a RENAMO, às dívidas ocultas e às valas comuns descobertas no centro do país. Num percurso de mais de dois quilómetros, entoaram cânticos pela liberdade e pela transparência.
Foto: DW/L. Matias
"Valas comuns são vergonha nacional"
Recentemente, foram descobertas valas comuns na zona central de Moçambique. Uma comissão parlamentar enviada ao local para averiguações nega a sua existência. Alguns dos corpos encontrados foram sepultados sem ter sido feita uma autópsia, o que dificulta o conhecimento das causas das suas mortes.
Foto: DW/L. Matias
"É necessário haver um diálogo político honesto e sincero"
Nzira de Deus considera que a crise política que Moçambique enfrenta prejudica a situação do país e defende que “haja um diálogo político honesto e sincero e que se digam quais são as questões que estão em causa". Para além da questão da dívida e da crise política, os manifestantes estão preocupados com as liberdades de expressão e imprensa.
Foto: DW/L. Matias
Ameaças não vão amedrontar o povo
No manifesto distribuído ao público e lido na estátua de Samora Machel, na Praça da Independência, as organizações da sociedade civil exigiram à Procuradoria-Geral da República uma auditoria forense à dívida pública. "Nós queremos que o ex-Presidente [Armando Guebuza] e o seu Governo respondam por estas dívidas", declarou Alice Mabota, acrescentando que as ameaças não vão "amedrontar o povo".
Foto: DW/L. Matias
Sociedade Civil presente
A manifestação foi convocada por onze organizações da sociedade civil moçambicana. Entre as ONGs que organizaram a marcha encontram-se a Liga dos Direitos Humanos (LDH), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural, o Fórum Mulher e a Rede HOPEM.