Mais de 35 mil elefantes são mortos anualmente em África.
Lusa | ar
4 de janeiro de 2018
A decisão pode ter impacto significativo em Angola e Moçambique, que nos últimos anos se tornaram destinos de referência na caça ao elefante.
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A ausência de regulamentação no Japão contra o comércio do marfim poderá tornar menos efetiva a proibição da compra e venda do material na China, advertiu a Traffic, uma Organização Não Governamental (ONG) de conservação da vida selvagem.
"A ausência de regulamentação efetiva no Japão contra o comércio do marfim permite que produtos derivados do marfim sejam sistematicamente adquiridos por visitantes e intermediários chineses", indicou um relatório da Traffic, divulgado no final de dezembro.Entre 2011 e 2016, as alfândegas chinesas apreenderam 2,42 toneladas de marfim importado ilegalmente do Japão, segundo dados citados pela imprensa chinesa. "Se esta situação continuar, irá minar o cumprimento da nova interdição aprovada pela China", apontou a TRAFFIC.
Chineses principais clientes de produtos de marfim
O relatório, intitulado "Ivory Towers: An Assessment of Japan's Ivory Trade and Domestic Market", tem como base entrevistas com vendedores de marfim nas cidades japonesas de Tóquio, Osaca e Quioto, realizadas entre maio e setembro de 2017.
Vários entrevistados afirmaram que os chineses são os principais clientes e que muitos destes são intermediários, à procura de produtos de marfim para outros clientes na China.
Um dos vendedores citados no relatório afirmou que o marfim pode ser facilmente contrabandeado para a China continental através da fronteira em Hong Kong ou do porto de Xangai, onde o controlo aduaneiro é alegadamente menos restrito.
Uma pesquisa por produtos de marfim na página de compras da versão japonesa do portal Yahoo gera 58.300 resultados, a maioria selos de marfim ou símbolos budistas.Produtos de marfim são vistos na China como símbolos de estatuto, enquanto esculturas naquele material são parte importante da cultura e arte tradicionais da China Antiga.
A China, o maior consumidor mundial de marfim, baniu desde o início do ano todo o comércio e transformação de marfim.
A proibição, que havia já sido anunciada em 2016, abrange também o comércio eletrónico e as recordações adquiridas no estrangeiro.
Antes da entrada em vigor da nova lei, o Governo chinês lançou várias campanhas de sensibilização, e o preço de pressas de elefante caiu 80% no país.
A agência oficial chinesa Xinhua indicou que, ao longo de 2017, fecharam 67 lojas e oficinas envolvidas no comércio de marfim.
Impacto em Angola e MoçambiqueA decisão pode ter impacto significativo em Angola e Moçambique, que nos últimos anos se tornaram destinos de referência na caça ao elefante.
Em Moçambique, entre 2011 e 2015, a caça furtiva custou à reserva do Niassa (norte) sete mil elefantes. A caça furtiva ameaça de extinção o elefante e o rinoceronte em Moçambique, de onde são traficados pontas de marfim e cornos de rinocerontes para a Ásia.
Em Angola, as autoridades queimaram cerca de 1,5 toneladas de marfim, bruto e trabalhado, em junho passado. A quantidade, apreendida em diferentes pontos do país enre 2016 e 2017, podia valer no "mercado negro" perto de um milhão de euros.
Existem atualmente cerca de 450.000 elefantes no continente africano, calculando-se em mais de 35.000 os que são mortos anualmente.
Novos dados da Fundo Mundial da Natureza (WWF) indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. Em algumas zonas do país, o número de carcaças aumentou até seis vezes.
Foto: STEPHANE DE SAKUTIN/AFP/Getty Images
Carcaças de elefantes em Niassa triplicam
Novos dados da WWF indicam que a caça furtiva de elefantes e rinocerontes em Moçambique multiplicou-se. O número de carcaças de elefantes é seis vezes superior em certas áreas do país. Dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa, fez com que o número de carcaças estimado em contagens aéreas triplicasse, de cerca de 756 em 2011 para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Armas da polícia moçambicana usadas
O relatório afirma que, apesar do número de armas apreendidas estar a aumentar, muitas destas pertencem a instituições de segurança moçambicanas. Um dos exemplos apontados indica que uma das armas da polícia moçambicana em Masssingir foi apreendida três vezes consecutivas em atividades de caça furtiva no Parque Nacional do Limpopo.
Foto: E. Valoi
Rinocerontes moçambicanos extintos
Segundo o estudo, a caça furtiva levou à extinção das populações de rinoceronte em Moçambique no ano passado, com a morte dos últimos 15 rinocerontes no final de 2013. As autoridades acreditam agora que a maioria dos caçadores opera a partir da zona do Limpopo, área que faz fronteira com Parque National Kruger na África do Sul.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Elefantes da Reserva do Niassa sob ameaça
A população de elefantes de Moçambique concentra-se, na sua maioria, na Reserva Nacional do Niassa e no distrito de Mágoè, além das zonas transfronteiriças. Mas dados preliminares indicam que a caça furtiva na Reserva Nacional do Niassa fez com que o número de carcaças, estimado em contagens aéreas, triplicasse de cerca de 756 em 2011, para 2.365 em 2013.
Foto: E. Valoi
Quirimbas também sob ameaça
Também noutras áreas tem aumentado a caça de elefantes. Em novembro do ano passado, a WWF Alemanha financiou uma contagem áerea no Parque Nacional das Quirimbas. Um em cada dois elefantes avistados era um carcaça, num total de 811. Este número é seis vezes superior às contagens de 2011, onde o número de carcaças contabilizado era 119. Na foto: um elefante morto na Reserva do Niassa.
Foto: Estácio Valoi
Capacidade de deteção continua fraca
O relatório acrescenta que a capacidade das autoridades moçambicanas em detetar marfim nos portos e aeroportos do país é fraca (na foto: guardas da Reserva do Niassa). No entanto, as apreensões aumentaram um pouco: em 2013 foram apanhados cerca de 20 chifres de rinocerontes no Aeroporto de Maputo. No primeiro trimestre de 2014, já se contabilizam 6 chifres de rinoceronte apreendidos.
Foto: E. Valoi
Aumento da procura nos mercados asiáticos
A WWF acredita que o aumento da caça está relacionado com o incremento da procura nos mercados asiáticos, onde o chifre de rinoceronte é usado na medicina tradicional asiática, uma vez que é considerado um ingrediente essencial. O marfim, por sua vez, é visto como uma raridade e um item de luxo, algo muito prezado nas classes emergentes chinesa e vietnamita.
Foto: E. Valoi
Moçambicanos incriminados no Kruger
Em meados de junho de 2014, apareceram cartazes populares na zona da fronteira do Parque Nacional Kruger com Massingir que acusam Moçambique de ser o principal responsável pela morte dos animais na reserva sul-africana. Os cartazes revindicavam ainda a reconstrução da cerca que marca a fronteira entre os dois parques. Só nos primeiros meses do ano, foram presas 57 pessoas e mortos 266 animais.
Foto: JON HRUSA/AP/dapd
Patrulhas do Kruger matam caçadores
Nos últimos anos tem aumentado o número de incidentes entre caçadores furtivos e os guardas-patrulha do Parque Nacional Kruger da África do Sul, acabando muitas vezes com a morte ou prisão dos caçadores furtivos. Segundo a polícia de Moçambique, morrem, por mês, dois jovens moçambicanos por causa da caça furtiva.