Fronteiras vulneráveis facilitam ação de grupo extremista
Sitoi Lutxeque (Nampula)
17 de outubro de 2017
Dirigente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) diz que os serviços secretos estão a negligenciar as fronteiras e a segurança interna do país.
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A fragilidade no controlo das fronteiras do território moçambicano pode ser uma das causas que teriam originado os recentes ataques terroristas no distrito costeiro da Mocímboa da Praia, em Cabo Delgado. É isso o que diz o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), segundo maior partido da oposição. De acordo com o MDM, essa vulnerabilidade da segurança não se limita apenas às fronteiras; ela também é facilmente percebida no interior do país.
O MDM pede que os serviços secretos de Moçambique reforcem o supervisionamento a extremistas estrangeiros, em vez de vigiar os próprios cidadãos moçambicanos.
MDM/ críticas à insegurança no norte de Moçambique - MP3-Mono
Segundo a polícia, desde o início deste mês, os ataques com catanas e metralhadoras já teriam provocado pelo menos 28 mortos (seis elementos das autoridades, 19 atacantes e um líder comunitário) e um número indeterminado de feridos. A informação é de que 52 pessoas foram detidas, na sequência daquele que teria sido o primeiro ataque protagonizado por um grupo radical islâmico em Moçambique a 05 de outubro.
Críticas às autoridades
Para o secretário-geral do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Luís Boavida, o ataque em Mocímboa da Praia, na província nortenha de Cabo Delgado, é prova de que a insegurança está a reinar por todo o lado. "Isso mostra até certo ponto a fragilidade da segurança do nosso território, tanto em termos de controlo de fronteiras quanto como do controlo dos próprios cidadãos do país."
O MDM acredita que os recentes confrontos em Mocímboa da Praia poderiam ter sido evitados. Esse partido alega que medidas de prevenção foram ignoradas por parte das autoridades governamentais, sobretudo pelas lideranças comunitárias e policiais. "A própria população diz ter vindo a chamar a atenção das autoridades competentes desde 2014 sobre a movimentação de indivíduos estranhos em Mocímboa da Praia. Só que essas estruturas fizeram ouvido de mercador e não levaram a sério", lamentou Boavida. Ele ainda exigiu mais ação por parte da polícia nessa questão que está a afligir a todos.
Ponto e contraponto
O porta-voz do Comando Geral da Polícia da República de Moçambique, Inácio Dina, assegurou que as investigações estão em andamento. "Primeiro responsabilizar. Se de facto havia pessoas que sabiam da situação (entrada de estranhos na região), e não tomaram as medidas necessárias, essas pessoas devem ser responsabilizadas. Elas devem explicar porque é que agiram assim, até deixar a situação chegar ao ponto que chegou", referiu.
Mas Luís Boavida não está convencido. Para ele, é responsabilidade da segurança nacional assegurar que "o Estado moçambicano esteja em boas condições e também dar orientações às instituições para tomada de decisão".
O secretário-geral do MDM denunciou perseguição aos partidos políticos por parte dos Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE). Em entrevista à DW África, ele chegou a fazer um apelo às instituições de segurança do Estado, no caso, o SISE. "Deixem de se dedicar à perseguição dos líderes dos partidos políticos, deixem de andar atrás das atividades dos partidos políticos e passem a cuidar de facto da segurança nacional", alertou Boavida.
Na cidade de Nampula vive-se um clima de incerteza sobre a realização do segundo congresso do MDM, em dezembro próximo. Muitas pessoas estão indignadas com o assassinato do edil Mahamudo Amurane e aconselham a mudança do local do congresso. Ao que Luís Boavida, secretário-geral do MDM, responde: ‘‘A direção do partido e outros órgãos decidiram que o congresso mantém-se em Nampula. Portanto, o nosso congresso continua como havíamos programado'', declarou.
O que é o Estado Islâmico?
As origens do grupo terrorista remontam à invasão americana do Iraque, em 2003. Nasceu como oposição sunita ao domínio xiita. Inicialmente chamou-se "Estado Islâmico do Iraque e do Levante" e virou ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com o derrube do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo surgiu da união de diversas organizações extremistas sunitas e grupos leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra o domínio dos xiitas no Governo do Iraque.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al-Qaeda
A insurreição tornou-se cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi (foto), fundador da Al-Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram as suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea. Foi então sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Abdullah ar-Raschid al-Baghdadi (ambos mortos em 2010). A Al-Qaeda no Iraque (AQI) mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). Nos anos seguintes, Washington intensificou a sua presença militar no país.
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Regresso dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a reagrupar-se, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al-Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o Estado Islâmico atravessou a fronteira para participar da luta contra o Presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram uma fusão com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al-Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EI e a central da Al-Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do desentendimento com a Al-Qaeda, o EI fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando a sua segunda maior cidade, Mossul, a 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já tinha sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana de Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista estratégico quanto económico. Ela é um importante ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Com a tomada de Mossul, o EI também conquistou 429 milhões de dólares na filial local do Banco Central do Iraque. Assim sendo, o Daesh - como é conhecido em árabe - tornou-se um dos grupos terroristas mais ricos.
Foto: Getty Images
O califado do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho de 2014, a organização declarou um califado, um estado islâmico que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e faz lembrar os califados muçulmanos históricos. Abu Bakr al-Bagdadi foi apresentado como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da sharia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado". Muitos foram executados, mulheres violadas e vendidas como escravas a jihadistas do EI. Os xiitas também têm sido alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o património histórico
O EI já destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. O EI diz que as esculturas antigas entram em contradição com a sua interpretação radical dos princípios do Islão. Especialistas afirmam, porém, que o grupo vende ilegalmente estátuas pequenas no mercado internacional, enquanto as maiores são destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Nas suas ofensivas armadas, o grupo tem saqueado centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupado diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Os seus militantes também se apoderaram de armamento militar de fabrico americano das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional. Seguidores da ideologia do EI perpetraram vários atentados terroristas na Europa.