Fundos da Covid-19 usados para financiar “sacos azuis”?
21 de setembro de 2021O Governo de Moçambique pediu aos parceiros internacionais um apoio de cerca de 700 milhões de dólares para fazer face aos impactos adversos da pandemia da Covid-19.
Mas segundo o Centro de Integridade Pública (CIP), "o relatório mais atualizado do uso de fundos da Covid-19 (6º Relatório) divulgado pelo Ministério da Economia e Finanças, que faz referência ao ponto de situação em relação aos fundos até ao mês de janeiro de 2021, apresenta¸ para além das necessidades inicialmente previstas, um dado novo referente ao apoio a empresas públicas".
A ONG destaca que o facto não constava das necessidades indicadas pelo Governo e sequer foi previamente indicado publicamente que seria levada a cabo uma revisão do plano inicial para inserção de novas necessidades. Portanto, defende, "levanta-se a necessidade de se tornarem públicas as alterações ao plano, apresentando-se igualmente as razões por detrás destas alterações".
O CIP queixa-se que "o fator preocupante é que não foi divulgada informação sobre a racionalidade, as motivações, os objectivos, as metas e as áreas específicas em que este apoio foi alocado".
Os beneficiários
Adicionalmente, lembra o CIP, "as empresas públicas selecionadas, nomeadamente a Empresa Municipal de Transporte Rodoviário de Maputo (EMTPM), a Empresa Municipal de Transporte Público da Matola (EMTM), a Empresa Municipal de Transporte Público de Dondo (EMTPD), a Empresa Correios de Moçambique (CDM), a Empresa Aeroportos de Moçambique (ADM) e a empresa Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) fazem parte do leque de empresas públicas que se beneficiam anualmente de subsídios do Estado".
Na sua publicação, a ONG lembra que "a empresa Correios de Moçambique (CDM) foi extinta no ano corrente pelo Governo devido à sua situação financeira historicamente debilitada. Adicionalmente, não se arrolam os objetivos das transferências de que esta empresa, assim como as restantes¸ são beneficiárias".
Como monitorar?
A ONG que luta por transparência destaca que "o problema reside no facto de os critérios e os motivos que levaram o Governo a selecionar as seis empresas públicas para a lista dos beneficiários não terem sido explicados e nem tornados públicos nos documentos do Governo relativos à gestão dos fundos da COVID-19".
Assim, insiste o CIP, "não existe informação pública que explique em que áreas específicas nestas empresas os montantes de apoio recebidos foram alocados facto que dificulta a monitoria destes recursos pela sociedade".
A crise provocada pela pandemia da COVID-19 afetou todos os setores da economia, inclusive as empresas públicas, reconhece a ONG. Contudo alerta que "esta situação não deve ser tomada como uma oportunidade para usar fundos que podem ter grande impacto em sectores sociais e económicos com eficiência produtiva, financiando empresas públicas com reconhecimento de uma gestão ineficiente e onerosa para os cofres do Estado".
Para o CIP, "a falta de informação "é um indicador de falta de transparência e de má aplicação de fundos que o país tem recebido nesta situação de emergência".