Para entidades diplomáticas, políticas, governamentais e jurídicas do país, as mortes de membros de partidos revelam ódio e intolerância entre o Governo e a RENAMO.
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Os assassinatos de membros da RENAMO, o maior partido da oposição em Moçambique, e da FRELIMO, atualmente no poder, mostram que a paz está longe de se concretizar. A informação circula entre políticos, diplomáticos e jurídicos do país, que dizem não entender a razão da escalada de violência.
A preocupação agora é como acabar com estes atos. O representante da União Europeia em Moçambique, Sven von Burgsdorff, considera que deva haver mais confiança entre as partes: "O problema é falta de confiança entre a oposição e o Governo, assim como entre muitos atores de âmbito político e social", diz von Burgsdorff.
Enquanto houver partidos armados, o país nunca terá uma paz duradora, reafirma a FRELIMO, através do seu porta-voz António Niquice: "nós só podemos acreditar que esta onda de assassinatos e de crimes bárbaros que têm estado a ocorrer é daqueles que, de facto, não querem a paz em Moçambique e que ilegalmente continuam a deter armas e a semear este clima de pânico e terror", diz.
RENAMO queixa-se de assassinatos políticos
A guarda presidencial do líder da RENAMO, Afonso Dhlakama, nunca fez mal a ninguém com as armas que detém; diz o porta-voz do partido, António Muchanga. "O presidente Dhlakama viveu todos estes anos com aquela segurança e ela nunca criou problemas. Queremos garantias do que se faz com a segurança dos quadros da RENAMO", informa Muchanga.
Ainda segundo a RENAMO, as mortes dos seus membros são encomendadas pelo Governo para fragilizar o partido. O seu porta-voz diz que muita gente está a ser morta em Moçambique pela polícia e com o conhecimento do comandante das Forças de Defesa e Segurança, por ordem do ministro do Interior e do Comandante Geral da Polícia.
A polícia diz que está preocupada
A polícia preocupa-se cada vez mais com este cenário, afirma o porta-voz do Comando Geral, Inácio Dina. Até ao momento, no entanto, a instituição não fez detenções de vulto mas promete trabalhar para deter os implicados nos assassinatos de políticos.A polícia anunciou ainda a detenção e a posterior fuga do assassino do procurador Marcelino Vilanculos; e seu porta-voz diz haver necessidade de que o mesmo seja reconduzido para ser responsabilizado pelo crime do qual é acusado.
10.11.2016 Moçambique - Instabilidade - MP3-Mono
Por sua vez, o bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique, Flávio Menete, apela ao Governo e à RENAMO para que sejam feitos esforços para se alcançar o mais rapidamente possível a paz.
Mas a instabilidade político-militar dever continuar no país. A RENAMO segue a reivindicar sua vitória eleitoral nas eleições ocorridas 2014 em seis províncias do centro e norte do país.
20 Anos de Paz em Moçambique: Uma viagem
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos.
Foto: Marta Barroso
A guerra presente todos os dias
A 4 de outubro de 1992, FRELIMO e RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz, pondo fim a 16 anos de guerra civil em Moçambique. Apesar da paz, a guerra civil continua a marcar a vida de muitos moçambicanos. Joula estava grávida de oito meses quando uma mina anti-pessoal lhe arrancou um pé em 1991. Na noite anterior, a RENAMO tinha atacado a aldeia e plantado minas em redor.
Foto: Marta Barroso
De armas a enxadas... ou cadeiras
Desde 1996, o projeto "Armas em Enxadas" dá um novo destino ao material bélico que destruiu milhares de vidas durante a guerra civil. O objetivo da iniciativa, lançada pelo Conselho Cristão de Moçambique, é criar, com as armas, obras de arte com mensagens de paz. Muitas peças foram encontradas pelo país, outras foram recolhidas a privados.
Foto: Marta Barroso
Ataques inesperados
São as mesmas armas que há 20 anos eram usadas para atacar seres humanos como estes refugiados em Chamanculo, perto da capital, Maputo, em 1992. Chamanculo nunca recuperou da chegada de milhares de refugiados da guerra civil. Ainda hoje, é um bairro pobre. Foi aqui que nasceram figuras ilustres do país como Maria de Lurdes Mutola.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Ruas desertas em Maputo
A guerra, que se arrastou por 16 anos, atrasou o desenvolvimento do país. Também a vida social sofreu, até mesmo na capital. Engarrafamentos eram, durante a guerra e nos primeiros anos seguintes, algo raro como se pode ver nesta fotografia do centro de Maputo de 1992.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da guerra
Em 1990, Moçambique era considerado o país mais pobre do mundo. Em 2011, ocupava o lugar 184 entre 187 Estados no Índice de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, PNUD. 20 anos depois de assinada a paz, os moçambicanos continuam a viver, em média, 50 anos.
Foto: DW/Cristina Krippahl
Filhos da paz
20 anos depois do Acordo Geral de Paz, ainda há muito que fazer no combate à pobreza em Moçambique. As províncias do Niassa, de Maputo, Cabo Delgado e Tete (na imagem) são, segundo o Programa da ONU para o Desenvolvimento, PNUD, as que têm maior incidência de pobreza no país.
Foto: Marta Barroso
Casa de Espera
Iniciativas como esta na aldeia de Vinho, no Parque Nacional da Gorongosa, província de Sofala, contribuem para diminuir a mortalidade infantil e materna. Atualmente, em Moçambique cerca de 500 mães morrem por cada 100 mil crianças nascidas vivas. Para evitar que isso aconteça na aldeia de Vinho, a Casa de Espera assiste as mulheres grávidas das redondezas na preparação dos partos.
Foto: Marta Barroso
Economia dominada por megaprojetos
A paz possibilitou megaprojetos, como o da exploração de carvão em Moatize, Tete. De futuro, a esperança é de que os rendimentos destes projetos beneficiem mais a população. Devido aos incentivos fiscais de que gozam as multinacionais ligadas a eles, o Estado moçambicano deixa de ganhar mais de 200 milhões de dólares por ano, segundo o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE).
Foto: Marta Barroso
Carvão, a euforia de Tete
74 toneladas de carvão já estão carregadas nesta transportadora que pode levar até 400 toneladas. O carvão da província central de Tete tem vindo a atrair investidores nacionais e internacionais à procura do "El Dorado" que tem limitado a diversificação da economia nacional na segunda década de paz em Moçambique.
Foto: Marta Barroso
Cahora Bassa...
Durante a guerra civil, as linhas de transmissão de Cahora Bassa foram alvo de ataques da RENAMO. Hoje, a barragem funciona em pleno. Cahora Bassa tem uma capacidade instalada de 2.075 megawatts, a maior parte da energia é exportada para os países da região: 70% para a África do Sul e 5% para o Zimbabué. Apenas um quarto da eletricidade aqui produzida é consumida em Moçambique.
Foto: DW/M. Barroso
... um elefante branco para esta área do país?
Ainda há poucas casas em redor de Cahora Bassa com acesso regular à eletricidade. Para o economista moçambicano Carlos Castel-Branco do IESE, dever-se-iam estender as bases do desenvolvimento do país às aldeias e vilas em torno da barragem para que também aqui a vida económica se transformasse num elemento de estímulo para o investimento.
Foto: Marta Barroso
Gentes ligadas
A reabilitação das infraestruturas permite agora uma maior mobilidade e fomenta o comércio interno. A linha férrea de Sena liga a província de Tete, no interior de Moçambique, à cidade portuária da Beira. No tempo da guerra civil, foi encerrada e acabou por ser completamente destruída. Nos últimos anos, o corredor ferroviário foi reabilitado para escoar sobretudo o carvão da região de Tete.
Foto: Marta Barroso
Gentes apertadas
O comboio é um dos meios de transporte mais baratos em Moçambique. Em fevereiro de 2012, a Linha de Sena abriu a passageiros em toda a sua extensão. A reconstrução foi feita por troços e acabou por tomar muito mais tempo que o previsto, porque o consórcio indiano responsável pelas obras não cumpriu diversos prazos. Grande parte do dinheiro veio do Banco Mundial.
Foto: Marta Barroso
Há esperança em Moçambique
Idalina Melesse viajou de comboio pela primeira vez em 2012. Durante a guerra civil, os ataques impediram-na de se mover dentro do país. Desde então e até à reabertura da Linha de Sena, não tinha tido dinheiro para longas viagens. A Linha de Sena e outras infraestruturas não só unem moçambicanos, mas devolvem-lhes a liberdade de movimento e a facilidade de comunicação confiscadas pela guerra.