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Faltam recursos para desminagem em Angola

Lusa | tms
27 de abril de 2017

País precisa de angariar 80% do financiamento para eliminar minas terrestres até 2025. Governo angolano faz desminagem apenas em áreas com interesse económico, lamenta instituto britânico.

Minenräumung in Angola
Foto: Cecile de Comarmond/AFP/Getty Images

Angola precisa de 253 milhões de euros para eliminar as minas terrestres no país, mas tem disponível menos de um quinto desse valor. O alerta foi lançado pelo diretor do Mines Advisory Group, Chris Loughran, que defendeu que a comunidade internacional, em especial o Reino Unido, deve rever as suas prioridades.

Segundo o ativista, Angola tem prometido apenas 19% do valor necessário para a desminagem, frisando que são necessários 34,37 milhões de dólares (31,59 milhões de euros) por ano para atingir o objetivo até 2025. 

Loughran falava esta quarta-feira (26.04) num evento no edifício do parlamento britânico, organizado pelo grupo parlamentar de amizade a Angola, intitulado "Ação sobre as Minas em Angola: O Papel da Comunidade Internacional". 

"Interesse económico"

Atualmente, a Mines Advisory Group é uma das três organizações não-governamentais estrangeiras que mantêm atividades para a desminagem em Angola. Há também brigadas dirigidas pelas autoridades angolanas, que se têm centrado em limpar áreas estratégicas com maior interesse económico. 

Angola ainda tem mais de mil minas por eliminarFoto: GICHD

Porém, os angolanos "mais rurais, mais desfavorecidos, não tiveram a atenção das autoridades", lamentou o diretor do programa África do Instituto Real de Relações Internacionais, Alex Vines, urgindo o Reino Unido a investir na "desminagem humanitária". 

Desde 2010 que o governo britânico deixou de dar apoio humanitário a Angola para priorizar países com menos rendimentos, mas recentemente prometeu 100 milhões de libras (118 milhões de euros) para aplicar na limpeza de minas terrestres nos próximos três anos, estando por decidir quais os países onde vai intervir. 

Desminagem

A embaixadora dos Estados Unidos da América (EUA) em Angola, Helen Meagher La Lime, reiterou a necessidade da "desminagem humanitária", que liberta terrenos não só para o uso civil, mas que deixam de ser ameaça direta para a população. 

Dos 982 quilómetros quadrados considerados suspeitos de estarem minados, 56% do total, cerca de 549 quilómetros quadrados, foram limpos.  O resultado em partes deste território, descreveu, foi o cultivo de campos e a construção de escolas e habitações. 

Entretanto, lamentoua embaixadora, atualmente 88 mil vítimas de minas terrestres ainda vivem no país e nos últimos 12 meses morreram 21 pessoas. 

As minas ainda são um entrave para muitos investimentos no país, segundo o embaixador de Angola no Reino UnidoFoto: GICHD

A diplomata lembrou que os EUA são atualmente os principais doadores internacionais para a desminagem, seguidos pelo Japão e Suíça e a União Europeia, mas que os donativos caíram 86% na última década. 

O embaixador de Angola no Reino Unido, Miguel Gaspar Fernandes Neto, adiantou que tem recebido apoio de outros países como a Rússia e África do Sul.  "O processo de diversificação e investimento estrangeiro na economia angolana torna-se difícil quando as pessoas têm conhecimento do problema das minas", reconheceu.  

Recursos

Angola é um dos 11 países que ainda têm mais de 100 quilómetros quadrados de áreas com minas terrestres, segundo um relatório da International Campaign to Ban Landmines (ICBL) de 2015.

O país africano lusófono tinha, segundo dados do ano passado, 1.858 áreas livres de minas e 1.435 por limpar, contando apenas com apoio financeiro dos EUA, Japão, Suíça e União Europeia.

A necessidade de 275 milhões de dólares já tinha sido identificada no ano passado, durante o encontro da Comissão Nacional Intersetorial de Desminagem e Assistência Humanitária (CNIDAH) e dos principais doadores da ação contra as minas em Angola, quando pediu também 228 mil dólares (206 mil euros) para atualização das informações sobre as minas no país.

 

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