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Faltou cautela aos investidores em Moçambique, diz analista

Lusa
13 de dezembro de 2016

Analista da agência Fitch acredita que faltou cautela aos bancos ao emprestarem dinheiro às empresas públicas deste país. Apesar da crise, Governo moçambicano prevê crescimento económico e redução da inflação em 2017.

Firmenschild Ratingagentur Fitch New York USA
Foto: picture-alliance/dpa

O analista da agência de notação financeira Fitch que segue a economia moçambicana considera que os bancos que emprestaram dinheiro às empresas públicas do país deviam ter tido mais cuidado, corresponsabilizando-os pela atual situação de incumprimento financeiro. Em entrevista à agência de informação financeira Bloomberg, Federico Barriga Salazar disse que os investidores deixaram-se levar pela narrativa da criação de riqueza em África e foram excessivamente otimistas.

 "Houve exuberância dos investidores no mercado sobre África ser a derradeira fronteira, há três anos", disse o analista, vincando que "a falta de transparência do Governo na divulgação dos empréstimos evidencia a fraqueza dos padrões de governação e na moldura de políticas públicas".

Em causa está o empréstimo de 750 milhões de dólares (705,82 milhões de euros) à Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), feito a uma empresa desconhecida, apenas com base numa garantia governamental de legalidade duvidosa e apresentado num prospeto de duas páginas, acrescentou o analista. 

Esse empréstimo inicial acabou por ser convertido em títulos de dívida soberana no princípio deste ano (2016), e Moçambique está agora novamente a tentar reestruturar os 727 milhões de dólares (684,17 milhões de euros)

Petróleo e Gás

Produção de gás em Moçambique. Foto ilustrativa.Foto: ENI East

No que pode ser uma resposta ao argumentário dos investidores, que aparentemente se deixaram convencer pelas promessas de receitas resultantes da exploração de gás natural, Barriga Salazar afirmou que "muitos estavam a dizer que Moçambique acabaria por receber uma cascata de receitas do petróleo e gás", mas "mesmo no mais otimista dos cenários, nunca teriam tido aquelas receitas do gás natural liquefeito por esta altura".

A agência de notação financeira desceu o 'rating' de Moçambique para RD - Restricted Default, um passo acima do mais baixo nível de incumprimento financeiro.

Moçambique está num impasse com os credores na sequência do pedido de reestruturação de 1,73 mil milhões de dólares (1,63 mil milhões de euros) em empréstimos comerciais, já depois de o Fundo Monetário Internacional (FMI) ter suspendido a ajuda ao país quando foram divulgadas dívidas escondidas no valor de 1,4 mil milhões de dólares (1,32 mil milhões de euros).

O Governo quer chegar ao acordo com os investidores para preparar o caminho para um novo acordo financeiro com o FMI, mas um grupo que representa a maioria dos investidores rejeitou a proposta, dizendo que não começará as negociações até um acordo com o FMI estar preparado e o resultado da auditoria internacional estar publicado.

Moçambique assumiu em outubro que não tem capacidade para pagar os empréstimos do Credit Suisse AG e do russo VTB Capital, embora pareça estar em condições de pagar a prestação de 60 milhões de dólares (56,47 milhões de euros) em janeiro (2017). 

Já a missão do Fundo Monetário Internacional (FMI) a Maputo advertiu hoje (13.12), em comunicado, que Moçambique precisará de mais medidas de ajuste macroeconómico em 2017, apontando a contenção salarial e a eliminação gradual dos subsídios gerais a bens de consumo. 

Crise e inflação

Inflação é alta nos mercados de Maputo.Foto ilustrativa.Foto: DW/R. da Silva

No Orçamento do Estado (OE) que apresentou na semana passada na Assembleia da República, o Governo moçambicano prevê um crescimento económico na ordem de 5,5%, face a uma estimativa de 3,9% este ano (2016) e projeta para 2017 uma inflação de 15,5% contra 18% no ano em curso.

 "Esta tendência [da inflação para 2017] é suportada pela recuperação do crescimento económico e priorização pelo Governo das ações que estimulem a oferta de bens e serviços", aponta a previsão da conta do estado moçambicano do próximo ano.  

Moçambique registou uma inflação acumulada de 21,07% em novembro passado e uma homóloga de 26,83%, segundo o Índice de Preços no Consumidor (IPC) do Instituto Nacional de Estatísticas moçambicano (INE). A taxa de inflação de 2016 ano será uma das mais altas dos últimos anos, num país que vinha conhecendo uma percentagem de subida dos preços abaixo de dois dígitos.

 

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