Vários agricultores dão conta de perdas substanciais de culturas, enquanto organizações não-governamentais avisam que não vão poder prestar apoio a partir do próximo mês de abril. Tempestade Dineo veio piorar o cenário.
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A seca na província de Inhambane, localizada no sul de Moçambique, está a fazer com que várias famílias estejam a sofrer com a falta de comida. Os agricultores têm vindo a perder grande parte das suas culturas.
O Governo Provincial não avança o número exato de pessoas que, desde o ano passado, estão a passar dificuldades devido à seca que assola esta região, no entanto, afirmam vários cidadãos locais, há várias famílias a passar fome, sendo necessária ajuda.
Em entrevista à DW África, Herculano Maoche, líder comunitário do Posto Administrativo de Pembe, distrito de Homoíne, afirma que, para além da seca, algumas machambas foram também afetadas por pragas. Segundo este responsável, "as pessoas estão a viver de qualquer maneira", não havendo ainda assim, até à data, vítimas mortais.
Organizações não-governamentais têm distribuído comida a algumas famílias, mas o apoio não é suficiente, dá conta Rui Nassune, também residente em Pembe. "Precisamos de mais apoio, farinha, arroz, mandioca, amendoim, feijão, sabão e chapas de zinco", afirma.
Dineo agravou situação
A passagem da tempestade Dineo, no passado mês de fevereiro, veio agravar a situação em Inhambane. O mau tempo destruiu várias infraestruturas e machambas. Carlos Armando, residente no distrito de Panda, disse à DW África que perdeu hectares de diversas culturas. Acrescentou ainda que as organizações não-governamentais anunciaram que não vão conseguir dar mais apoio a partir do próximo mês. "Perdi uma parte da agricultura, muito milho e dois hectares de mandioca foram soprados pela ventania", deu conta Carlos Armando, acrescentando que foram informados pelas ONG que março seria o último mês de apoio.
14.03 Desnutrição em Inhambane - MP3-Mono
A DW contactou várias organizações para falar sobre o assunto, mas não conseguiu obter uma resposta.
A produção de caju também foi afetada pela seca. Acácio Zango, chefe da localidade de Pembe-sede, chama a atenção para o facto destar ser uma grande "fonte de rendimento para a comunidade de Pemba". 36 mil hectares perdidos
Segundo Filomena Maiopue, diretora provincial de agricultura e segurança alimentar, em toda a província de Inhambane, cerca de 36 mil hectares de culturas ficaram perdidas. "A primeira avaliação que temos aponta para 36 mil hectares de culturas perdidas, desde milho, feijões, etc", deu conta.
Para minimizar a situação da fome, os camponeses vão receber sementes melhoradas da companhia de telecomunicações Vodacom. Daniel Chapo, Governador da Província de Inhambane, sublinha que a distribuição deve ser feita o quanto antes. "No mês de março começa a segunda época agrária, precisamos de ter sementes em tempo útil. A logística da distribuição de sementes demora até chegar aos nossos produtores. Isto deve ser feito em tempo recorde, estamos em emergência".
Seca em África
Não chove, as colheitas são más, pouco há para comer, há quem consuma ervas para saciar a fome: É a pior seca das últimas décadas. 14 milhões de pessoas estão em perigo. Angola e Moçambique são dois dos países afetados.
Foto: Reuters/T. Negeri
À espera de água
Os jerricans estão vazios, não há água à vista. A Etiópia atravessa a pior seca das últimas três décadas, sem chover durante meses a fio. Segundo as Nações Unidas, mais de dez milhões de pessoas precisam urgentemente de assistência alimentar. Em breve, o número pode duplicar.
Foto: Reuters/T. Negeri
Sem fonte de sustento
Uma grande parte dos etíopes vive da agricultura e da criação de gado. Os animais são, muitas vezes, a fonte de sustento da família. "Vi as últimas gotas de chuva durante o Ramadão", conta um agricultor da região de Afar, no nordeste da Etiópia. O mês de jejum dos muçulmanos terminou em julho. "Desde essa altura, nunca mais choveu. Não há água, não há pasto. O nosso gado morreu".
Foto: Reuters/T. Negeri
Perigo para as crianças
Em 1984, mais de um milhão de pessoas morreu de fome na Etiópia. Pouco mais de três décadas depois, os etíopes voltam a correr perigo, sobretudo as crianças. Segundo o Governo etíope, mais de 400.000 rapazes e raparigas estão gravemente subnutridos e precisam de tratamento médico.
Foto: Reuters/T. Negeri
O El Niño
A colheita também foi magra no Zimbabué. Neste campo perto da capital, Harare, em vez de maçarocas de milho viçosas crescem apenas estes grãos secos. A seca foi agravada pelo El Niño. Noutros locais, o fenómeno meteorológico provocou chuvas fortes e inundações.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
No limite
Esta vaca está no limite das suas forças, mal consegue manter-se em pé. Os agricultores de Masvingo, no centro do Zimbabué, tentam movê-la. Em 2015, choveu metade do que havia chovido no ano anterior. Os campos ficaram completamente secos.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Seca em Moçambique
"Lá no nosso bairro já perdi trinta e cinco cabeças", conta um criador de gado do distrito de Moamba, a 80 quilómetros da capital moçambicana, Maputo. Milhares de famílias estão em situação de insegurança alimentar. A seca afeta principalmente o sul do país. O norte e centro têm sido fustigados por chuvas intensas.
Foto: DW/R. da Silva
Ervas para combater a fome
A província do Cunene, no sul de Angola, também tem sido afetada pela seca. À falta de outros alimentos, há populares que comem ervas para saciar a fome: "Muitos morreram, não há comida. Mas, depois, estas ervas causam diarreia", contou um morador do município do Curoca.
Foto: DW/A.Vieira
Rio seco
Seria impossível estar aqui, não fosse a seca. O rio Black Umfolozi, a nordeste da cidade sul-africana de Durban, ficou sem água à superfície. Só cavando os habitantes conseguem obter o líquido vital.
Foto: Reuters/R. Ward
Seca inflaciona os preços
O Malawi também atravessa um período de seca. E isso reflete-se aqui neste mercado perto da capital, Lilongwe. Os preços de produtos básicos como o milho aumentaram bastante, porque a colheita foi má e é necessário importá-los. Muitas vezes, os habitantes mal conseguem pagar os alimentos que precisam para sobreviver.