FAO alerta contra lagarta que ameaça plantações africanas
Rafael Belincanta (Roma)
24 de março de 2018
Lagarta nativa das Américas chegou a terras africanas há apenas dois anos, mas os danos à produção agrícola já são consideráveis. ONU trabalha para evitar mais perdas, sobretudo na safra do milho.
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Uma lagarta parecida com tantas outras, mas com um apetite voraz, capaz de reduzir à metade a colheita de milho, seu alimento favorito. Mas não é somente essa cultura que está ameaçada, a lagarta do cartucho devora praticamente tudo o que encontrar pela frente. Espécie nativa das Américas, os primeiros registos em África foram feitos em 2016 e hoje está presente de Moçambique a Cabo Verde.
Entretanto, ainda há muitas dúvidas sobre o que fazer para combater essa praga. A diretora-adjunta do Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Maria Helena Semedo, explica o que o agricultor deve fazer se desconfiar da presença da lagarta do cartucho na sua plantação.
FAO alerta contra lagarta que ameaça plantações africanas
"Deve imediatamente contactar os serviços de extensão rural, para que eles lhe possam guiar, reconhecer e certificar que se trata da lagarta do cartucho. E, depois, ajudá-los em nível de uma gestão integrada através da luta biológica com outras plantas ou animais que possam destruir a lagarta do cartucho e evitar que ela se propague em outras culturas".
Maria Helena alerta para o uso indevido de pesticidas, uma vez que a lagarta do cartucho sobrevive à maioria dos agrotóxicos. "Em caso de necessidade, pode-se usar pequenas quantidades de pesticidas, mas ter os pesticidas adaptados porque não é qualquer pesticida". Segundo a diretora, é necessário "saber quais são os pesticidas que causam o mínimo de problema ao ambiente".
Experiência brasileira
A diretora-adjunta da FAO recorda que nas Américas, sobretudo no Brasil, a tendência é utilizar bioinseticidas para combater a praga. Mas essa solução deve ser bem estudada para poder ser aplicada ao contexto africano das pequenas produções.
Por isso, uma visita de estudos deve ser feita ao Brasil. "Até esse momento já temos cerca de 30 países africanos que vão se juntar com a FAO para ver a experiência brasileira, ver a tecnologia, e quais as ações que eles utilizaram no combate a essa praga e depois analisar bem para ver o que é que se pode aplicar à África".
A FAO diz que é preciso cerca de 87 milhões de dólares para as pesquisas de combate à lagarta do cartucho, mas até agora foram arrecadados somente 13 milhões. O programa das Nações Unidas teme que em breve a praga possa atravessar o Saara e chegar às plantações da Europa.
Chia: o superalimento que está a mudar agricultores africanos
As sementes de chia são originárias da América Central e do Sul. Agora, muitos agricultores africanos também descobriram as possibilidades de negócios que esta cultura oferece – inclusive para o mercado alemão.
Foto: imago/Westend61
Porquê a chia?
As sementes de chia estão mais em alta do que nunca. Seja em misturas de muesli, iogurte ou no pão, a chia pode ser usada de diversas maneiras na cozinha. Estas sementes são ricas em proteínas e ácidos gordos insaturados. Conhecida como "superalimento", a chia tornou-se uma tendência nos Estados Unidos e Europa há muitos anos. Vários mercados possuem marcas próprias de chia.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Forster
A pequena semente "super poderosa"
Originária da América Central e do Sul, as pequenas sementes de chia têm feito um longo caminho. Hoje, o Uganda é um dos países africanos mais importantes na exportação deste produto. "Agora a chia é um grande mercado", diz Robert Okello, chefe da empresa exportadora "Sage Uganda".
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Do grão tradicional à semente na moda
A produção de chia no Uganda começou há cinco anos. "De início, isto foi bem complicado", diz Okello. Os trabalhadores tiveram de aprender as técnicas de cultivo por conta própria, testar o solo em várias zonas do país e convencer pequenos agricultores a deixarem a plantação de grãos tradicionais, como o milho, para a produção de chia. Agora eles reconhecem que isto é uma oportunidade.
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Chia: Uma fonte de renda para muitas famílias
"O cultivo das sementes de chia é a nossa principal fonte de renda", explica a agricultora Elizabeth Natocho, de 41 anos, que sustenta o marido e mais nove filhos. Há alguns anos, ela ainda plantava milho, que era consumido principalmente pela família. Atualmente, em seus 42 hectares em Namayingo, no leste do Uganda, as plantas de chia estão a crescer. As sementes são exportadas para a Alemanha.
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A mudança de milho para chia
A razão principal: cultivo mais fácil e preços melhores. De acordo com Okello, a planta é mais resistente às ervas daninhas, não requer fertilizantes e precisa de pouca água – o que é ideal para países como o Uganda, que vivem longos períodos de seca. Hoje em dia, a "Sage Uganda" trabalha com cerca de 8.900 pequenos agricultores e espera este ano exportar um total de 500 toneladas de chia.
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Produção africana a ganhar espaço
Cada vez mais comerciantes alemães estão de olho em África, ainda que a produção de chia no continente não consiga acompanhar o ritmo dos produtores americanos. As exportações da América do Sul para a Alemanha foram mais que o dobro do que as de África no ano passado. Mas a produção de chia em África está a crescer abruptamente há vários anos e a ganhar mais espaço no mercado internacional.