FAO apoia agricultores nigerianos com 60 milhões de euros
AFP | Lusa | mjp
8 de abril de 2017
Agricultores vítimas do grupo radical Boko Haram, no nordeste da Nigéria, pediram ajuda para combater a crise alimentar durante uma visita do responsável da ONU para Agricultura e Alimentação.
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O diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, esteve na Nigéria durante 24 horas e anunciou uma ajuda de 62 milhões de dólares (58,5 milhões de euros) para um período de três anos para ajudar a combater a crise humanitária no nordeste do país, onde cerca de dez milhões de pessoas precisam de ajuda alimentar e vivem abaixo do limiar da pobreza, segundo a ONU.
A FAO pretende ajudar 1,9 milhões de agricultores nos três estados do nordeste mais afetados pela violência - Borno, Adamawa e Yobe - para facilitar o acesso às sementes, fertilizantes e pesticidas para a temporada de plantio que começa dentro de três semanas.
A organização já angariou fundos sucificientes para ajudar metade dos agricultores contemplados, mas vai ser difícil encontrar os fundos restantes, de acordo com José Graziano da Silva.
Reverter os prejuízos
"Se nos puderem ajudar com poços, sementes, fertilizantes, pesticidas e dinheiro vamos produzir alimentos suficientes para nos alimentarmos", pediu na sexta-feira (7.04) Ali Kawu, um produtor de legumes, ao diretor-geral da FAO.
"Acreditamos que, se aumentar a produção, teremos maior rendimento e melhores preços", disse o agricultor durante a visita do diretor geral da FAO aos campos de Gongolon, nos arredores de Maiduguri, capital do estado Borno, epicentro da violência desde o início do conflito com os radicais islâmicos do Boko Haram, em 2009.
Os agricultores perderam três épocas sucessivas de colheitas devido ao conflito que já fez mais de 20 mil mortos e cerca de 2,6 milhões de deslocados.
"Com o apoio adequado, em dois anos, temos a capacidade de reverter os prejuízos sofridos durante os últimos três anos", assegurou Habib Bukar, um produtor de tomate. "Temos a terra e o trabalho para cultivá-la”.
Segundo a FAO, 3,6 milhões de pessoas serão afetadas pela crise alimentar no estado de Borno até ao mês de agosto, quase o dobro do ano passado.
Reféns do Boko Haram libertados na Nigéria: "Ainda dói"
As 293 mulheres e crianças libertadas na semana passada pelo exército nigeriano das mãos do Boko Haram foram levadas para um campo de refugiados perto da cidade de Yola. Mas o seu sofrimento está longe de terminar.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
O sorriso perdido
"O que se percebe imediatamente é que as crianças aqui quase não riem", conta um funcionário do acampamento de Malkohi, na periferia da cidade nigeriana de Yola. Cerca de metade das perto de 300 pessoas que eram mantidas em cativeiro pelo Boko Haram tem menos de 18 anos. Um terço das crianças no acampamento sofre de desnutrição.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Primeiros dias de vida no acampamento
Lami Musa é mãe da mais recente moradora do acampamento de Malkohi. Deu à luz na semana passada. Um dia depois foi salva por soldados nigerianos. Durante a operação de resgate várias mulheres foram mortas pelos terroristas. "Apertei firmemente a minha filha contra o meu corpo e inclinei-me sobre ela", recorda a jovem mãe.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Filho perdido durante o cativeiro
Halima Hawu não teve tanta sorte. Um dos seus três filhos foi atropelado enquanto os terroristas a raptavam. Durante a operação de resgate um soldado nigeriano atingiu-a numa perna, porque os membros do Boko Haram usam as mulheres como escudos humanos. "Ainda dói, mas talvez agora o pior já tenha passado", espera Halima Hawu.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Poucos alimentos para as crianças
Babakaka, de três anos, teve de passar seis meses com o Boko Haram. Só raramente havia algum milho para as crianças, contam antigos prisioneiros. Quando foram libertados pelos soldados, Babakaka estava quase a morrer de fome. Babakaka continua extremamente fraco e ainda não recebeu tratamento médico adequado no acampamento.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Sobrevivência por um triz
A mãe de Babakaka foi levada para o Hospital de Yola juntamente com cerca de outras vinte pessoas gravemente feridas. Durante a fuga, alguém que seguia à sua frente pisou uma mina. A explosão foi tão forte que a mulher ficou gravemente ferida. Perdeu o bebé que carregava.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Roupas usadas do Ocidente
Exceptuando algumas doações de roupas velhas, ainda não chegou muita ajuda internacional às mulheres e crianças do acampamento de Malkohi. Aqui há falta de muitas coisas, sobretudo de pessoal médico. Não há qualquer vestígio do médico de serviço no acampamento. Apenas duas enfermeiras e uma parteira mantêm em funcionamento o posto de saúde temporário.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
Dependentes de voluntários
"Não entendo por que motivo o nosso serviço de emergência nacional não faz mais", reclama a assistente social Turai Kadir. Por sua própria iniciativa, Turai Kadir chamou uma médica para tratar das crianças mais desnutridas. Na verdade, essa é a tarefa da NEMA, a agência nigeriana de gestão de emergências, que está sobrecarregada.
Foto: DW/Jan-Philipp Scholz
"Incrível capacidade de resistência"
Regina Musa voltou há poucos meses dos Estados Unidos para dar aulas de Psicologia na Universidade de Yola. Agora, a psicóloga presta aconselhamento psicológico a mulheres e crianças. "As mulheres têm demonstrado uma incrível capacidade de resistência", diz Musa. Durante o período traumático, muitas delas também se preocupavam com os filhos de outras pessoas. Autor: Jan-Philipp Scholz (em Yola)