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História

Fatima al-Fihri: A fundadora da Universidade al-Qarawiyyin

Ilham Talbi | rl
22 de agosto de 2020

Nasceu na Tunísia, mas mudou-se muito nova para a cidade de Fez, em Marrocos. Foi lá que, com a herança avultada deixada pelo pai, mandou construir uma mesquita que se transformou na famosa Universidade al-Qarawiyyin.

Projekt African Roots

Nascimento: Fatima al-Fihri nasceu em 800. Era filha de Mohammed Bnou Abdullah al-Fihri, um comerciante rico que se estabeleceu em Fez com a sua família durante o reinado de Idris II. Até hoje, a vida de Fatima guarda muitos segredos, mesmo para os historiadores. Um desses mistérios envolve a data da sua morte, que se acredita terá acontecido por volta de 878.

Fatima al-Fihri ficou conhecida como a "mãe dos rapazes". Uma alcunha que, de acordo com o historiador Mohammed Yasser Hilali, deverá estar ligada "à sua caridade e ao facto de ter incentivado jovens a estudar".

Porque decidiu Fatima al-Fihri construir uma mesquita?

Fatima era uma grande crente. E quando herdou muito dinheiro, depois da morte do pai e do marido, decidiu usá-lo para construir uma mesquita, que a comunidade muçulmana em Fez precisava. Fatima quis construir um edifício suficientemente grande para que houvesse espaço para toda a população, que crescia cada vez mais. Comprou o terreno a um homem da tribo "Hawaara" e iniciou o projeto de construção no início do mês do Ramadão, no ano 254 do calendário islâmico, ou seja, em 859, no séc. IX.

A partir do século X, a famosa mesquita de al-Qarawiyyin tornou-se no primeiro centro de estudos religiosos e a maior universidade árabe do Norte de África. Atraiu muitos estudantes e cientistas de renome. Ali eram organizados regularmente simpósios e debates. De acordo com os documentos disponíveis, foram criados pólos de ensino na universidade e noutros lugares espalhados por toda a cidade de Fez. Os mesmos registos mencionam a existência de um grande número de bibliotecas.

Porque é que a universidade de al-Qarawiyyin é tão famosa?

A universidade de al-Qarawyyin é considerada a universidade mais antiga do mundo ainda em funcionamento. Segundo a UNESCO e o Livro dos Recordes do Guiness, é anterior às primeiras universidades europeias. A data de referência é o ano em que al-Qarawiyyin foi fundada como mesquita, o que implica que o seu carácter educativo remonte aos seus primórdios. Neste sentido, é anterior à Mesquita Sankore em Timbuktu (fundada em 989) e à Universidade de Bolonha (construída em 1088).

Pela Universidade al-Qarawyyin passaram grandes nomes da época. É o caso do jurista muçulmano Faqîhs, do historiador Abdurahman Ibn Khaldun, do médico e filósofo Abu Walid Ibn Rushd, do médico andaluzo Musa Ibn Maimonou e de Gerbert de Aurillac, o Papa Silvestre II.

Lembrada por: Fatima al-Fihri é considerada uma santa e é muito respeitada entre os crentes, especialmente em Fez. Em 2017, foi criado, na Tunísia, um prémio em sua homenagem que pretende apoiar iniciativas que encorajem o acesso das mulheres à formação profissional. Foi também criado o "Erasmus Mundus Programme Al Fihri", um programa que prevê parcerias e intercâmbio entres instituições de ensino da Europa e do Norte de África.

Fatima al-Fihiri foi a fundadora da famosa Universidade al-Qarawiyyin, em Fez

Fatima al-Fihri nasceu na Tunísia, mas mudou-se cedo para Fez, em Marrocos, com toda a família e muitos outros árabes que fugiam da perseguição de que eram vítimas em Cairuão. Tanto o pai como o marido eram comerciantes abastados, o que fez toda a diferença no rumo que a vida de Fatima al-Fihri viria a tomar, explica o historiador Mohammed Yasser Hilali. "Se não tivesse herdado a tal fortuna do seu pai e do seu marido, Fatima provavelmente nunca teria pensado em construir a mesquita", diz.

Para Fatima al-Fihri, este projeto gigantesco de caridade era uma forma de se aproximar de Alá. Mas não só. Era também uma forma de responder a uma necessidade urgente da crescente população da cidade de Fez.

"Fatima tinha ouvido dizer que a mesquita construída por Idris II não conseguia receber mais crentes. No entanto, nessa altura, Fez tinha muitos migrantes vindos um pouco de todo o continente africano, mas também da Andaluzia, em Espanha. A população estava a duplicar, não só devido ao crescimento demográfico, mas também devido a estes fluxos migratórios", conta Mohammed Yasser Hilali. auqe acrescenta que "o facto de Fatima al-Fihri ter decidido construir esta mesquita mostra o quanto ela se preocupava com os problemas da cidade onde vivia".

Fatima al-Fihiri entregou-se de coração a este projeto, investindo todo o seu conhecimento e disponibilidade para que fosse um sucesso.

"Contrariamente ao que dizem algumas histórias, a construção da mesquita não pode ter demorado muito tempo porque Fatima prometeu jejuar até que o projeto estivesse concluído. Sabemos que o processo de construção começou durante o Ramadão, que é o mês em que os muçulmanos têm de fazer jejum. Ela continuou em jejum depois do Ramadão e até ao fim de construção da mesquita", afirma o historiador.

Crescimento da universidade

Durante a dinastia Almorávida, a mesquita foi-se transformando gradualmente numa universidade. Cada vez mais estudiosos viajavam até Fez para simpósios e debates. A transição tornou-se oficial com a conquista de Fez pelos merínidas. A universidade cresceu e vários outros pólos foram acrescentados por toda a cidade.

"Falámos da influência intelectual da mesquita al-Qarawiyyin em Fez, mas na verdade, esta influência ultrapassou as fonteiras de Marrocos com a África Subsariana – onde era o Sudão", afirma Mohammed Hilal. Segundo este historiador, "vários estudiosos desta região vieram para Fez estudar. E depois levaram para os seus países a cultura e educação que receberam na universidade al-Qarawiyyin. Ou seja, a influência da mesquita al-Qarawiyyin foi enorme na África Subsariana."

A universidade Al-Qarawiyyin continua a receber estudantes todos os anos, o que faz com que o legado de Fatima al-Fihri continue bem vivo.

O parecer científico sobre este artigo foi dado pelos historiadores Lily Mafela, Ph.D., professor Doulaye Konaté e professor Christopher Ogbogbo. O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

Fatima al-Fihri fundou a universidade mais antiga do mundo

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