"Febre Coltan" sobe ao palco na Alemanha
14 de junho de 2016"O telemóvel é indispensável à nossa vida […] é a minha pequena jóia". É assim que começa a peça "Febre Coltan".
No palco, um apresentador de um programa de televisão pergunta-se sobre o que está, na verdade, dentro deste pequeno dispositivo "mágico". E é assim que se descobre que o coltan é uma matéria fundamental na produção de dispositivos eletrónicos. Com humor, a peça aborda a problemática do comércio global de matérias-primas.
"O coltan é um exemplo extremo. Para cada telefone é necessária uma pequena quantidade, no entanto é muito caro e praticamente só existe no leste do Congo. Por isso tem muita influência em conflitos", afirma o encenador Jan-Christoph Gockel, que, para fazer a peça, trabalhou com uma equipa internacional, com pessoas do Congo, Bélgica, Haiti e Alemanha.
Uma questão que afeta todos
A peça de teatro baseia-se na história do ator congolês Yves Ndagano. Quando era criança, foi sequestrado no caminho para a escola por uma milícia e forçado a trabalhar como soldado. Uma organização não-governamental libertou-o, mas Yves não pôde voltar para casa, pois foi rejeitado pela sua comunidade.
Não tinha outra opção, senão trabalhar numa mina de coltan: "Não é apenas a minha história, é a história de todos os congoleses", afirma. "Muitas crianças em Goma passaram pelo mesmo."
Embora ainda não seja fácil para o ator contar a sua história, Yves diz ficar contente por a poder partilhar. Ele fundou em Goma, na província do Kivu Norte, no leste do Congo, a organização, SikilikAfrika, que através do teatro, dança e música pretende ajudar jovens a ultrapassar o trauma da guerra.
"As crianças ficam surpreendidas com a peça. Têm telefones e computadores, mas não sabem de onde vêm os seus componentes. Com esta peça, as crianças ficam emocionadas e perguntam o que podem fazer contra tudo isto. Reagem de forma responsável."
"Febre coltan" está pela segunda vez em cena na Alemanha. Já passou pelo Burkina Faso, Congo-Brazzaville e por Kinshasa, a capital da República Democrática do Congo. Yves Ndagano espera que, um dia, a peça suba ao palco na região leste do seu país.