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Feminicídio em Moçambique: Mulheres pedem fim da impunidade

23 de setembro de 2025

Só no primeiro semestre de 2025, Moçambique registou mais de nove mil casos de violência baseada no género. O Observatório da Mulher lamenta que o feminicídio se transforme em números sem consequências práticas.

Marcha em Maputo contra o  feminicídio
Em 2024, mais de cem mulheres saíram às ruas na cidade de Maputo contra o feminicídio Foto: Romeu da Silva/DW

Sabina Meireles foi assassinada brutalmente há seis anos. "A família chora. Porquê fizeram isso com ela? Será que ela merecia? É por isso que a justiça não faz nada?" O grito de Felisbela Meireles, irmã de Sabina Meireles, ecoa seis anos depois do assassinato brutal que abalou a família.

Sabina foi encontrada morta dez dias depois de ter sido assassinada por desconhecidos na calada da noite. Tornou-se mais uma das inúmeras mulheres, raparigas e crianças que perderam a vida em Moçambique sem que os culpados fossem identificados ou responsabilizados.

"Desde então, não tivemos nenhuma resposta. A família continua a clamar por justiça", desabafa a irmã Felisbela, emocionada.

Seis anos depois, o caso permanece sem esclarecimentos. Para a família, a espera tornou-se símbolo da fragilidade do sistema de justiça e da falta de prioridade do Estado em relação à violência contra as mulheres.

Os números oficiais mostram a gravidade do problema. No primeiro semestre de 2025, Moçambique registou mais de nove mil casos de violência baseada no género (VBG), com destaque para a cidade e província de Maputo, as mais afectadas.

No mesmo período, foram ainda denunciados cerca de 1.200 crimes de violação sexual, em que crianças representam a maioria das vítimas.

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Entre estatísticas e silêncio

A secretária executiva do Observatório da Mulher, Quitéria Guirengane, lamenta que, em Moçambique, o feminicídio se transforme em números sem consequências práticas.

"Para muitos de nós, quando recebemos a notícia de mais um assassinato, é apenas mais uma estatística. Não podemos continuar a fingir que não vemos o que está a acontecer", alerta.

O secretário de Estado do Género e Ação Social, Abdul Ismail, reconheceu recentemente, em público, a incapacidade do governo em lidar com os crimes contra as mulheres, admitindo que o país ainda carece de mecanismos eficazes para travar o fenómeno.

"Assistimos com tristeza à banalização da vida humana, tendo mulheres, raparigas e crianças como principais vítimas desses crimes hediondos. Isso revela fragilidades institucionais, ausência de capacidade de diálogo e desvalorização da vida humana", declarou.

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Patriarcado e desigualdade: raízes do problema

Para a ativista social Enia Lipanga, o feminicídio é o reflexo de profundas desigualdades sociais e económicas, enraizadas no patriarcado que ainda estrutura a sociedade moçambicana.

"É triste quando acompanhamos um caso desses e, no dia seguinte, vemos os autores do crime a passear livremente. É hora de lidar com estes casos com mais seriedade, porque as mulheres neste país não estão seguras. Quando a minha filha sai de casa, temo que ela não volte", denuncia.

O apelo de familiares e organizações de defesa dos direitos humanos é claro: reforço das investigações policiais, celeridade nos tribunais, maior proteção às vítimas e políticas públicas mais eficazes.

Enquanto isso, em várias casas moçambicanas, outras famílias continuam a viver o mesmo drama de Sabina Meireles: o luto sem respostas, a dor sem justiça e a indignação de saber que o feminicídio continua a fazer vítimas em silêncio.

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