O Rock in Rio Lisboa começou este sábado (23.06) com um espaço dedicado a artistas africanos. Entre os destaques do primeiro dia do evento estão o guineense Kimi Djabaté e o angolano Bonga.
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As portas do Rock in Rio Lisboa abriram ao público este sábado (23.06) num dia de sol radiante, com mais de 80 mil pessoas no Parque da Bela Vista, na capital portuguesa. Este foi o primeiro dos dois fins de semana do maior festival de música, que foi lançado no Brasil em 1985.
Entretanto, este ano, a oitava edição do evento tem uma particularidade. África tem um espaço que lhe é dedicado, representando a diversidade do continente, considerado berço da humanidade. Destaque para os guineenses do Tabanka Djaz, que atraíram os amantes da música africana, mas principalmente para a atuação do angolano Bonga, cabeça de cartaz que contagiou o público.
Crítica social
O músico angolano radicado em Portugal, dono de muitas canções populares e de intervenção, participa pela primeira vez no Rock in Rio, mas já deixou a sua marca, com um laivo de crítica social. Não só de política falam as suas letras. Bonga também se preocupa com temas como a violência, em particular a violência doméstica. "Preocupa-me tremendamente, porque é desumano. E, como tal, a minha opinião, evidentemente".
Festival leva a Lisboa a sonoridade de África
Mas fá-lo com subtileza. "Hoje em dia, há uma cobardia tão grande. A gente vê uma mulher a ser espancada na rua e todo o mundo passa tranquilo como se nada fosse. Vergonha para a humanidade", lamenta o artista angolano.
Com a ambição de conquistar o Palco Mundo, o kota Bonga, como é chamado, fala de uma nova esperança que emerge em Angola, com as mudanças que se estão a registar em Angola. "Temos agora uma esperança: a mudança do Presidente. João Lourenço veio com muita força e nós temos que entender, sobretudo, contra a corrupção. É um mal incrível. Temos que encontrar uma vacina para isso".
Raízes da Guiné-Bissau
A abrir o palco da EDP Rock Street, e em homenagem a África, Kimi Djabaté, originário de uma família griot, trouxe as músicas tradicionais da Guiné-Bissau, para também evocar a mulher e o seu papel em nome da humanidade. Mas, na conversa com a DW depois do concerto, fala de uma Guiné-Bissau positiva, distanciada das crises políticas."A Guiné-Bissau tem muitas outras coisas além de política. Tem várias culturas diferentes. Tem mais de 30 etnias diferentes. Então, temos que começar a olhar a Guiné-Bissau como um país rico. Não pensarmos apenas num país de conflitos. Porque quando ficamos com conflitos permanentemente, perdemos muita coisa. Cada vez mais acredito que aquele país um dia vai estar de pé. É como na música, nós temos que evoluir", disse.
Apesar de ter um pé partido, Kimi Djabaté tem vários concertos em 2018. A agenda está praticamente repleta, admitindo que possa atuar também na Alemanha, além de Holanda e Itália.
Mais África em Lisboa
Este domingo, a praça reservada a África vibra com o hip-hop de Karlon, mas os "Ferro e Gaita" estão no topo do cartaz responsáveis pela vibrante onda do funaná genuíno de Cabo Verde. No próximo fim de semana a música é outra.
Depois de um intervalo de quatro dias, os concertos voltam no próximo fim de semana, mais precisamente nos dias 29 e 30, sendo de considerar que a atuação do angolano Paulo Flores será um dos momentos altos do festival.
De acordo com a diretora artística responsável pela programação da EDP Rock Street, Paula Nascimento, "Paulo Flores já fez uma apresentação recentemente do seu último disco, onde se acabou por comemorar em parte os 30 anos de carreira e para quem não conhece será uma excelente oportunidade de vir a conhecer o artista".
A responsável também lembra que haverá a participação de Batuk. "É um dos coletivos mais proeminentes da música eletrónica do mundo inteiro. São da África do Sul e vão cá estar com o seu novo projeto". Paula Nascimento também dá conta ainda da presença de Selma Uamusse, entre outros nomes da música africana convidados a animarem o Parque da Bela Vista.
A jovem cantora moçambicana apresenta uma visão do seu novo trabalho a sair brevemente em disco. "Trata-se de uma participação excelente no contexto deste programa, por ser uma artista jovem com um percurso relativamente recente e com uma força incrível em palco", afirma Paula Nascimento, natural de Luanda.
O segundo fim de semana começa com o A'Mosi Just a Label – o novo nome do angolano Jack Nkanga – que traz para o festival uma proposta de música rock, à mistura com o konono, soul e jazz. O seu conterrâneo Nastio Mosquito vem acompanhado do DZZZZ Band, cujas bases musicais são muito diversificadas, desde o jazz ao soul. Desta forma, pretende mostrar "que é um nome a ter em conta na música alternativa angolana". Referência também a Moh! Kouyaté, da Guiné Conacri, que traz um projeto de rock e blues.
África no Rock in Rio Lisboa 2018
Lisboa volta a acolher mais uma edição do Rock in Rio, com uma das maiores enchentes de sempre. Este ano, o evento presta homenagem a África. Bonga, Ferro Gaita e Paulo Flores estão entre os artistas convidados.
Foto: DW/J. Carlos
Dois fins de semana em grande
Nos dias 23 e 24, 29 e 30 de junho, todos os caminhos vão dar ao Parque da Bela Vista. Lisboa volta a acolher mais uma edição do Rock in Rio, registando uma das maiores enchentes de sempre. Este ano, o evento presta homenagem a África. Vários músicos de renome atuam nos quatro palcos do certame.
Foto: DW/J. Carlos
300 mil festivaleiros
O festival, que mantém o lema "Por Um Mundo Melhor", atrai um público diversificado. A estimativa, de acordo com a organização, é receber cerca de 300 mil pessoas de 80 países diferentes. No primeiro fim de semana, em que atuaram Bruno Mars, Muse, Anitta, Bonga, Tabanka Djaz e Ferro Gaita, entre outros, o evento acolheu mais de 150 mil visitantes e 14 horas de música e entretenimento.
Foto: DW/J. Carlos
Bonga encanta sempre
Versátil em palco, Bonga e as suas melodias quentes, com alguma sátira a pender para a crítica social, foi o fenómeno da tarde quente de Lisboa. O cantor angolano e os demais congéneres provaram que a música africana pode chegar a outros patamares do festival que, este ano, apostou no mote "África no Mundo e o Mundo em África". A ideia encantou o público.
Foto: DW/J. Carlos
O extasiante Ferro Gaita
O grupo cabo-verdiano do funaná subiu ao palco no domingo (24.06) com a promessa de uma intensa tarde de dança. As músicas do Ferro Gaita inspiram-se nos ritmos tradicionais e folclóricos de Cabo Verde, como reafirma Bino Branco, cantor e fundador do grupo já com 22 anos de existência. "Para nós, é uma satisfação enorme estar no Rock in Rio 2018", disse à DW África.
Foto: DW/J. Carlos
Karlon, os amigos e a tradição
A anteceder Ferro Gaita, atuou Karlon, músico e compositor cabo-verdiano. Trouxe consigo MC Michel (à direita na foto), DJ X-Acto, Bdjoy (congas) Maria Tavares (voz e dança), Daniela Sanhá (dança) e Fénix Pop (dança). Aqui acontece o encontro entre os artistas que representam a modernidade e a tradição.
Foto: DW/J. Carlos
A coreografia da diversidade
No espaço dedicado a África - a EDP Rock Street - salta à vista a arquitetura de 19 casas com várias tonalidades e motivos africanos. Os visitantes são também atraídos por uma animada parada coreografada que saí à rua cinco vezes por dia. Além da música, as performances de animação da praça representam a diversidade cultural do mais velho continente do mundo e a exuberância da sua natureza.
Foto: DW/J. Carlos
O domador de cobras
Pelo recinto, exibem-se alguns protótipos de animais opulentes que dão vida à fauna africana. E é com sabedoria e mestria que este jovem domador de cobras representa o norte de África, a par com as danças afro-orientais. Não falta quem queira posar para uma foto ou uma selfie. E os visitantes não poupam elogios ao espaço reservado ao continente africano.
Foto: DW/J. Carlos
De Angola para as ruas
Há já cinco anos a dar alegria ao público nas ruas da baixa de Lisboa, Gaspar Silva explora os instrumentos ao seu alcance para fazer música. Aqui, o fenómeno é idêntico. O angolano diz que a oportunidade de estar no Rock in Rio "é a cereja em cima do bolo". Assim, vai divulgando a cultura de Angola e os ritmos que as pessoas gostam de ouvir e dançar.
Foto: DW/J. Carlos
Sara Tavares na "Língua Franca"
No Music Valley, um dos espaços mais cool do Rock in Rio – no extremo oposto ao Palco Mundo –, a cantora luso-cabo-verdiana Sara Tavares juntou-se no domingo (24.06) ao projeto "Língua Franca", dos rappers brasileiros Emicida e Rael (à esquerda na foto) e da portuguesa Capicua. Foi a celebração da língua comum, espalhada pelos quatro cantos do mundo.
Foto: DW/J. Carlos
A onda delirante da kizomba
Elenna e Paulo prendem o público com uma kizomba ao ritmo do semba angolano. Antes, já tinha subido ao palco Krayze Show, um coletivo que explora as danças urbanas luso-angolanas. Enquanto não começa o concerto no Palco Mundo, igual experiência se encontra noutro espaço mais adiante, onde o delírio parece crescer à medida que o DJ vai misturando ritmos brasileiros e africanos.
Foto: DW/J. Carlos
Fim-de-semana promete nova enchente
Nos dias 29 e 30, o cartaz é dominado por Katy Perry, Jessie J, Ivete Sangalo e Hailee Steinfeld. Marcam também presença os angolanos Paulo Flores e Nastio Mosquito, Batuk e Selma Uamusse. A organização quer internacionalizar o Rock in Rio, mas, segundo Roberta Medina, vice-presidente executiva, para já "é muito complexo em termos de investimentos e infraestruturas" levar o evento a África.