Começou com boa disposição e um aperto de mão histórico entre os líderes das Coreias. Terminou com o compromisso de pôr fim ao conflito entre os dois países, que estavam tecnicamente em guerra desde 1953.
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No culminar do encontro histórico, as Coreias comprometeram-se a cooperar no processo de desnuclearização e no estabelecimento de uma "paz permanente" na península.
"Hoje, o Presidente Kim Jong-Un e eu confirmamos o objetivos de ter uma península livre de armas nucleares. A partir deste momento, declaro que as Coreias do Sul e do Norte vão cooperar juntas no sentido de uma completa desnuclearização da Península da Coreia", afirmou Moon Jae-in.
Moon Jae-in anunciou ainda o fim do conflito que durava há décadas. "Também concordamos que vamos terminar com armistício que era instável e estabelecer um clima de paz sólido e permanente entre os países, através de uma declaração de fim de guerra e de um Tratado de Paz", declarou.
O líder norte-coreano, Kim Jong-un, quis reforçar que este acordo não terá o mesmo fim de outros realizados anteriormente, comprometendo-se a comunicar com os vizinhos do sul.
"Hoje, vamos assegurar que o acordo a que chegamos, tão aguardado pelos cidadãos desta península e pelo mundo, não será mais um entre promessas que não foram cumpridas, através de boa comunicação e cooperação um com o outro, de forma a obter bons resultados", assegurou KimJong-un.
Visitas mútuas
Durante a manhã do encontro desta sexta-feira (27.04), o líder da Coreia do Norte já tinha dado provas de abertura face à aproximação dos dois países, mostrando-se disponível para visitar o palácio presidencial do seu homólogo do Sul, em Seul.
"Irei à Casa Azul a qualquer momento se me convidar", afirmou o líder da Coreia do Norte, de acordo com o porta-voz sul-coreano Yoon Young-chan. Entretanto, também o Presidente da Coreia do Sul já fez saber que visitará Pyongyang no outono deste ano.
Conflito entre Coreias terminará ainda este ano
O primeiro encontro entre Kim Jong-un e Moon Jae-in decorreu na "Casa da Paz”, junto à fronteira entre os dois países. Na agenda estavam a paz na península e o fim dos exercícios nucleares da Coreia do Norte. Além de ser o primeiro encontro os dois, é o terceiro entre líderes coreanos em 65 anos, desde o fim da Guerra da Coreia, em 1953.
Esta reunião surge no seguimento de uma tentativa de aproximação que começou com a participação norte-coreana nos Jogos Olímpicos de inverno na cidade sul-coreana de Pyeongchang, que decorreu em janeiro de 2018. Durante o evento, Kim Yo-jong, a irmã mais nova de Kim Jong-un, entregou uma mensagem do líder de Pyongyang onde se manifestava o desejo para um encontro.
Sul-coreanos divididos
Apesar do acontecimento ser encarado internacionalmente como positivo, não há consenso entre a população sul-coreana, tendo havido manifestações contra e favor, na Coreia do Sul.
"Vim cá porque estava muito chateada. A República da Coreia está a tornar-se comunista. Estamos aqui para protestar contra este encontro entre as Coreias", explica Choi Young Suk, uma das manifestantes contra o evento.
Por outro lado, uma jovem cidadã sul-coreana descreve que o encontro de hoje a emocionou. "De repente, comecei a chorar quando o líder da Coreia do Norte veio cá para se encontrar com o Presidente Moon Jae-in e passou a zona de demarcação militar. Não sei porque comecei a chorar mas foi um momento que me tocou bastante”, conta Kim Myung-Shin.
Reações mundiais
A China aplaudiu o "momento histórico" que pode criar uma nova oportunidade para a estabilidade na península coreana. A China "aprecia a coragem e determinação" demonstradas pelo Presidente sul-coreano e pelo líder norte-coreano, afirmou a porta-voz da diplomacia chinesa, Hua Chunying.
Os Estados Unidos da América manifestaram esperança de que a cimeira conduza a "um futuro de paz". "Esperamos que as conversações permitam caminhar para um futuro de paz e de prosperidade para toda a península coreana", declarou a Casa Branca em comunicado.
O Presidente norte-americano também saudou o "encontro histórico" entre os líderes da Coreia do Norte e da Coreia do Sul depois de "um ano furioso de lançamentos de mísseis e de testes nucleares". "Estão a acontecer coisas positivas, mas só o tempo o dirá", escreveu Trump no Twitter.
Do Japão, o primeiro ministro, Shinzo Abe, espera que sejam "tomadas medidas concretas" no seguimento deste encontro e diz que vai estar atento à conduta da Coreia do Norte, juntamente com os EUA e a Coreia do Sul.
"Os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão vão estar a coordenar de perto, antes da cimeira entre os norte-americanos e os norte-coreanos", afirmou Shinzo Abe. Em março deste ano, Trump concordou encontrar-se com o líder norte-coreano, mas ainda não há data definida para o evento.
O Kremlin reagiu à "notícia muito positiva" relativamente à paz entre as duas Coreias. O Presidente russo, Vladimir Putin, "sublinhou repetidas vezes que uma solução viável e estável da situação na península coreana só podia basear-se no diálogo direto e hoje vemos que o diálogo direto se realizou", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.
O secretário-geral da NATO disse que a Aliança Atlântica apoia plenamente uma solução política para a tensão na península da Coreia. "Acolhemos com agrado os progressos feitos hoje e os compromissos que os dois líderes fizeram para resolver os problemas de forma pacífica", comentou Jens Stoltenberg em conferência de imprensa.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
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Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
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TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
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Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
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Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
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Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
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Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
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Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
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À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
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De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
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Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
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O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.