Filha de presidente angolano responde acusações de favorecimento por nepotismo
15 de agosto de 2013 A empresária Isabel dos Santos, filha mais velha do presidente de Angola, rebateu as acusações de enriquecimento ilícito, feita pela reportagem da revista norte-americana Forbes. A assessoria de imprensa da empresária divulgou comunicado através da agência de notícias Lusa.
"As alegações que um ativista político angolano publica na revista Forbes sobre Isabel dos Santos são completamente falsas", afirmou a fonte oficial à Lusa. A matéria publicada no site da revista é assinada pelo jornalista e ativista angolano Rafael Marques e pela jornalista da Forbes, Kerry A. Dolan.
A revista publica que "todos os grandes investimentos angolanos detidos por [Isabel] dos Santos vêm de uma empresa que quer fazer negócios no país ou de uma assinatura presidencial que a inclui na ação".
Conforme a nota oficial, "nunca o presidente nem o governo angolano transferiram ilegalmente ações de empresas para Isabel dos Santos ou para quaisquer empresas controladas por esta empresária".
Por outro lado, Rafael Marques foi descrito como sendo "um conhecido ativista político que, patrocinado por interesses escondidos, passeia pelo mundo a atacar Angola e os angolanos".
"Nepotismo claro"
Para Rafael Marques, chama a atenção o fato de a filha do presidente não conseguir passar da simples argumentação de que ele é um ativista político. "O que é ridículo porque os fatos foram apresentados e ela tem todo o direito de recorrer da justiça para provar que não é verdade", argumenta.
Marques diz que a matéria foi feita com base em documentos oficiais, onde se pode comprovar que grande parte do patrimônio que Isabel dos Santos tem passou pela aprovação do pai, o presidente José Eduardo dos Santos, no Conselho de Ministros. Vale lembrar que o presidente angolano é o chefe desse conselho.
"É um caso claro de nepotismo e corrupção, quando o presidente usa o seu poder de Estado para facilitar o enriquecimento da filha", ressalta. Para o jornalista, Isabel dos Santos teria que falar quais são os interesses escondidos que ele alegadamente tem ao publicar a matéria da Forbes.
"O pai dela controla o sistema de inteligência e segurança do Estado. Certamente não lhe custará muito [descobrir os] interesses que tenho com escutas ao meu telefone e observação visual", diz o jornalista.
Rafael Marques acha que as alegações da empresária são estratégias para desviar a atenção do que é essencial: "grande parte destes negócios, com a Unitel, a Cimangola e outros foram aprovados pelo Conselho de Ministros dirigido pelo seu pai".
Outros beneficiários
Conforme o ativista, bastante conhecido por publicar supostas irregularidades no governo angolano, o caso da Nova Cimangola pode ser facilmente comprovado através do exame do Diário da República. Tudo estaria publicado oficialmente.
O governo angolano, segundo Marques, pagou 74 milhões de dólares, adquirindo 49% das ações da empresa de cimentos. O acordo foi assinado pelo ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro, e pelo ministro das Finanças José Pedro de Moraes.
Passados alguns dias, esta compra feita pelo Estado teria passado, conforme o ativista, para a titularidade da Ciminvest que é uma empresa que Isabel dos Santos admite ser sua.
"Então como é que ela comprou isto de forma independente? Quando se compra bens do Estado, deve haver concurso público. Onde está o concurso público em que ela tenha concorrido para comprar 49% da nova Nova Cimangola?"
Ele lembra que outros familiares são favorecidos. José Filomeno dos Santos “Zenu”, filho do presidente, há alguns meses, assumiu como vice-presidente da Administração do Fundo Soberano. "Amanhã, certamente, o filho vai aparecer como um empresário independente, que fez bons investimentos", comenta.
"Tchizé" dos Santos, outra filha do presidente, "está à frente da gestão de um dos canais da Televisão Pública Angolana (TPA 2)", cita Rafael Marques.
"A corrupção não é segredo"
A matéria publicada pela DW África sobre a obstrução à liberdade de imprensa no país também gerou comentários de Rafael Marques. A reportagem aborda a dificuldade de denúncias de irregularidades por parte da imprensa e de alguns profissionais fazerem jornalismo investigativo em Angola.
Marques acha que a corrupção no país não é segredo para o cidadão. "Os angolanos sabem perfeitamente que o presidente da república é o padrinho da corrupção em Angola. Em Angola nada se consegue por mérito. Para uma pessoa ser empresária tem que sujeitar ao sistema de corrupção. Para ser admitido na função pública tem que depender da corrupção", denuncia o jornalista à DW África.
O jornalista concorda que houve uma estratégia de compra de alguns jornais privados que estavam a se tornar influentes para se impedir a circulação de informação independente. "São investimentos feitos por figuras ligadas ao regime angolano em Portugal, que criaram este efeito".
Ele reclama que a Rádio Televisão Portuguesa (RTP), que é uma televisão pública, do Estado português, publicou o desmentido de Isabel dos Santos, mas não publicou a notícia. "Assim como alguma empresa alinhada que foi comprada por capital angolano, como o jornal Sol", diz Marques.