Filho de Samora Machel concorre às autárquicas em Maputo
Leonel Matias (Maputo)
13 de agosto de 2018
Em Moçambique, terminou prazo para entrega de candidaturas para as autárquicas de 10 de outubro. O pleito será realizado em 53 municípios e a quintas na história do país.
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O último dia de receção das candidaturas foi marcado pela entrada na corrida para presidente do município de Maputo, a capital, de Samora Machel Júnior, filho primogénito do primeiro Presidente de Moçambique independente, que vai concorrer fora do seu partido, a FRELIMO.
Samora Machel Júnior concorre com o suporte de várias organizações da sociedade civil, depois da sua candidatura ter sido excluída ao nível do partido no poder, a FRELIMO, facto que gerou descontentamento em certos setores do partido, que alegaram falta de transparência no processo de seleção das pré-candidaturas.
Segundo o seu mandatário, Albino Forquilha "porque a proposta tinha vindo das bases mas com muito apoio dos munícipes da cidade de Maputo, estes acharam encontrar uma outra saída para que Samora Machel Júnior continuasse a concorrer como cabeça de lista".A decisão de Samora Machel Júnior de concorrer às eleições autárquicas como um candidato fora do seu partido é inédita na história da FRELIMO e está a ser vista como podendo provocar uma cisão entre os potenciais eleitores daquela formação política na cidade de Maputo. Porém, a FRELIMO, através do seu porta-voz, Caifadine Manasse, diz não estar preocupada.
"O partido não se sente ameaçado, aliás em nenhum momento o partido já se sentiu ameaçado por causa de qualquer que seja o candidato".
Samora Machel Júnior vai disputar estas eleições com o candidato da FRELIMO Eneas Comiche, que é atualmente o presidente da Comissão Parlamentar do Plano e Orçamento e membro da Comissão Política do partido. Comiche já foi presidente do município de Maputo e ocupou vários cargos como de ministro das Finanças e de Governador do Banco de Moçambique.
Os candidatos na corrida
Figura igualmente entre os candidatos a Maputo Venâncio Mondlane, que abandonou o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) para se filiar na RENAMO.Na segunda cidade do país, Beira, vão estar frente a frente, entre vários candidatos, o atual presidente do município e líder do MDM, Daviz Simango, o secretário-geral da RENAMO, Manuel Bissopo, e pela FRELIMO, a atual secretária permanente do governo de Sofala, Augusta Maíta.
Na terceira cidade do país, Nampula, Amisse Culolo, da FRELIMO, e Paulo Vahanle, da RENAMO, voltam a "cruzar caminho", depois das eleições intercalares de abril último que foram ganhas pela Resistência Nacional Moçambicana.
Do total das 53 autarquias, atualmente quatro estão nas mãos da oposição, nomeadamente Beira, Quelimane e Gurué, com o MDM, e Nampula, com a RENAMO.
Cidadãos opinam
Cidadãos ouvidos pela DW África antevêm que as eleições autárquicas deste ano serão muito disputadas.
Segundo Adão Matimbe, "antevejo uma disputa muito grande entre a FRELIMO e a RENAMO, com a RENAMO até a tirar algumas autarquias importantes à FRELIMO. O MDM vai perder muitas autarquias e a RENAMO é que vai capitalizar um pouco disto. Maputo vai ser o epicentro destas eleições. Com o contexto económico e político que se vive no país, antevê-se uma disputa muito grande mas também não se pode prever quem é que vai ganhar estas eleições".Para Reginalda Million "estas eleições vão ser bem renhidas. Quanto ao MDM, depois de ter perdido vários quadros, creio que, nestas eleições autárquicas, não tem hipóteses de ganhar".
Autárquicas em Moçambique: Termina prazo para entrega das candidaturas
Elias Samo Gudo acha "que a FRELIMO e a RENAMO vão tomar conta da maior parte dos municípios e a FRELIMO vai ganhar de certeza com 80 a 90% dos municípios em disputa. Eu creio que o MDM não vai ganhar nenhum município, porque o partido está muito fragilizado", concluiu.
Figuras socialistas e marxistas imortalizadas nas avenidas de Maputo
Várias avenidas de Maputo têm nomes de personalidades estrangeiras de ideologia socialista e marxista. Muitas apoiaram a luta da independência moçambicana. Os seus nomes são homenageados em vários locais da capital.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Julius Nyerere – o amigo da Tanzânia
Liga o sul, na zona de cimento, aos bairros periféricos do norte. Julius Nyerere foi presidente da Tanzânia entre 1961 a 1985. Em 1967, defendeu o socialismo, inspirado pela antiga União Soviética. Foi amigo de Moçambique e chegou a ceder o seu território à FRELIMO, durante a luta pela independência, o que lhe valeu a atribuição desta avenida.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Vladimir Lenine- inspiração marxista-leninista
Vai da baixa da capital até à Praça dos Combatentes, numa extensão de quase quatro quilómetros. Vladimir Lenine, Presidente da URSS, é um dos rostos da criação e disseminação do comunismo pelo mundo. Depois da independência, Moçambique adotou um socialismo de inspiração Marxista-Leninista e muitos moçambicanos viajaram para a URSS para formações de ideologia marxista-leninista.
Foto: DW/R. Da Silva
Avenida Ho Chi Minh - "o que dá luz"
Começa na atual sede da Comissão Nacional de Eleições, na parte centro-este, e termina na escola Secundária Francisco Manyanga, na parte ocidental. Ho Chi Minh, que significa para os vietnamitas “o que dá a luz”, foi o nome que Nguyen Ai Quoc adotou. Também amigo de Moçambique, valeu-lhe atribuição desta avenida por ter inspirado a FRELIMO a adotar os ideais comunistas.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Kim Il Sung - apoio norte-coreano
Começa no Hospital Central de Maputo e termina perto da Embaixada da Alemanha, numa extensão de cerca de 1500 metros. Kim Il Sung é avô do atual presidente Kin Jung-un. O nome da avenida recorda o apoio da Coreia do Norte na luta pela independência moçambicana. Samora Machel visitou várias vezes a Coreia do Norte de Sung e ainda hoje Moçambique mantém boas relações políticas com o país.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Olof Palme - da Suécia para Moçambique
Localiza-se no bairro central, no centro da cidade de Maputo. Olof Palme é considerado uma das figuras maiores da social-democracia sueca. Justiça social, igualdade e paz eram seus ideais mais acalentados. Levou a Suécia para a arena internacional moderna, dedicando-se a temas como o socialismo, a paz e a solidariedade. É dos poucos governantes europeus que constam da lista das avenidas de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Nkwame Nkrumah – primeiro presidente da África Negra
Localiza-se no centro da capital, na zona nobre de Maputo. Nkrumah foi Presidente do primeiro Estado independente da África Negra, o Gana. Em 1952, ainda no período da colonização, no seu primeiro discurso como primeiro-ministro, Nkrumah proclamou-se socialista, marxista e cristão. Não tardou a ter uma avenida em Maputo, pois a FRELIMO também era um partido de orientação socialista.
Foto: DW/R. da Silva, Getty Images/Express/T. Fincher
Avenida Salvador Allende - defensor do marxismo
Esta avenida tem localização central na zona nobre da capital e conta com um único sentido. Salvador Allende foi Presidente do Chile e o primeiro Presidente com ideais comunistas, eleito em eleições livres, a assumir o cargo num país latino-americano. Allende era marxista e atuou politicamente defendendo os valores característicos dessa ideologia.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Mao Tse Tung – símbolo de uma longa amizade
Mao Tse Tung defendia uma visão revolucionária do comunismo, em que todos os aspetos da sociedade, cultura, economia e política deveriam estar a serviço de causas ideológicas. Depois da independência, Moçambique inspirou-se nos ideais do Partido Comunista Chinês. Os dois países são amigos de longa data, tendo os chineses ajudado a FRELIMO na luta contra o colonialismo.
Foto: Dw/R. da Silva
Avenida Karl Marx – motor da mudança ideológica
É uma das avenidas mais frequentadas na capital. De nacionalidade alemã, Karl Marx foi um influente pensador na questão da luta de classes. Em 1977, o partido FRELIMO deixou de ser uma frente armada para ser um partido de ideologia marxista-leninista, com monopólio exclusivo do poder político e instaurando o partido único. Para imortalizar a influência de Marx, foi-lhe atribuída esta avenida.
Foto: picture alliance/Glasshouse Images, DW/R. da Silva
Avenida Friederich Engels – inspiração contra injustiças sociais
Nesta avenida, pode contemplar-se uma bela paisagem marítima. Engels, amigo próximo de Marx, desenvolveu a sua teoria sobre as classes trabalhadoras, ao observar a miséria e as condições dos operários que viviam dentro do regime capitalista. Em algumas das suas obras, denunciou as injustiças sociais. Inspirou Samora Machel e a FRELIMO a adotarem uma política em defesa das classes sociais.
Foto: DW/R. da Silva
Avenida Patrice Lumumba – o herói congolês
Patrice Lumumba lutou contra o imperialismo europeu. O seu partido, o Movimento Nacional Congolês (MNC), identificava-se como comunista. Após a independência do seu país, em 1960, Lumumba foi eleito primeiro-ministro. Um ano depois, foi preso, e, em janeiro de 1961, foi barbaramente assassinado. Como homenagem, a FRELIMO atribui o seu nome a uma avenida e a um bairro na Matola.