Pacientes falam em melhorias no Hospital Central de Quelimane, uma semana depois das denúncias de corrupção feitas pelo Presidente moçambicano. Analista pede medidas de fundo para combater elites corruptas.
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As denúncias de corrupção e mau atendimento no Hospital Central de Quelimane, na Zambézia, marcaram a visita do Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, àquela província na semana passada. "Existem no hospital cobranças ilícitas para aceder a exames médicos e [isso] é crime. São casos frequentes e nós conhecemos as pessoas", denunciou o chefe de Estado.
"Os equipamentos de ponta estão a enriquecer uma pessoa em detrimento dos doentes. Há doentes graves em espera", lamentou Filipe Nyusi que referiu que alguns utentes pagam para ter tratamento privilegiado, deixando outros à mercê do seu estado de saúde.
Uma semana depois das queixas de corrupção se tornarem públicas, os utentes não detetam agora irregularidades no funcionamento daquela unidade. "Sobre o atendimento aqui no hospital, vejo que está a andar bem", disse um dos pacientes. "Vim com problemas numa perna, mas estão a atender bem e estou à espera de medicamentos", afirmou outro cidadão.
Combate a um problema generalizado
Filipe Nyusi afirma ter conhecimento de muitas denúncias de corrupção no Hospital Central de Quelimane e afirma que o problema começa no topo da hierarquia hospitalar. Segundo o chefe de Estado, os gestores daquela unidade de saúde estão a enriquecer de forma ilícita.
Ouvido pela DW África uma semana depois das críticas do Presidente moçambicano, o diretor do hospital escusou-se a gravar uma entrevista, mas diz ter tomado conhecimento das declarações de Filipe Nyusi. O responsável prometeu tecer esforços para combater atos de pequena corrupção naquela unidade.
Moçambique: Queixas de corrupção no hospital de Quelimane diminuem, mas são precisas medidas de fundo
Segundo o Presidente moçambicano, a corrupção nas instituições públicas são um problema generalizado, já que os desvios de dinheiro atingem cargos de topo, não só no setor da Saúde, mas também ao nível das autoridade tributárias de Moçambique.
"Há subfaturação nas receitas das autoridades tributárias. Os inspetores de trabalho apanham as pessoas e aumentam a fatura. A multa deveria ser de cinco mil mas eles exigem um milhão, que é para a pessoa ficar desanimada, discutir e pagar cinquenta mil. Esse valor vai para o bolso [desses inspetores]”, exemplificou o chefe de Estado moçambicano.
Filipe Nyusi admite mesmo que os corruptos podem estar a usar a camisola do partido FRELIMO, a força no poder, com o objetivo de se parecerem impunes. "Não é por causa de ser da FRELIMO, não tem nada a ver… Ladrão é ladrão", garantiu o Presidente que é candidato a um segundo mandato nas eleições de 15 de outubro. "Fiquem atentos que isso pode sair-vos caro", alertou ainda o Presidente.
Medidas de fundo
Para o analista político Lourindo Verde, o combate à corrupção tem de ir além dos discursos políticos. "É preciso ir à raiz [dos problemas]", assevera.
“O trabalhador se é pobre e não tem condições para sobreviver acaba por se deixar levar na corrupção”, explica o politólogo. “Esses são elementos que têm de ser combatidos. Precisamos de ir ao encontro dos problemas que são as desigualdades e a pobreza”, adianta.
“Se eu sou enfermeiro e vejo outro enfermeiro com melhores condições de vida por causa da sua falta de ética no trabalho, acabo por cair na onda da corrupção”, resume o analista.
No interior do hospital de campanha de Macurungo na Beira
As estruturas do centro de saúde que é referência no atendimento de cerca de 35 mil pessoas na região foram severamente danificadas com a passagem do ciclone Idai. Hospital de campanha já atendeu dois mil pacientes.
Foto: DW/F. Forner
A rotina
O hospital de campanha nos arredores do centro de saúde Macurungo, na Beira, está a funcionar desde 24 de março. "Montamos um centro médico avançado com uma tenda para cirurgia e consultas, além de mais duas tendas para avaliação pós-parto das mães", descreve a médica infectologista Telma Susana Vieira Azevedo, que liderou por dois meses a equipa da Cruz Vermelha em Macurungo.
Foto: DW/F. Forner
Um passeio pelas tendas em Macurungo
Um enfermeiro da equipa da Cruz Vermelha caminha pelas tendas de lona do hospital de campanha gerido em parceria com a ONG Médicos do Mundo. Já foram realizadas mais de duas mil consultas, além de uma média de sete partos diários. Este hospital é referência no atendimento de 35 mil pessoas na região, onde as condições habitacionais ficaram muito debilitadas após a passagem do ciclone Idai.
Foto: DW/F. Forner
No interior do hospital destruído
A noite de 14 de março na Beira foi marcada pelos fortes ventos que arrancaram telhas, chapas e coberturas das casas e edifícios públicos. O hospital de Macurungo sofreu sérios danos estruturais. Mesmo assim, algumas áreas do edifício continuam a ser utilizadas. “Nosso objetivo é conseguir reconstruir o centro de saúde e só depois deixar a Beira”, diz a médica Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Balanço pós-Idai
Segundo dados do fundo de redução de desastres do Banco Mundial (GFDRR), Moçambique ocupa a terceira posição no ranking de países africanos mais expostos a múltiplos riscos associados às mudanças climáticas, como ciclones periódicos, secas, inundações e epidemias. Esta foto mostra o coração do hospital de campanha montado em um dos bairros que mais carecem de atenção à saúde.
Foto: DW/F. Forner
Os grandes desafios de Beira
Esta é uma foto aérea do hospital de campanha em Macurungo na Beira. Além da reestruturação de hospitais, as cidades afetadas pelo ciclone Idai também encaram os desafios de reconstrução de moradias, escolas e das infraestruturas urbanas. A ONU estima que o país necessite de pelo menos 200 milhões de dólares de ajuda internacional nestes três primeiros meses pós-ciclone.
Foto: DW/F. Forner
O estoque de medicamentos
Além de servirem como consultórios e locais de operação, algumas tendas do hospital de campanha foram construídas para armazenar equipamentos, medicamentos e demais suprimentos médicos. Nesta foto, o médico Luís Canelas opera um dos computadores que realiza exames de ultrassonografia. O hospital de campanha também realiza exames laboratoriais, como exames de sangue e testes de malária.
Foto: DW/F. Forner
Apoio à população
Em momento de descanso, o enfermeiro da Cruz Vermelha de Cabo Verde Mariano Delgado brinca com uma das pacientes no pátio externo. Estima-se que cerca de 400 mil crianças foram afetadas. "Precisamos fazer um trabalho mais ativo de equipas móveis para ir às populações deslocadas", diz Michel Le Pechoux, representante adjunto do UNICEF em Moçambique.
Foto: DW/F. Forner
Pulverização contra a malária
Homens uniformizados com luvas e protetores fazem a pulverização contra a malária em casas nas ruas de Búzi, a 150 km ao sul da Beira. Os casos de malária aumentaram e um mutirão tenta conter a proliferação do mosquito transmissor.
Foto: DW/F. Forner
Cadastro de pacientes
Esta é a tenda de triagem onde os pacientes são recebidos para a marcação de consultas. "Recebemos pacientes com doenças crónicas, hipertensão, doenças cardiovasculares e parasitárias, bem como pacientes que sofrem de desnutrição e portadores do VIH/SIDA", explica a infectologista da Cruz Vermelha portuguesa Telma Susana Vieira Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
À espera de consultas
As salas de espera no centro de saúde Macurungo ficam diariamente superlotadas com pacientes que sofrem das mais variadas doenças. O cólera está sob controle, mas os casos de malária estão a ser acima do habitual. "As chuvas fazem com que haja poças d’água que são óptimas para a proliferação dos mosquitos havendo mais vetores para transmitir a doença", diz a infectologista Telma Susana Azevedo.
Foto: DW/F. Forner
Atendimento
Esta é uma das tendas do hospital de campanha Macurungo destinada às consultas médicas e atendimento aos pacientes. Nesta foto, o doutor Miguel e o enfermeiro de Cabo Verde Mariano Delgado dividem o espaço realizando atendimentos e curativos.
Foto: DW/F. Forner
Nos bastidores
Num momento de descanso após o almoço, estes três profissionais de saúde aproveitam a pausa no início da tarde antes de continuar com os atendimentos. Esta sala com macas também serve de refeitório e sala de reuniões. As equipas de médicos, enfermeiros e pessoal de apoio técnico trabalham diariamente sem cessar e se revezam a cada três semanas.