Conflito militar prejudica turismo no Niassa
4 de outubro de 2016A 4 de outubro de 1992 o Governo da FRELIMO e a RENAMO assinaram o Acordo Geral de Paz (AGP) que punha fim a 16 anos de guerra civil. Mas desde 2013 a paz está ameçada pois o país voltou a ser palco de confrontos militares entre as partes. Este ano os beligerantres festejaram a paz em separado: o Governo fez a sua habitual deposição de flores na Praça dos Heróis enquanto a RENAMO celebrou nas suas delegações.
O maior partido da oposição acusa o Governo de ter violado o AGP e não aceita os resultados das eleições gerais de 2014. Enquanto mediadores internacionais tentam ajudar as partes a alcançarem a paz, o país se debate com as consequências do conflito político-militar. O turismo é um dos setores mais afetados.
Consequências para o turismo no Niassa
Na província nortenha do Niassa há cada vez mais turistas a cancelar as reservas por causa da instabilidade. 12 mil turistas anularam as viagens desde janeiro segundo dados oficiais. O negócio não corre como antigamente, queixa-se Marinela Dias, a proprietária de uma pousada em Lichinga: "Nós ficamos aqui mesmo sem turistas, aparecem alguns que são de instituições do Estado. O normal nesta época de verão é aparecerem muitos turistas mas atualmente chegam muito poucos. E pela experiência que tenho daqui, a partir de agosto e setembro que se notava um fluxo de hóspedes e muitos deles eram turistas. Paravam aqui por uns dias com os seus carros e via-se que vinham fazer turismo. E um dos prejuízos é esse, já não há receita."
Muitas das 1400 camas disponíveis no Niassa ficam vazias. Segundo o diretor provincial do Turismo e Cultura, desde janeiro, 12 mil turistas cancelaram as suas viagens – muitos deles são turistas de caça desportiva.
Muchanga acrescenta que "quase todo o Niassa vive esse fenómeno, com mais evidência para os dois polos que são a Reserva Nacional do Niassa, onde temos o turismo contemplativo e turismo sinergético, concretamente de caça, e depois temos o lago Niassa onde temos turistas que chegam ou mesmo [cidadãos] nacionais que devido ao calor vão mergulhar."
Receios
O diretor provincial do Turismo e Cultura teme que a situação piore e admite que, se os confrontos continuarem, muitos negócios poderão encerrar as suas portas: "a situação que vivemos no ano passado e este ano mostrou tendências decrescentes. O número de visitantes a província regrediu em termos de taxas de ocupação. Esse fenómeno não é salutar para o país e nem para a província."
A empresária Marinela Dias apela ao bom senso do Governo e da RENAMO, mas também de todo o povo moçambicano, para que o conflito no país termine de uma vez por todas. Pode ser que assim os turistas regressem e o negócio volte a ser como antes: "O bom senso entre os moçambicanos e não apenas entre as duas partes, porque o bom senso não está entre aqueles que neste momento supostamente são as cabeças. No fundo todo mundo tem de ter bom senso, não apenas os dois [beligerantes].