Nyusi: "Somos um país soberano e a SADC respeita isso"
Lusa
13 de julho de 2021
O Presidente moçambicano reitera que a SADC abriu espaço para que o país recebesse apoios bilaterais no combate contra o terrorismo em Cabo Delgado. A RENAMO considera "ilegal" a entrada de tropas ruandesas no país.
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"Nós somos um país soberano e a SADC respeita isso", declarou Filipe Nyusi, na segunda-feira (12.07), durante uma visita a unidades militares posicionadas na província de Sofala, no centro de Moçambique.
Em causa está a chegada, na sexta-feira passada (09.07), de um contingente de mil homens do Ruanda, destacado para apoiar as forças moçambicanas no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, num momento em que o país espera a chegada da força conjunta designada pela Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) nos próximos dias.
A chegada, primeiro, de tropas ruandesas foi criticada pela ministra da Defesa da África do Sul, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, que disse, no sábado, "lamentar" que aconteça antes de a SADC ter destacado a sua força.
"Independentemente do acordo bilateral, seria expectável que a intervenção do Ruanda para ajudar Moçambique acontecesse no âmbito do mandato regional decidido pelos chefes de Estado da SADC", declarou a governante, em entrevista à televisão pública sul-africana SABC.
No seu discurso, Filipe Nyusi esclareceu que a SADC aceitou que Moçambique trabalhasse de forma bilateral nos esforços para travar o terrorismo em Cabo Delgado na mesma cimeira em que foi aprovada a intervenção daquela organização regional.
"Vamos trabalhar com mos nossos irmãos do Ruanda e a SADC também está a chegar", afirmou Filipe Nyusi, frisando, no entanto, que quem vai liderar o combate são os moçambicanos, que bem conhecem o terreno.
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RENAMO considera "ilegal" entrada de ruandeses
A chegada de tropas ruandesas para apoiar as forças moçambicanas também foi criticada pelo principal partido de oposição, a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), que acusa o executivo de violar a Constituição por não ter colocado o assunto no parlamento.
"Os militares ruandeses estão no país de forma ilegal na medida em que a Assembleia da República não teve conhecimento e os próprios países que fazem parte da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral [SADC] foram apanhados de surpresa", declarou à comunicação social o líder da RENAMO, Ossufo Momade, no final de uma visita à província de Cabo Delgado.
Para o líder do principal partido de oposição em Moçambique, o chefe de Estado moçambicano violou a Constituição por não ter colocado o assunto em debate no parlamento. "O Presidente deve respeitar a Constituição e levar este assunto à Assembleia da República", declarou Momade, frisando que a SADC "também foi apanhada de surpresa".
"O que nós pensávamos que iria acontecer era que a SADC viria com a sua força a partir do dia 15, mas ficarmos surpreendidos quando percebemos que primeiro chegou a força ruandesa, o que preocupa aos moçambicanos", acrescentou o presidente da RENAMO.
Grupos armados aterrorizam a província desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo Estado Islâmico. Há mais de 2.800 mortes segundo o projeto de registo de conflitos ACLED e 732.000 deslocados de acordo com as Nações Unidas.
Terrorismo em Cabo Delgado: As marcas da destruição e a crise humanitária
Edifícios vandalizados, presença de militares nas ruas e promessas de soluções por parte de políticos contrastam com a tentativa das populações de levar a vida adiante.
Foto: Roberto Paquete/DW
Infraestruturas vandalizadas
O conflito armado em Cabo Delgado deixou um número de infraestruturas destruídas na província nortenha de Moçambique. Em Macomia, os insurgentes não pouparam nem a Direção Nacional de Identificação Civil. Os danos no prédio do órgão deixaram milhares de pessoas sem documentos. E carro da polícia incendiado.
Foto: Roberto Paquete/DW
Feridas abertas até na sede da Polícia
O edifício da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Macomia ainda carrega as marcas de um ataque em 2020. O tanzaniano Abu Yasir Hassan – também conhecido como Yasser Hassan e Abur Qasim - é reconhecido pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e pelo Governo moçambicano como líder do Estado Islâmico em Cabo Delgado. Não está claro se o grupo é responsável pelos ataques na província.
Foto: Roberto Paquete/DW
"Eliminar todo o tipo de ameaça"
Joaquim Rivas Mangrasse (à esquerda) foi empossado chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas a 16 e março. "É missão das Forças Armadas eliminar todo o tipo de ameaça à nossa soberania, incluindo o terrorismo e os seus mentores, que não devem ter sossego e devem se arrepender de ter ousado atacar Moçambique", declarou o Presidente Filipe Nyusi (centro) na cerimónia de posse, em Maputo.
Foto: Roberto Paquete/DW
Missões constantes para conter os terroristas
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambique preparam-se para mais uma missão contra terroristas em Palma. A vila foi alvo de ataques, esta quarta-feira (24.03), segundo fontes ouvidas pela agência Lusa e segundo a imprensa moçambicana. Neste mesmo dia, as autoridades moçambicanas e a petrolífera Total anunciaram, para abril, o retorno das obras do projeto de gás, suspensas desde dezembro.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender o gás natural da península de Afungi
A península de Afungi, distrito de Palma, foi designada como área de segurança especial pelo Governo de Moçambique para proteger o projeto de exploração de gás da Total. O controlo é feito pelas forças de segurança designadas pelos ministérios da Defesa e do Interior. Esta quinta-feira (25.03), o Ministério da Defesa confirmou o ataque junto ao projeto de gás, na quarta-feira (24.03).
Foto: Roberto Paquete/DW
Proteger os deslocados
Soldados das FADM protegem um campo para os desolocados internos na vila de Palma. A violência armada está a provocar uma crise humanitária que já resultou em quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.
Foto: Roberto Paquete/DW
Apoiar os deslocados
De acordo com as agências humanitárias, mais de 90% dos deslocados estão hospedados "com familiares e amigos". Muitos refugiaram-se em Palma. Com as estradas bloqueadas pelos insurgentes em fevereiro e março deste ano, faltaram alimentos. A ajuda chegou de navio.
Foto: Roberto Paquete/DW
Defender a própria comunidade
Soldados das Forças Armadas de Defesa de Moçambqiue estão presentes também no distrito de Mueda. Entretanto, cansados de sofrer nas mãos dos teroristas, antigos militares decidiram proteger eles mesmos a sua comunidade e formaram uma milícia chamada "força local".
Foto: Roberto Paquete/DW
Levar a vida adiante
No mercado no centro da vida de Palma, a população tenta seguir com a vida normal quando a situação está calma. Apesar da ameaça constante imposta pela possibilidade de um novo ataque, quando "a poeira abaixa", a normalidade parece regressar pelo menos momentaneamente...
Foto: Roberto Paquete/DW
Aprender a ter esperança com as crianças
Apesar de todo o caos que se instalou um pouco por todo o lado em Cabo Delgado, a esperança por um vida normal continua entre as poulações. Na imagem, crianças de famílias deslocadas que deixaram as suas casas, fugindo dos terroristas, e foram para a cidade de Pemba. Vivem no bairro de Paquitequete e sonham com um futuro próspero, sem ter de depender da ajuda humanitária e longe da violência.