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ConflitosEtiópia

Fim da trégua na Etiópia preocupa comunidade internacional

Lusa
25 de agosto de 2022

Rebeldes do Tigray acusam exército etíope de lançar "ofensiva em larga escala", após quase cinco meses de tréguas. Governo confirma operação e fala em violação do cessar-fogo. ONU e UA pedem cessação das hostilidades.

Äthiopien | Soldaten der äthiopischen Armee in Mekelle
Foto: Minasse Wondimu Hailu/AA/picture alliance

O Governo etíope confirmou que os combates recomeçaram na quarta-feira (24.08) no norte da Etiópia entre o exército federal e os rebeldes na província de Tigray, a quem acusam de ter "rompido" a trégua em vigor há cinco meses.

"Sem ter em conta as muitas ofertas de paz apresentadas pelo Governo etíope", as forças da Frente Popular de Libertação de Tigray (TPLF, na sigla em inglês) "lançaram um ataque hoje às 05h00" numa área localizada no sul de Tigray e "romperam a trégua", disse o Governo, em comunicado.

O anúncio governamental surge após a acusação feita horas antes pela TPLF, imputando às forças governamentais o ónus do fim da trégua que vigorava há cinco meses. As forças federais etíopes "lançaram uma ofensiva esta manhã por volta das 05h00. Estamos a defender as nossas posições", afirmou um porta-voz das autoridades de Tigray, Getachew Reda, em declarações à AFP.

Forças da TPLF na capital regional, MekelleFoto: Million Haile Selassie/DW

A província de Tigray e as áreas fronteiriças com as regiões vizinhas de Amhara e Afar, algumas das quais ocupadas pela TPLF, estão em grande parte isoladas do resto do país e foi impossível validar as acusações de cada uma de forma independente ou a situação no terreno. Os confrontos são os primeiros de grande intensidade relatadas desde que os dois lados acordaram uma trégua no final de março.

Apelos ao retorno do diálogo

O tom havia subido nos últimos dias entre o Governo federal e os rebeldes tigray, cada um acusando o outro de se preparar para retomar as hostilidades, apesar de repetidos compromissos mútuos nos últimos dois meses a favor de negociações que não passaram do papel.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, já lamentou que o Governo etíope e rebeldes da região norte do Tigray tenham retomado os confrontos, apesar da trégua, e apelou ao fim imediato da violência e regresso ao diálogo. "Estou profundamente chocado com a notícia do regresso das hostilidades na Etiópia", disse Guterres, à chegada a uma reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a guerra na Ucrânia.

O chefe da ONU salientou que as pessoas afetadas pelo conflito em Tigray "já sofreram demasiado" e apelou a "uma cessação imediata das hostilidades e o reatamento das negociações de paz".

Abala é uma cidade fantasma devido ao conflitoFoto: Mariel Müller/DW

Também o presidente da Comissão da União Africana (UA) manifestou "profunda preocupação" pelo recomeço dos combates no norte da Etiópia, apelando a uma "cessação imediata das hostilidades". Moussa Faki Mahamat "apela fortemente à cessação imediata das hostilidades e apela às partes que retomem conversações para procurar uma solução pacífica" para o conflito, lê-se num comunicado da União Africana.

Reiterando o compromisso da UA "em trabalhar com as partes em apoio a um processo político consensual no interesse do país", Mahamat apela às partes para que se envolvam com o alto-representante da organização no Corno de África, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo.

Desde 2020 em conflito

O conflito na Etiópia eclodiu em novembro de 2020 após um ataque da TPLF contra a principal base do Exército, localizada em Mekelle, após o qual o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, prémio Nobel da Paz em 2019, ordenou uma ofensiva militar após meses de tensões políticas e administrativas.

A TPLF acusou Abiy de aumentar as tensões desde que chegou ao poder, em abril de 2018, quando se tornou o primeiro Oromo a assumir o cargo. Até então, a TPLF tinha sido a força dominante dentro da coligação de base étnica que governava a Etiópia desde 1991, a Frente Democrática Revolucionária do Povo Etíope (EPRDF, na sigla em inglês).

A organização opôs-se às reformas de Abiy, vendo-as como uma tentativa de minar sua influência.

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