Conselho de Segurança das Nações Unidas debate na sexta-feira um relatório de um perito independente, que propõe o fim da missão da ONU na Guiné-Bissau em 2020. Analistas estão divididos quanto a esta matéria.
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Um relatório de avaliação de um perito independente, divulgado na terça-feira (11.12), propõe o fim da missão do Gabinete Integrado das Nações Unidas para a Consolidação da Paz (UNIOGBIS) em 2020 e a reconfiguração do sistema da ONU no país.
O documento relançou o debate quanto à velha questão sobre se a Guiné-Bissau precisa de uma força de manutenção da paz ou se o país já está em condições de caminhar pelos próprios pés, sem golpes de Estado.
O analista guineense Luís Petit diz que compreende a intenção da comunidade internacional de querer deixar o país, mas sugere que se continue a acompanhar a atividade governativa de perto. Petit realça que, se não fosse a presença da UNIOGBIS ou da ECOMIB, a força de interposição da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, já poderia ter havido um golpe de Estado.
Com "a crise que vivemos nos últimos três anos, houve momentos quase que propícios para que houvesse uma situação de intervenção militar, mas não houve, justamente, na minha opinião, porque há uma força de interposição. A atividade da UNIOGBIS também tem sido muito importante para não permitir essa intervenção", afirma.
Missão "precisa terminar, sim"
O consultor guineense Luís Vicente considera que a presença do Gabinete da ONU para a Consolidação da Paz já não faz tanto sentido como no passado.
"Julgo que a paz já está consolidada. Não estamos em guerra, e não vamos agora massacrar-nos com aquilo que é o objetivo para o qual foi criado [o gabinete]. É preciso terminar, sim. A guerra civil terminou", afirma Vicente em entrevista à DW África.
No entanto, as Nações Unidas ainda têm um papel fundamental a desempenhar, segundo este analista: "Hoje em dia, há problemas e guerras intestinas no seio dos partidos, do Governo e da Presidência. Há um desentendimento muito latente. É preciso os guineenses se sentem à mesa e discutam. A ONU pode dar um contributo muito grande neste processo de aproximação."
Fim de missão da ONU na Guiné-Bissau é boa ideia?
E eleições?
Apesar de, desde o fim do conflito político-militar em 1999, não ter havido "violência generalizada" no país, o relatório divulgado pela ONU considera que a Guiné-Bissau se tem "mantido submersa num estado de instabilidade política crónica que poderá tornar-se mais volátil durante as eleições".
Luís Vicente não vê, no entanto, motivos para que tanto a UNIOGBIS, como a ECOMIB sejam considerados elementos dissuasores para possíveis sabotagens do processo eleitoral, contrariamente ao que sustenta o relatório.
O também gestor guineense acredita que os guineenses podem resolver os seus problemas. Segundo Vicente, a comunidade internacional poderia continuar a ajudar o país, na base do diálogo e do confronto de ideias. Vicente sugere que a ONU na Guiné-Bissau redirecione a sua atuação e se foque na ajuda técnica e diplomática e não tanto no apoio político, como faz atualmente.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.