Fim de semana de protestos em Angola
24 de novembro de 2014O protesto convocado para sábado (22.11) envolvia dez movimentos reunidos no autodenominando Conselho Nacional dos Ativistas de Angola, que, além de críticas à política do executivo, exigiam a demissão do Presidente da República, José Eduardo dos Santos. A manifestação estava agendada para o Largo 1.º de Maio, mas o acesso ao espaço foi vedado pelas autoridades.
Os revolucionários dividiram-se em dois grupos. Uns concentraram-se no Largo da Independência, espaço habitual dos protestos, enquanto os outros tentavam marcar presença frente ao Palácio Presidencial.
De acordo com a organização, cerca de 15 jovens terão sido detidos durante o dia e dez foram feridos pela polícia. O cenário repetiu-se no domingo, quando os manifestantes tentaram voltar a realizar o protesto.
Segundo Adolfo Campos, do Movimento Revolucionário, uma das organizações presentes, entre os agressores estavam também militantes da Juventude do Movimento Popular de Libertação de Angola (JMPLA). “Os próprios jovens da JMPLA também foram coniventes com essa tortura” e “criaram uma confusão tremenda”, acusou.
Quem também não escapou à agressividade dos anti-revolucionários foi o repórter da Rádio Despertar Francisco Paulo, que foi chicoteado da polícia quando tentava entrevistar os ativistas. “Quando me aproximei para relatar os factos, fui agarrado por um agente da polícia, que me pegou pela cintura e me fez uma rasteira. E daí outros colegas foram aproveitando para me bater com porretes”, contou o jornalista.
Marcha recorda morte de Ganga
O primeiro aniversário da morte de Manuel Hilberto Ganga, dirigente da coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE) morto no ano passado, também foi assinalado este domingo (23.11), em Luanda, com uma marcha que decorreu sem incidentes conhecidos.
Escoltada por elementos policiais, a marcha envolveu várias dezenas de pessoas, entre dirigentes políticos, ativistas e população, e culminou no cemitério de Santana, arredores da capital angolana.
A 23 de novembro de 2013, Manuel Hilberto de Carvalho Ganga foi abatido com dois tiros disparados por um elemento da Unidade da Guarda Presidencial (UGP) quando tentava distribuir panfletos nas ruas de Luanda. O engenheiro de construção civil foi morto em consequência do seu ativismo pelos direitos humanos.
Um ano depois deste assassinato, a mãe do dirigente, Maria José Vitorino de Carvalho, a irmã e a CASA-CE continuam a clamar por justiça e exigem o fim da impunidade do assassino, como forma de sobretudo honrarem a memória de Manuel Ganga.
O processo não foi encerrado, explicou à DW África Rafael Aguiar, secretário da Juventude Patriótica de Angola (JPA). “O caso está bem encaminhado e o autor material (do crime) foi identificado e gerou-se um mandato de captura, que até agora não foi ainda executado”, revelou.
Não aos assassinatos políticos
Para além do aspeto jurídico, a CASA-CE, enquanto partido político na oposição em Angola, tem também desenvolvido outras ações. “Continuamos a realizar atos no sentido de apelar às autoridades angolanas a porem fim à estratégia de assassinatos políticos como forma de manutenção do poder”, afirma Rafael Aguiar.
Durante o mês de novembro, a CASA-CE está também a distribuir, em Luanda, desdobráveis onde consta a biografia de Manuel Ganga, as circunstâncias em que foi morto e um apelo às autoridades angolanas para que cessem com os assassinatos. Embora reconheçam que as instituições judiciais deram “um passo significativo”, continuam também a exigir o fim da impunidade.
Para o secretário da JPA, a sociedade civil angolana já não pode suportar situações como as que têm acontecido em Angola. Por isso, defende, chegou o momento de dizer basta a tudo isso. “O assassinato de Hilberto Ganga e de outros jovens tem tido um efeito perverso no seio da sociedade angolana”, refere.
Segundo Rafael Aguiar, “o objetivo dos assassinatos é causar intimidação, alienar a sociedade e evitar que todos os processos que visam a realização da mudança social sejam recalcados.” No entanto, acrescenta, o que tem estado a ocorrer é precisamente o contrário. “Temos estado a apelar que não podemos ter a cultura do medo perante este atos porque não se pode fazer da eliminação física de indivíduos o principal instrumento e estratégia para a manutenção do poder político.”
Manifestação fotográfica online
Entretanto, a pedido da mãe de Manuel Ganga, o Maka Angola e o Club-K promovem atualmente uma manifestação fotográfica na Internet em memória do dirigente.
Os cidadãos que queiram expressar a sua solidariedade para com os familiares da vítima podem enviar fotos de cartazes alusivos a Manuel Ganga para o endereço: info@makaangola.org
“As autoridades angolanas perseguem, torturam e matam impunemente, mas não poderão torturar ou fuzilar as fotografias desta manifestação, nem sequer queimá-las – vamos portanto promover uma manifestação inatacável”, escrevem o Maka Angola e o Club-K.