FLEC quer negociar futuro de Cabinda com novo governo mas boicota eleições em Angola
13 de agosto de 2012 A FLEC deseja negociar o futuro do território com o governo que sair das eleições gerais do próximo dia 31 de agosto, segundo um comunicado divulgado, recentemente, pelos independentistas.
A organização, que mantém há 38 anos uma luta de libertação do enclave, tomará as medidas necessárias para realizar contatos oficiais e diretos com o próximo executivo angolano.
Em entrevista exclusiva à DW África, José Jacqueman, membro da Comissão Política da FLEC, garante que “os cabindas sempre estiveram prontos para negociar, mas [desde que sejam] negociações com algumas condições, [com] um diálogo franco, honesto e inclusivo para o fim da guerra e a resolução final do conflito em Cabinda. Não como o Presidente José Eduardo dos Santos faz, conversar com «cabindas camuflados»”.
Boicote eleitoral é instrumento de pressão
Relativamente à campanha eleitoral em curso no território, José Jacqueman considera que as eleições angolanas são uma questão de interesse exclusivo e principal dos cidadãos do território angolano, excluindo o enclave.
O responsável político da FLEC é da opinião que “são eleições em Angola e portanto os cabindas não têm nada que ver. Por isso, já apelamos ao nosso povo para não votar no pleito. Essas eleições serão boicotadas totalmente pelos cabindas e será também uma resposta às eleições anteriores, nas quais somente entre 7 a 12% dos cabindas votaram. A nossa mensagem já foi ouvida dentro e fora do território de Cabinda e será seguida a 100%”, sustenta.
Para o dirigente da FLEC, o boicote nas eleições gerais será uma forma de pressionar Luanda a aceitar o quanto antes as negociações sobre o futuro da região. Segundo José Jacqueman, “atualmente, o Presidente José Eduardo dos Santos nem quer ouvir falar do assunto, ignora a questão de Cabinda e não quer que a situação evolua de forma positiva. Mas ele deveria refletir sobre o que se passa no mundo atualmente” e, nesse sentido, “chegou altura de decidir negociar com os cabindas”, defende o político.
Oposição apoia autonomia de Cabinda
Isaías Samakuva, líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), considerado o maior partido da oposição angolana, anuncia a autonomia da região, caso seja eleito nas próximas eleições para formar governo.
Já o Partido de Renovação Social (PRS), no seu manifesto eleitoral, defende para Angola um governo baseado no federalismo, com o objetivo de garantir aos angolanos uma "distribuição justa das receitas" do país.
Face a estas duas posições, a FLEC responde, considerando que na “nossa ótica, a autonomia nunca foi uma opção. A nossa posição é a autodeterminação de Cabinda ou a independência total, pura e simplesmente”, defente José Jacqueman.
FLEC está em conversações com a ONU
O membro da comissão política da FLEC defende a participação de todos os partidos políticos angolanos nas negociações sobre o futuro de Cabinda, pois, justifica, "é assim a democracia e é assim o desejo da comunidade internacional".
A propósito da comunidade internacional, o responsável da FLEC sublinhou que os contactos avançam. Segundo José Jacqueman “começamos a negociar com as Nações Unidas e penso que a comunidade internacional está disponível para nos ajudar, desde que essas negociações sejam realizadas, em primeiro lugar, com os angolanos. Nos nossos contatos temos informado os nossos interlocutores do sofrimento inimaginável que o povo de Cabinda enfrenta por parte do ocupante angolano”, refere.
Para o membro da comissão política dos independentistas, a situação da região é inaceitável num país com muita riqueza: “deploramos a miséria em que vivem os cabindas, com carências a todos os níveis, como na saúde, educação, infraestruturas. É inaceitável este sofrimento. Se o país fosse pobre até poderíamos compreender, mas aqui não é o caso”, contesta.
Ainda a nível da situação no enclave e questionado sobre algumas deserções ocorridas nas fileiras da guerrilha, José Jacqueman defende que “faz parte da natureza humana que, muitas vezes, se veja somente os interesses pessoais. Mas apesar desta situação, o espírito de resistência da FLEC continua, tal como a luta no terreno, porque se trata de uma luta de libertação e não de terrorismo como alguns pensam". O dirigente político remata, afirmando que "a questão das deserções está ultrapassada. Cada um é livre pelo que faz contra o seu país ou a favor do seu país”.
Autor: António Rocha
Edição: Glória Sousa / Nádia Issufo