FMI: economias moçambicana e angolana em queda este ano
Lusa
4 de outubro de 2016
Relatório esta terça-feira aponta queda no crescimento de Moçambique e Angola. Crise político-militar moçambicana e, no caso angolano, redução do preço do petróleo estariam relacionadas à depreciação das economias.
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As economias moçambicana e angolada deverão fechar o ano em forte baixa, segundo relatório divulgado esta terça-feira (04.10.) pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O World Economic Outlook aponta que Moçambique tem uma previsão de crescimento de 4,5%, enquanto que Angola deverá permanecer estagnada até o final de 2016.
De acordo com analistas, estes países são prejudicados, principalmente, pelos conflitos políticos-militares, no caso de Moçambique, e pela crise no setor do petróleo, que derrubou o preço dos barris e vem afetando a economia angolana.
Moçambique
Segundo o World Economic Outlook, a economia de Moçambique deverá ter um ligeiro crescimento nos próximos anos, acelerando para 5,5% no próximo e para 6,8% em 2021.
Ainda de acordo com o relatório do FMI, estas previsões de crescimento representam uma degradação face à previsão de maio deste ano, quando os analistas do Fundo antecipavam uma expansão económica de 6% este ano e de 6,8% em 2017.
Segundo a agência de notícias Lusa, o relatório não apresenta as razões para esta deterioração nas estimativas de crescimento económico, mas a generalidade dos analistas e o próprio Governo tem apontado a descida do preço das matérias primas, a crise da dívida escondida, a suspensão das doações internacionais e fatores internos como a crise político-militar e as perturbações na produção agrícola como razões para o forte abrandamento no crescimento da economia moçambicana.
Dívidas ocultas
A cooperação entre as autoridades moçambicanas e o FMI e o Banco Mundial deteriorou-se em abril, na sequência da descoberta de dívidas superiores a mil milhões de euros que o anterior Governo contraiu entre 2013 e 2014 à revelia da Assembleia da República e das instituições financeiras internacionais.
Na sequência da revelação dos empréstimos, o FMI suspendeu o pagamento de um empréstimo de mais de 150 milhões de euros para Moçambique e exige a realização de uma auditoria forense para o reatamento da cooperação financeira.
As três principais agências de notação financeira desceram o 'rating' do país, tornando mais difícil o acesso aos mercados, que no verão chegaram a cobrar juros de quase 20% pelas transações de títulos de dívida soberana.
Economia angolana
No caso angolano, o FMI, que irá a Luanda na segunda quinzena deste mês, reviu em forte baixa a previsão de crescimento do país. A instituição espera uma estagnação durante este ano e uma expansão em 2017, que deve chegar a 1,5%.
"Angola está, como a Nigéria e a África do Sul, a adaptar-se à forte queda nas receitas das exportações de petróleo, não deverá crescer este ano e vai ter um débil crescimento no próximo ano", lê-se no relatório divulgado hoje em Washington.
Segundo as projeções dos economistas do FMI, Angola deverá, em 2021, registar um nível de crescimento de sensivelmente um terço face à média entre 1998 e 2007, anos em que cresceu 10,3% ao ano, em média.
Queda no crescimento
No fim de setembro, a agência de notação financeira Fitch divulgou no fim de setembro relatório que rebaixava a previsão de crescimento da economia angolana para zero até o final deste ano. A redução contrasta com a meta estipulada em 2015, que foi de 3,3%.
Ainda segundo a agência de notícias Lusa, a atualização das previsões de crescimento surge menos de um mês depois de a Economist Intelligence Unit (EIU) ter reportado uma baixa expetativa de crescimento de Angola para este ano, que seria de apenas 0,6%, cerca de metade das previsões governamentais.
Devido à quebra das receitas com a exportação do petróleo no primeiro semestre, o Governo apresentou ao parlamento uma proposta de revisão do Orçamento de 2016, cortando a previsão do preço médio do barril de crude exportado em 2016 de 45 para 41 dólares. Com isto, o crescimento da economia desce dos 3,3% iniciais, face a 2015, para 1,1%, e a inflação, devido à crise cambial, dispara de 11 para 38,5%, segundo os cálculos do Executivo.
O relatório do FMI prevê que a economia mundial deverá crescer 3,1% este ano, segundo as projeções do FMI, que antecipa uma aceleração do crescimento em 2017, para os 3,4%, uma revisão em baixa de 0,1 ponto percentual em cada ano.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
Foto: DW/R. Krieger
Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".