Moçambique deve criar reservas monetárias para calamidades
Lusa
21 de maio de 2019
Fundo Monetário Internacional sugere a criação de reservas para responder a calamidades em Moçambique, num momento em que reviu em baixa o crescimento económico para 2019 devido aos dois ciclones que afetaram o país.
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"É importante que o país crie reservas para poder ter independência e capacidade para fazer face a este tipo de choques", disse o representante do FMI em Moçambique, Ari Aisen, durante a apresentação do último relatório da instituição sobre as perspetivas económicas para África Subsaariana em 2019.
O último relatório do FMI prevê que o crescimento da economia moçambicana caia de 3,8% previstos para este ano para 1,8%, devido aos ciclones Idai e Kenneth, que devastaram o país em março e abril.
O setor da agricultura é apontado como um dos mais afetados, tendo sido registada a destruição de um total de 770.866 hectares de culturas diversas no centro e norte do país devido aos dois ciclones, segundo dados oficiais.
"A boa notícia é que nós achamos que teremos uma recuperação forte em 2020 devido as políticas que têm estado a ser implementadas na agricultura", afirmou Ari Aisen.
Crescimento de 6%
Apesar da redução "considerável" nas projeções económicas deste ano, em 2020 o FMI prevê que Moçambique atinja um crescimento de 6%. O FMI antevê depois taxas de crescimento de 4% em 2021 e 2022, previsões que sobem para 9,2% em 2023 e 11,5% em 2024 graças à exploração de gás natural.
Ciclone Idai estragou a safra de 2019
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Ou seja, a riqueza produzida por Moçambique deverá chegar este ano a 15.100 milhões de dólares (pouco mais que o Produto Interno Bruto do Alentejo português), mas daqui por cinco anos prevê-se que seja dois terços maior: 24.200 milhões de dólares (21,6 milhões de euros).
O FMI prevê ainda que a inflação seja mais alta que o previsto este ano (8,5% em vez de 5,5%) devido ao "choque provocado pelo ciclone Idai na disponibilidade de alimentos na região da Beira, que representa cerca de um quinto do Índice de Preços do Consumidor".
A dívida pública moçambicana, por sua vez, continua no nível de 'distress', ou seja, acima dos valores máximos prudenciais, mas com uma perspetiva "sustentável". Estima-se que a dívida do setor público no final de 2018 tenha chegado a 110,5% do Produto Interno Bruto (PIB), mais 0,1 que em 2017, evoluindo para 117% em 2019 e 111,4% em 2020, sobretudo devido aos encargos do Estado ao entrar como sócio nos consórcios de petrolíferas internacionais que vão explorar o gás natural.
As previsões foram divulgadas na sexta-feira, a propósito da concessão de um financiamento de 118 milhões de dólares (105 milhões de euros) a Moçambique, livre de juros, anunciado em abril, para permitir ao país enfrentar os efeitos do ciclone Idai.
Os ciclones que afetaram o país mataram 603 pessoas em províncias do centro de Moçambique e outras 45 em Cabo Delgado, no norte, tendo deixado um rasto de destruição em vilas e cidades destas regiões.
Moçambique pede ajuda para reconstrução e resiliência
O Governo moçambicano precisa de 2,8 mil milhões de euros para reconstruir zonas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth. Conferência de doadores arranca a 31 maio na Beira. Setor social e infraestruturas são prioridades.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
2,8 mil milhões de euros para reconstruir o país
Para reconstruir as áreas afetadas pelos ciclones Idai e Kenneth, o Governo moçambicano precisa de 3,2 mil milhões de dólares (2,8 mil milhões de euros). É esse montante que o Executivo vai pedir aos doadores internacionais, na conferência que terá lugar entre 31 de maio e 1 de junho, na cidade da Beira, a mais atingida pelo Idai.
Foto: picture-alliance/AP Photo/T. Mukwazhi
Infraestruturas e setor social são prioridades
Segundo o Executivo, o dinheiro angariado servirá para responder às necessidades dos setores social, produtivo e infraestruturas. A maioria fatia será canalizada para a reconstrução no centro de Moçambique, devastada em março pelo ciclone Idai. A verba restante será usada para colmatar os prejuízos causados pelo ciclone Kenneth, em abril, na região norte.
Foto: picture-alliance/AP Photo/D. Onyodi
Conferência de doadores na Beira
É esperada a presença de mais de 700 participantes no encontro da Beira. A autarquia vai apresentar aos doadores um orçamento de 890 milhões de dólares (795 milhões de euros) para financiar o Plano de Reconstrução e Resiliência. Quando apresentou o plano, o edil Daviz Simango alertou para a necessidade de melhorar as redes de comunicação, energia e estradas, severamente afetados durante o ciclone.
Foto: DW/A. Sebastião
Plano de Reconstrução e Resiliência
"O município, por si só, não tem capacidade para custear a reconstrução" da Beira, disse o autarca Daviz Simango durante a apresentação do Plano de Reconstrução e Resiliência. A maior fatia das verbas será destinada à habitação (246 milhões de euros), seguindo-se o setor económico e negócios (181 milhões de euros) e drenagem (173,6 milhões de euros).
Foto: DW/A. Kriesch
Proteção costeira também é prioridade
Para a reconstrução de infraestruturas de proteção costeira, o município da Beira vai precisar de 81 milhões de euros. Os planos passam pela construção de esporões e de um muro com mais de 10 quilómetros. Para o saneamento estão previstos 43,8 milhões de euros, para as infraestruturas rodoviárias outros 33 milhões de euros e para os edifícios públicos 10,7 milhões de euros.
Foto: DW/A. Kriesch
"Infraestruturas resilientes" para evitar inundações
Para Daviz Simango, o grande desafio na cidade da Beira é criar "infraestruturas resilientes" que estejam preparadas para ventos fortes ou inundações. "Temos de nos adaptar às várias mudanças climáticas", diz o edil. O banco alemão para o desenvolvimento KfW financia, desde 2016, um projeto para evitar inundações durante o período de chuvas fortes e marés altas.
Foto: DW/A. Kriesch
Ajuda para 1,85 milhões de pessoas
Segundo os números mais recentes da ONU, ainda há 1,85 milhões de pessoas a precisar de ajuda em Moçambique. Até 30 de abril, ainda só tinham sido angariados 22% dos 3,1 milhões de dólares que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) necessita para financiar a sua operação em Moçambique. Faltam recursos para assegurar apoio básico e instalações para os deslocados internos.
Foto: DW/M. Mueia
Preocupações e riscos
O ACNUR está preocupado com a integridade física dos deslocados instalados em centros de acolhimento temporários. Além de problemas de sobrelotação, a agência da ONU para os refugiados também tem alertado para problemas na organização e distribuição de ajuda humanitária, que representam "riscos de discriminação e abusos", sobretudo em casos de crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiência.
Foto: DW/M. Mueia
Idai e Kenneth em números
O ciclone Idai que atingiu o centro de Moçambique em março provocou 603 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões de pessoas, além de ter originado 146 mil deslocados internos. O ciclone Kenneth, que se abateu sobre o norte do país em abril, matou 45 pessoas e afetou 250.000 pessoas.