Fundo Monetário Internacional anunciou a retoma do programa de assistência técnica e financeira com a Guiné-Bissau após o Governo ter cumprido com as directrizes acordadas.
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Em conferência de imprensa conjunta (02.12.) com o representante do FMI em Bissau, Óscar Melhado, o ministro guineense das Finanças anunciou "com alegria" o reatar da cooperação com a instituição financeira mundial, suspensa no passado mês de junho.
Já em setembro último, o Governo da Guiné-Bissau considerava que a retoma do apoio do FMI seria "um balão de oxigénio muito forte" que o país esperava agarrar em dezembro. "Seria um balão de oxigénio muito forte para o país", por motivar também "a retoma da confiança dos parceiros e dos apoios internacionais" de que a Guiné-Bissau" carece muito", referia na altura Henrique Horta dos Santos, governante guineense.
Recorde-se, que o FMI não gostou de algumas medidas tomadas pelos anteriores governos da Guiné-Bissau, nomeadamente a compra da carteira de créditos malparados do setor privado à banca comercial e ainda o destino que seria dado a toros de madeira cortada nas florestas do país e que foram confiscados pelo Estado.
FMI faz exigências
A instituição internacional exigiu a anulação da operação da compra da divida aos bancos e ainda instou o Governo a vender a totalidade da madeira confiscada e reverter o dinheiro daí resultante para o Tesouro Público.Condicionou a retoma de qualquer assistência ao Governo após a observância das duas medidas bem como o desembolso de um empréstimo de 7,1 milhões de dólares. O desembolso vai acontecer nos próximos dias, anunciou o representante do FMI em Bissau.
Óscar Melhado confirma o cumprimento das duas medidas e o ministro das Finanças guineense diz que o país deve se orgulhar da resposta que acabou por dar às exigências do FMI, mas alertou para a necessidade de prosseguir com o rigor para evitar novas derrapagens das finanças públicas.
"O país está de parabéns e está decidido a lançar-se no desafio", de odatar medidas de rigor nas contas públicas, enfatizou Henrique dos Santos, para quem a Guiné-Bissau ganhou "um voto de confiança" do FMI que irá capitalizar junto dos demais parceiros de cooperação.
Previsão de crescimento económico a rondar 5% Estudos nomeadamente do FMI apontam que a Guiné-Bissau deverá registar um crescimento económico a rondar 5% no ano que está prestes a terminar.
"Espera-se que o rendimento da campanha de caju", fruto seco que é a principal exportação guineense, "aumente em 2016 e que o crescimento económico se cifre perto dos 5%", de acordo com o FMI.
Apesar do aprofundamento da crise política, os números estão em linha com a previsão do Fundo Monetário Internacional feita em abril, quando anunciou que a economia guineense tinha crescido 4,8% em 2015 e que devia manter o mesmo caminho este ano.
Sumos, bolachas e até "bifes" para diversificar rendimento do caju
O caju é a principal fonte de rendimento dos produtores guineenses. A fim de estimular a economia, os produtores de Ingoré uniram-se na cooperativa Buwondena, onde produzem sumo, bolachas e até "bife" de caju.
Foto: Gilberto Fontes
O fruto da economia
Sendo um dos símbolos da Guiné-Bissau, o caju é a principal fonte de receita dos camponeses. A castanha de caju representa cerca de 90% das exportações do país. Este ano, foram exportadas 200 toneladas de castanha de caju, um encaixe de mais de 250 mil euros. A Índia é o principal comprador. O caju poderá trazer ainda mais riqueza ao país, se houver maior aposta no processamento local do produto.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no processamento
Em Ingoré, no norte da Guiné-Bissau, produtores de caju uniram-se na cooperativa Buwondena - juntamos, em dialeto local balanta - para apostar no processamento do caju. Antes, aproveitava-se apenas a castanha, desperdiçando o chamado pedúnculo, que representa cerca de 80% do fruto. Na cooperativa produzem-se agora vários produtos derivados do caju.
Foto: Gilberto Fontes
“Bife” de caju
Depois de devidamente preparado, o pedúnculo, que é a parte mais fibrosa do caju, pode ser cozinhado com cebola, alho e vários temperos. O resultado final é o chamado “bife” de caju.
A partir das fibras, produz-se também chá, mel, geleia, bolacha, entre outros. Ao desenvolverem novos produtos, os produtores diversificam a dieta e aumentam os seus rendimentos.
Foto: Gilberto Fontes
Néctar de caju
Depois de prensadas as fibras do caju, obtém-se um suco que é filtrado várias vezes, a fim de se produzir néctar e sumo. Com 50% desse suco e 50% de água com açúcar diluído, obtem-se o néctar de caju. Este ano, a cooperativa Buwondena produziu quase 400 litros desta bebida.
Foto: Gilberto Fontes
Sumo de caju
O sumo resulta da pasteurização do suco que foi filtrado do fruto, sem qualquer adicionante. Cada garrafa destas de 33cl de sumo de caju custa quase 0.40€. Ou seja, um litro de sumo pode render até 1.20€. O que é bem mais rentável que vinho de caju, produzido vulgarmente na Guiné-Bissau, que custa apenas 0.15€ o litro. Em 2016, foram produzidos na cooperativa quase 600 litros de sumo de caju.
Foto: Gilberto Fontes
Mel de caju
Clode N'dafa é um dos principais especialistas de transformação de fruta da cooperativa. Sabe de cor todas as receitas da cooperativa e só ele faz alguns produtos, como o mel. Mas devido à falta de recipientes, este produziu-se pouco mel de caju. Desde que se começou a dedicar ao processamento de fruta, Clode N'dafa conseguiu aumentar os seus rendimentos e melhorar a vida da sua família.
Foto: Gilberto Fontes
Castanha de caju
Este continua a ser o produto mais vendido pela cooperativa. O processamento passa por várias etapas: seleção das melhores castanhas, que depois vão a cozer, passam à secagem, ao corte e vão à estufa. As castanhas partidas são aproveitadas para a produção de bolacha de caju. Este ano, a cooperativa conseguiu fixar preço da castanha de caju em 1€ o quilo, protegendo os rendimentos dos produtores.
Foto: Gilberto Fontes
Potencial para aumentar produção
A maior parte dos produtos são vendidos localmente, mas alguns são comercializados também em Bissau e exportados para o Senegal. A produção decorre sobretudo entre os meses de março e junho, período da campanha do caju. No pico de produção, chegam a trabalhar cerca de 60 pessoas. Se a cooperativa conseguisse uma arca frigorífica para armazenar o caju, continuaria a produção depois da campanha.
Foto: Gilberto Fontes
Aposta no empreendedorismo
A cooperativa Buwondena aposta na formação a nível de empreendedorismo, para que os produtores possam aumentar o potencial do seu negócio. A cooperativa pretende criar uma caixa de poupança e crédito. O objetivo é que, através de juros, os produtores possam rentabilizar as suas poupanças e apostar noutros negócios.
Foto: Gilberto Fontes
É urgente reordenar as plantações
A plantação de cajueiros é outra das preocupações da cooperativa: uma plantação organizada, com ventilação é fundamental para aumentar a rentabilidade.
Devido ao peso do sector do caju na economia da Guiné-Bissau, todos os anos são destruídos entre 30 e 80 mil hectares de floresta para a plantação de cajueiros. Especialistas defendem uma reordenação urgente das plantações.