Após dias de incêndios na Amazónia, o Brasil começa a perceber os impactos económicos desta crise: acordos comerciais com países europeus podem ser suspensos. Governo brasileiro vai enviar exército para combater o fogo.
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Com receio de ver o Brasil sofrer sanções comerciais e ter a sua imagem ainda mais prejudicada no cenário internacional, o Presidente Jair Bolsonaro assinou esta sexta-feira (23.08) um decreto, no qual autoriza o uso das Forças Armadas na Amazónia por um mês, numa tentativa de resolver o problema. No mesmo dia, milhares de pessoas em diferentes cidades brasileiras manifestaram-se contra as políticas ambientais do Governo.
O posicionamento do Presidente do Brasil veio depois da pressão internacional, com países europeus a ameaçar a suspensão de um acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não respeitar compromissos ambientais assumidos diante da comunidade internacional na última cimeira do G20, em junho, no Japão.
A proposta de suspensão partiu do Presidente francês, Emmanuel Macron, que acusou Jair Bolsonaro de mentir em relação às suas políticas ambientais. Países como a Irlanda também apoiaram Macron, enquanto a Alemanha disse que a suspensão do acordo não ajudaria a combater os fogos na Amazónia. Entretanto, a questão será discutida a partir deste sábado na cimeira do G7, em França.
Crise Internacional
O debate sobre os incêndios na Amazónia foi proposto pelo Presidente francês numa postagem no seu perfil no Twitter, na qual classificou o problema como uma "crise internacional".
"A nossa casa está a queimar. Literalmente. A floresta amazónica - os pulmões que produzem 20% do oxigénio do nosso planeta - está em chamas. É uma crise internacional. Membros da cimeira do G7, vamos discutir esta emergência de primeira ordem em dois dias", escreveu Macron na quinta-feira.
No mesmo dia, Jair Bolsonaro apresentou o seu ponto de vista, criticando a repercussão internacional sobre os fogos no norte do Brasil. Numa transmissão em direto no Twitter, o Presidente brasileiro defendeu que a comunidade internacional está preocupada porque tem interesses na região.
"Nós temos de buscar equilibrar essa narrativa sobre essa região tão rica em tudo, não é? Em minérios, em biodiversidade, em água potável, em riquezas energéticas. É isso que o mundo tá de olho", afirmou Bolsonaro.
O tamanho da destruição
O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta. Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro anunciou que a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018. Pesquisadores apontam a expansão do agronegócio como uma das causas deste problema.
Responsáveis pelos fogos
Entretanto, mesmo afirmando que os dados do INPE são mentirosos, o Presidente Jair Bolsonaro já reconheceu o crescimento da desflorestação, conforme dito na sua última transmissão em direto nas redes sociais, na quinta-feira (22.08).
Mas, para Bolsonaro, as causas dos incêndios seriam criminosas e as organizações não-governamentais internacionais de proteção do meio ambiente seriam as prováveis responsáveis pelo problema, mesmo não havendo provas.
Por seu turno, o secretário-geral da Amnistia Internacional (AI) responsabilizou na quinta-feira o Presidente do Brasil pelos fogos que grassam na Amazónia, por permitir a desflorestação de parte deste território e pela inação face a ilegalidades.
"A responsabilidade de parar estes fogos que têm atingido a floresta da Amazónia é do Presidente Bolsonaro e do seu Governo", escreveu Kumi Naidoo numa nota à imprensa, na qual aponta que o Brasil "tem de mudar a sua desastrosa política de permissão de desflorestação, que é o que abriu caminho a esta crise".
Já este ano a Amnistia Internacional visitou o território, "documentando invasões terrestres ilegais e ateamento de fogos perto de territórios indígenas na Amazónia, incluindo na Rondônia, onde muitos dos fogos se concentram", acrescenta-se no texto da organização não-governamental.
Tolerância zero
Não só ambientalistas de todo o mundo esperam uma política de tolerância zero contra o desflorestamento, mas até mesmo os próprios eleitores de Bolsonaro parecem esperar o mesmo. É o que mostrou a pesquisa "Percepções da Amazónia", realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) a pedido da organização não-governamental Avaaz - que ouviu mil pessoas pelo país, entre os dias 14 e 16 de agosto.
Os resultados mostram que, por exemplo, 96% dos entrevistados concordam total ou parcialmente que "o Presidente e o Governo Federal devem aumentar as medidas de fiscalização para impedir o desmatamento ilegal na Amazónia". O mesmo resultado foi verificado entre os entrevistados que declararam ter votado em Bolsonaro na segunda volta das últimas presidenciais.
17 objetivos para o futuro
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas almejam criar um mundo mais justo até 2030, protegendo o meio ambiente e eliminando a fome e a pobreza. O plano foi adotado numa cimeira da ONU.
Foto: Emmanuel Dunand/AFP/Getty Images
1º objetivo: um mundo sem pobreza
Até 2030, nenhuma pessoa deverá mais ter que viver em extrema pobreza. A comunidade internacional pretende assim ir mais longe do que com os Objetivos do Milénio, que previam apenas cortar para metade até 2015 o número de pessoas que vive na miséria. A definição da Organização das Nações Unidas (ONU) para "extrema pobreza" é ter que subsistir com o equivalente a menos de cerca de um euro por dia.
Foto: Daniel Garcia/AFP/Getty Images
2º objetivo: um mundo sem fome
Atualmente, mais de 800 milhões de pessoas não têm suficiente para comer, diz a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Até 2030, mais nenhuma pessoa deverá sofrer de subnutrição. Para conseguir o objetivo, será promovida a agricultura sustentável e fomentados os pequenos agricultores e o desenvolvimento rural.
Foto: picture-alliance/dpa
3º objetivo: saúde em todo o mundo
Anualmente morrem em todo o mundo 6,6 milhões de crianças com menos de cinco anos. E todos os anos morrem 500 mil mulheres durante a gravidez ou o parto. A mortalidade infantil e materna podia ser evitada com meios simples. Até 2030, todas as pessoas deverão beneficiar de cuidados de saúde preventivos, assim como obter vacinas e medicamentos a preços acessíveis.
Foto: DW/P.Kouparanis
4º objetivo: formação escolar para todos
Seja menina ou menino, rico ou pobre: até 2030, cada criança deverá obter uma formação escolar, que, mais tarde, lhe permita encontrar um emprego. Homens e mulheres deverão ter as mesmas oportunidades de formação, independentemente da sua etnia ou condição social, ou de uma deficiência física.
Foto: DW/S. Bogdanic
5º objetivo: a igualdade de géneros
As mulheres deverão ter as mesmas possibilidades que os homens de participar na vida pública e política. A violência e o casamento forçado serão relegados à história. E as mulheres de todo o mundo deverão passar a ter acesso livre a contracetivos e planeamento familiar. Este objetivo é criticado por alguns representantes religiosos.
Foto: Behrouz Mehri/AFP/Getty Images
6º objetivo: água como direito humano
A água é um direito humano. Não obstante, 770 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e mil milhões de pessoas não têm acesso a sistemas sanitários, segundo a ONU. Até 2030, todas as pessoas deverão poder aceder a água potável e sistemas sanitários a preços módicos. A água deverá ser consumida de forma sustentável e os ecossistemas protegidos.
Foto: DW/B. Darame
7º objetivo: energia para todos
Até 2030, todas as pessoas deverão ter acesso a eletricidade e energia, de preferência de fontes renováveis. A taxa mundial de eficiência energética deverá ser duplicada e a infraestrutura alargada, sobretudo nos países mais pobres. Atualmente, cerca de 1,3 mil milhões de pessoas não têm eletricidade.
Foto: Fotolia/RRF
8º objetivo: condições de trabalho justas para todos
Condições de trabalho justas e sociais em todo o mundo, oportunidades de emprego para os jovens e uma economia global sustentável: o oitavo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) aplica-se a países industrializados e em vias de desenvolvimento e inclui a eliminação do trabalho infantil e o respeito pelas normas de trabalho da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Foto: GIZ
9º objetivo: infraestruturas sustentáveis
O desenvolvimento económico do qual todos possam beneficiar deverá ser fomentado através da melhoria das infraestruturas. A industrialização deve fazer-se de forma ecológica e sustentável, garantindo que crie mais e melhor emprego e fomente a inovação, de modo a contribuir para a justiça social.
Foto: imago/imagebroker
10º objetivo: uma distribuição equitativa
Segundo a ONU, mais de metade do crescimento económico global beneficia apenas 1% da população mundial. O fosso entre pobres e ricos é cada vez mais fundo. Por isso, a política internacional de desenvolvimento deverá ajudar sobretudo a metade mais pobre da população e os países mais pobres do mundo.
Foto: picture-alliance/dpa
11º objetivo: cidades nas quais se possa viver
Nos centros urbanos deverão ser construídos apartamentos e casas a preços acessíveis, assim como espaços verdes ecológicos. Os países em vias de desenvolvimento receberão apoio para tornar as cidades resistentes a catástrofes naturais causadas pelas alterações climáticas.
Foto: picture alliance/blickwinkel
12º: consumo e produção sustentáveis
Todo o mundo é responsável pela reciclagem, a reutilização de recursos e a diminuição do lixo, sobretudo na produção de alimentos e no consumo. Os recursos devem ser explorados e usados de forma ecológica e socialmente responsável. Os subsídios para as energias fósseis devem ser gradualmente eliminados.
Foto: DW
13º objetivo: combater as alterações climáticas
Hoje já há um consenso global sobre a necessidade de tomar medidas para conter as alterações climáticas. Os países mais ricos deverão ajudar os mais pobres através da transferência de tecnologias e fundos. Ao mesmo tempo deverão reduzir substancialmente as suas próprias emissões.
Foto: AP
14º objetivo: a proteção dos oceanos
Os oceanos estão já à beira do colapso e é necessário agir com rapidez para salvá-los. Até 2020 deverão ser tomadas medidas contra a pesca excessiva, assim como a destruição de zonas costeiras e de ecossistemas marinhos. A poluição dos mares com lixo e adubos só deverá ser significativamente reduzida até 2025.
Foto: imago
15º objetivo: travar a destruição do meio ambiente
Aos países membros da ONU foram concedidos cinco anos para pôr cobro à degradação ambiental maciça das bacias hidrográficas, florestas e biodiversidade. Até 2020, a terra, florestas e fontes de água. A gestão dos recursos naturais deverá ser fundamentalmente alterada.
Foto: picture alliance/dpa
16º objetivo: impor a lei e a justiça
Todas as pessoas têm que ser iguais perante a lei. O terrorismo, crime organizado, violência e corrupção devem ser combatidos com eficácia através das instituições nacionais a cooperação internacional. Até 2030, todas as pessoas terão o direito a uma identidade legal e uma cédula de nascimento.
Foto: imago/Paul von Stroheim
17º objetivo: um futuro solidário
Como já fora estabelecido nos Objetivos do Milénio, os países ricos deverão finalmente contribuir com 0,7% do seu Produto Interno Bruto (PIB) para o desenvolvimento. A Alemanha, por exemplo, atualmente dedica 0,39% do seu PIB à ajuda ao desenvolvimento. Apenas cinco países atingiram a meta estabelecida de 0,7%: Noruega, Dinamarca, Luxemburgo, Suécia e Grã-Bretanha.