Fome diminui, mas Angola e Guiné continuam preocupantes
8 de outubro de 2013As políticas públicas de combate à fome em São Tomé e Príncipe e Cabo Verde foram citadas como bem sucedidas. De facto, estes dois países, pelas suas peculiaridades geográficas, enfrentam diversos desafios para erradicar a fome. Em Cabo Verde, por exemplo, novos diques estão a ser construídos para armazenar as águas da chuva e permitir a irrigação das áreas agrícolas.
O embaixador de Cabo Verde na agência das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), Manuel Amante da Rosa, afirma que falar de fome em Cabo Verde pode ser um "exagero". "Existe fome, mas aquela situação difícil, não", "pois não se vêem pessoas subnutridas como se vêem em outros países", adianta Rosa.
O diplomata caboverdiano diz que o Governo do seu país tem dedicado esforços para garantir o desenvolvimento rural e acredita que depois da temporada de chuvas deste ano no arquipélago "talvez possamos ter boas colheitas".
Na segunda-feira (07.10) mais de 40 ministros da Agricultura reuniram-se, na sede da FAO, no âmbito do Comité Mundial de Segurança Alimentar. De notar as ausências ministeriais da Guiné-Bissau, Angola e Moçambique, embora esses dois últimos países tenham enviado representantes para as rondas de discussão.
5 milhões de angolanos passam fome
De acordo com o relatório sobre a fome no mundo publicado na última semana pela FAO, Angola caminha para o cumprimento das metas de Desenvolvimento do Milénio no que concerne à redução da fome para metade até 2015. Todavia, entre 2011 e 2013, quase 5 milhões de angolanos passaram ou ainda estão a passar fome, ou seja, quase 25% da população. A situação é particularmente drástica nas províncias do sul de Angola, onde a população sente os efeitos da seca que começou em 2011.
Um dos representantes de Angola na FAO, Manuel Nascimento não quis falar para a DW África, no entanto, atribuiu a situação de calamidade aos efeitos naturais.
Na província do Cunene, uma das zonas mais atingidas pela seca, o Governador Provincial, António Didalelwa, já afirmou que se está a atravessar a estiagem mais dura dos últimos 25 anos na região. Em declarações à agência Lusa, o governante angolano disse que a seca está a afetar igualmente, mais de 2 milhões de cabeças de gado e que morrem em média 30 por dia.
Segundo António Didalelwa, a situação tem sido minimizada graças às doações do Governo, de organizações não-governamentais e de pessoas singulares. "Graças a isto, até aqui ainda não morreu ninguém, mas os bois estão a morrer", afirmou. Apesar de insuficiente, António Didalelewa agradece o apoio que têm recebido porque caso contrário a gravidade da situação já teria feito vítimas mortais na província do Cunene.
"As famílias deixaram as suas casas"
Face a esta situação, o Governador explica que as populações locais têm abandonado as suas zonas de residência para escapar à dura estiagem. "É uma situação que nos preocupa bastante, porque as famílias deixaram as suas casas", especialmente os criadores de gado, explica Didalelwa.
A situação está a tornar-se alarmante, o que já levou a UNICEF a lançar um apelo de ajuda ao combate dos efeitos da estiagem em Angola.
Por telefone, A DW África conversou com o vice-diretor da Instituição Católica Caritas, em Luanda, Eusébio Amarante. Ele confirmou que nas províncias sul de Angola, pelo menos 2 milhões de pessoas estão a passar fome.
O Governo pode fazer "muito mais"
"Eu acho que se o Governo se empenhar pode fazer muito mais" reitera. Explica que as organizações humanitárias em Angola definiram como necessidades de primeira-mão "a fuba, o arroz, o oléo, o sabão e a água". Estes são os bens essenciais "para ajudar as pessoas que estão a passar fome nas zonas rurais", explica Eusébio.
Moçambique, por outro lado, segue em situação de estagnação na luta contra a fome. Se o quadro persistir não deve atingir a meta de reduzir a fome para metade até 2015. Segundo a FAO, atualmente 9 milhões de moçambicanos passam fome e isso representa quase 37% da população. Situação que piorou desde o início da recolha dos dados, em 1990.
Procurados pela DW África, a delegação de Moçambique na FAO não se manifestou disponível para falar do assunto. No que diz respeito à Guiné-Bissau, a situação de fome no sul do país relatada pela FAO não pode ser verificada, uma vez que o país não enviou representantes para a reunião do Comité Mundial de Segurança Alimentar, em Roma que acontecerá até ao próximo dia 11 de outubro.