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ONG condena declarações de João Lourenço sobre fome

Borralho Ndomba
16 de dezembro de 2021

ONG Plataforma Sul, um conjunto de organizações da sociedade civil que acampanham a crise alimentar em Angola, considera que Presidente angolano demonstrou falta de compromisso ao afirmar que "a fome é sempre relativa".

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Conferência de imprensa com membros da ONG Plataforma SulFoto: Borralho Ndomba /DW

A organização não-governalmental angolana Plataforma Sul reagiu, numa conferência de imprensa nesta quinta-feira (16.12), à afirmação de João Lourenço em que o mesmo relativizou a fome no país, durante o oitavo congresso do partido no poder.

As declarações de João Lourenço foram feitas nas vestes de presidente do partido Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), um dia após a sua reeleição, no dia 10 de dezembro.

"Os adversários hoje acordam de manhã a cantar uma música. Fome, fome, fome. A fome é sempre relativa", disse o Presidente de Angola.

"O país já tem muita produção de bens alimentares. Talvez por conveniência política lhes convenha repetir insensantemente a palavra fome", acrescentou João Lourenço no Estádio Nacional 11 de Novembro em Luanda.

Para Lourenço o grande problema da população é o poder de compra.

Cesaltina Abreu, pesquisadora Foto: Borralho Ndomba /DW

"Meme" nas redes sociais

Mas as afirmações geraram nova polémica em Angola e tornaram-se "meme" nas redes sociais. Indignada com as palavras o líder do país, a Plataforma Sul afirma, em protesto, que João Lourenço condena a morte os milhões de angolanos que são "vítimas da fome". 

"As palavras proferidas por vossa excelência são um insulto direto a todas famílias que perderam os seus entequeridos por causa da fome", segundo a nota lida pela pesquisadora Cesaltina Abreu, em conferência de imprensa.

"Afinal, desde que a sociedade civil começou o alerta, se o Estado angolano se tivesse posicionado e providenciado a necessária ajuda, com o apoio da comunidade internacional, a maior parte das pessoas não teria perecido", acrescentou.

A ONG lembra o Presidente da República que as cidades do Lubango, Huambo, Benguela e Luanda estão cheias de mendigos e muitos destes são crianças com menos de dez anos. 

Segundo a Plataforma Sul, devido à "insensibilidade" do Executivo de João Lourenço, dezenas de milhares de crianças não estão a frequentar a escola por causa da fome. 

Os ativistas dos direitos humanos ponderam acusar João Lourenço por crime contra humanidade caso não tome posição firme e de Estado sobre a crise alimentar.

Crianças recolhem comida no lixo em Benguela (foto de arquivo)Foto: Daniel Vasconcelos

Crianças vítimas da fome

"A sociedade civil angolana, doravante, irá responsabilizá-lo por toda a morte causada pela fome, e por toda criança com malnutrição severa e crônica, pois o problema de Angola não é a falta de dinheiro, nem recursos, mas sim a negação destes aos que mais precisam", afirmam.    

Um relatório do Ministério da Agricultura e Pescas divulgado em agosto aponta que mais de um milhão de angolanos estão com dificuldades alimentares. 

Os dados, segundo a ONG contrastam, com as declarações do Presidente João Lourenço. Para o diretor executivo da OMUNGA, João Malavindele, trata-se de um problema nacional.

"Não é apenas no sul de Angola"

"Sabemos que quando se fala de fome não é só no sul de Angola. Aqui mesmo, a 100 metros da Cidade Alta, onde o está o Presidente João Lourenço, há pessoas que - se almoçaram - não sabem se vão jantar, ou se terão o pequeno almoço", disse.  

E Malavindele questiona: "Não é vergonhoso saber que milhares de angolanos vão à Namíbia à procura de comida? Eu, no lugar do Presidente João Lourenço, teria pedido já a demissão".

Na província da Huíla a situação é crítica e há registo de muitas mortes, segundo Mensageiro Andrade, ativista da Associação Construindo Comunidades (ACC). 

Mensageiro alerta para os casos de intimidação a cidadãos que denunciam a situação de fome nas comunidades: "O professor que colaborou conosco foi ameaçado. São situações completamente preocupantes". 

É por isso que "apelamos à comunidade de Luanda, para que sejamos mais sensíveis às necessidades dessas pessoas", concluiu.

Eco África: Como garantir a segurança alimentar?

25:00

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