Fome em zonas produtivas é "contradição" que Moçambique quer resolver
19 de outubro de 2012O executivo moçambicano está preocupado com o facto de haver pessoas a passar fome em zonas consideradas produtivas.
Nestas regiões, as crianças estão a ficar malnutridas por não conseguirem aceder aos alimentos, por desconhecerem o seu valor nutricional e por não terem dinheiro para os comprar, como refere Júlia Nhancule, nutricionista no Ministério da Saúde moçambicano:
“Muitos dos alimentos não são consumidos. Eles são comercializados para que haja uma troca de bens, uma aquisição monetária.”
Acabar com a fome passa também por uma maior educação nutricional, diz:
“É preciso uma grande sensibilização nutricional nas comunidades porque os alimentos estão lá presentes. Então, temos que reforçar as estratégias de educação nutricional e dotar as comunidades de conhecimentos sobre a alimentação para inverter este cenário.”
“É uma contradição”
O Programa Mundial de Alimentação, PMA, também está preocupado com as crianças que vivem nas zonas produtivas e que se apresentam malnutridas.
No terreno, há um trabalho das Nações Unidas, do governo e de outros parceiros, que visa procurar soluções para os problemas da má nutrição em regiões onde há muita comida.
“É uma contradição”, diz Lola Castro, diretora-geral do PMA. “Por isso, estamos a trabalhar na área da educação, água e saneamento e na área dos produtos alimentares complementares para melhorar a situação.”
Lola Castro sugere que se reforce a rede comercial nas zonas produtivas, no norte e centro de Moçambique.
Na zona sul do país, que não é uma área produtiva para o cultivo do milho ou feijões, por exemplo, a responsável diz que os camponeses devem praticar a agricultura nas bermas dos rios.
Na região, a produção é baixa e o PMA está a transportar alimentos para as famílias afetadas, em parceria com o governo.
Centro e sul: chuvas abaixo do normal
De acordo com a responsável, uma das razões para que haja muita fome em Moçambique são os efeitos combinados da seca, cheias e ciclones.
Por exemplo, “os ciclones do ano passado (Funso, Dando, entre outros) e as zonas de seca que não tiveram bastante chuva”, diz. No entanto, Lola Castro sublinha que, neste momento, as “pessoas que foram afetadas pelo ciclone já foram assistidas e já tiveram a sua colheita, principalmente na região da Zambézia. Nas zonas áridas e semiáridas já houve alguma chuva, por isso a situação melhorou.”
Neste momento, a previsão de queda de chuva para esta época agrícola mostra que na zona norte haverá chuvas em abundância. No entanto, o mesmo não acontecerá nas zonas centro e sul, onde se prevê chuvas abaixo do normal.
Autor: Romeu da Silva (Maputo)
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha