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Ucrânia "Morre-se de fome em Mariupol": alerta PAM

Lusa | rl
15 de abril de 2022

Várias organizações têm vindo a alertar para os efeitos que a guerra na Ucrânia pode ter no sistema alimentar mundial. ONU desbloqueou 92 milhões de euros para combater a fome em seis países africanos e no Iémen.

Ukraine Krieg | Landwirtschaft in Yakovlivka
Juntas, a Rússia e a Ucrânia produzem 30% da oferta mundial de trigo.Foto: Thomas Peter/REUTERS

Para além do cenário catastrófico na Ucrânia, a guerra está a ter efeitos em cadeia desastrosos noutras partes do mundo, devido ao papel da Ucrânia como principal fornecedor internacional de cereais. Juntas, a Rússia e a Ucrânia produzem 30% da oferta mundial de trigo e exportam cerca de três quartos do óleo de sementes de girassol do mundo. Metade dos cereais que o Programa Alimentar Mundial (PAM) compra para distribuição em todo o mundo procede da Ucrânia.

Neste contexto, o continente africano é um dos mais afetados. Isso mesmo voltou a frisar, esta semana, o diretor-geral da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

"São muitos os desafios que enfrentamos. Há uma guerra a milhares de quilómetros de África, mas cujos efeitos se sentem no continente, afetando os sistemas alimentares, de produção e distribuição", destacou Qu Dongyu, que interveio na sessão de encerramento dos trabalhos da 32.ª Conferência Regional para África da Organização da ONU para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que decorreu, esta semana, em Malabo, capital da Guiné Equatorial.

"Também enfrentamos uma seca na região oriental (de África). Os efeitos da pandemia e da guerra na Ucrânia tiveram impacto na segurança alimentar dos africanos", salientou o diretor-geral da FAO.

A ONU anunciou, entretanto, que desbloqueou 100 milhões de dólares (92,3 milhões de euros) para combater a fome em seis países africanos e no Iémen.

"O conflito ucraniano está a perturbar os mercados de bens alimentares. As consequências do conflito na Ucrânia ameaçam empurrar milhões de pessoas para ainda mais perto da fome", sublinha a organização em comunicado.

ONU desbloqueou 92,3 milhões de euros para combater fome em seis países africanos e no Iémen.Foto: Getty Images/AFP/A. Gonzales Farran

Do montante total, 14 milhões irão para a Somália, 12 milhões para a Etiópia, 4 milhões para o Quénia, 20 milhões para o Sudão, 15 milhões para o Sudão do Sul, 15 milhões para a Nigéria e 20 milhões para o Iémen. O dinheiro permitirá às agências especializadas das Nações Unidas e aos seus parceiros fornecer alimentos essenciais, dinheiro e outros recursos, como serviços médicos, abrigos e água potável, precisa o comunicado da ONU.

"Centenas de milhares de crianças vão para a cama com fome todas as noites, enquanto os seus pais se preocupam sem saber como alimentá-las. Uma guerra do outro lado do mundo torna as suas perspetivas ainda piores", afirmou o secretário-geral-adjunto da ONU para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths.

Recentemente, o secretário-geral da organização já havia instado o mundo a agir para prevenir "um furacão de fome e um colapso do sistema alimentar global".

Moscovo rejeita que a sua "operação militar especial" na Ucrânia, iniciada há 50 dias, a 24 de fevereiro, tenha consequências sobre a fome no mundo.

Ucrânia "Morre-se de fome em Mariupol"

Também esta quinta-feira, o diretor-executivo do Programa Alimentar Mundial alertou que, na Ucrânia, a população da cidade sitiada de Mariupol está "a morrer à fome" e que a crise humanitária no país piorará nas próximas semanas, quando a Rússia intensificar a ofensiva.

Estima-se que mais de 100.000 civis estejam desesperadamente necessitados de comida, água e aquecimento em Mariupol.Foto: Alexander Ermochenko/REUTERS

Em entrevista à agência de notícias norte-americana Associated Press, em Kiev, David Beasley também advertiu de que a invasão russa da Ucrânia, grande exportadora de cereais, corre o risco de destabilizar países distantes e poderá desencadear vagas de migrantes em busca de uma vida melhor noutros lugares.

A guerra que começou a 24 de fevereiro foi "devastadora para o povo da Ucrânia", afirmou, lamentando as dificuldades de acesso com que o PAM e outras organizações humanitárias se confrontaram ao tentarem chegar às populações necessitadas no meio do conflito.

O PAM está a tentar colocar reservas de alimentos em zonas que poderão ser atingidas pelos combates, mas Beasley reconheceu que há "muitas dificuldades" à medida que a situação rapidamente evolui. 

"Não serão só os próximos dias -- as próximas semanas e próximos meses poderão ser ainda mais complicados do que agora está", indicou, acrescentando: "Na verdade, [a situação] está a ficar cada vez pior, concentrada nalgumas áreas, e as linhas da frente ir-se-ão movendo".

O responsável da maior agência humanitária do mundo expressou particular preocupação com a cidade portuária de Mariupol, onde um número cada vez menor de combatentes ucranianos resiste ao cerco do exército russo que deixou encurralados mais de 100.000 civis desesperadamente necessitados de comida, água e aquecimento.

As forças russas que controlam o acesso à cidade não autorizaram a entrada de ajuda humanitária, embora o PAM tenha exigido acesso.

"Não vamos desistir das pessoas de Mariupol e de outras pessoas que não conseguimos alcançar. Mas é uma situação devastadora: as pessoas deixadas a morrer à fome", frisou.

ONU alerta para os efeitos nefastos da guerra

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